Era uma vez um falcão peregrino chamado Ieesitóhikie, conhecido entre os Kariri-Xocó como a "Ave caçadora viajante", da sagrada família das Ieende Itohikiete, As Aves Viajantes.
Ieesitóhikie era veloz como o vento e viajava por todos os continentes do mundo, desde as serras do Nordeste brasileiro até os céus frios da Inglaterra. Só não visitava a Antártida, pois lá o frio calava até o voo.
Certa vez, em um dia claro sobre as terras inglesas, Ieesitóhikie avistou um pequeno ser no chão. Com seus olhos afiados e voo certeiro, mergulhou como uma flecha para capturar o que achava ser mais uma presa.
Mas, para sua surpresa, o inseto pulou tão alto e rápido que escapou de suas garras no último instante!
Ieesitóhikie pousou curioso e perguntou:
— Quem é você, pequeno ser? Nunca ninguém escapou de meu ataque fulminante!
O inseto limpou uma espuminha branca que cobria seu corpo e respondeu com humildade e coragem:
— Sou chamada Froghopper, a campeã dos saltos longos. Também me chamam de Spittlebug, pois produzo essa espuma que me protege. Mas em muitos lugares sou conhecida como Cigarrinha-da-espuma, a saltadora mais ágil do mundo!
O falcão, admirado, bateu as asas com respeito:
— Ah, agora entendo! Se fosse qualquer outro, já estaria em minhas garras. Mas você... você é uma campeã em seu próprio dom.
Então o grande caçador do céu estendeu sua asa e disse:
— Vamos ser amigos. Pois os verdadeiros campeões se reconhecem e se respeitam.
E assim, o falcão e a cigarrinha seguiram caminhos diferentes, mas com um laço invisível de amizade.
Desde esse dia, os ventos carregam a história dos dois campeões — um do céu, outro do salto — lembrando a todos que na natureza, cada ser é único e possui seu próprio talento. E que os verdadeiros sábios são aqueles que reconhecem o valor dos outros.
Moral da fábula:
"Na grande dança da natureza, cada ser tem seu dom. O respeito nasce quando reconhecemos a beleza da diferença."
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
IEESITÓHIKIE E FROGHOPPER — A FÁBULA EM CORDEL
Nos céus do mundo inteiro
Voa o falcão viajante,
Cruzando terra e oceano
Com olhar firme e vibrante.
Chamado Ieesitóhikie,
Seu voo é deslumbrante.
Na língua dos Kariri,
Filho das aves sagradas,
Da família Itohikiete,
Com asas sempre aladas.
Nunca fica em só um canto,
Segue as rotas encantadas.
Num dia sobre a Inglaterra,
O falcão viu no chão
Um pequeno ser brilhante
Saltando sem direção.
Num rasante, ele desceu
Com sua forte precisão.
Mas o inseto ligeiro
Pulou como um trovão,
E escapou da armadilha
Da garra em rápida ação.
O falcão parou surpreso:
— Nunca vi tal reação!
— Quem é você, pequenino,
Que salta com tanta arte?
Meu voo é como um relâmpago,
Rasga o céu de toda parte.
Mas você me surpreendeu
Com esse salto à sua parte!
— Me chamam de Froghopper,
Disse o bicho com carinho.
Também sou Spittlebug,
A que faz espuma e ninho.
Mas no mundo sou famosa
Como Cigarrinha-do-caminho!
— Sou campeã nos meus saltos,
Salto mais que qualquer ser.
Essa espuma me protege
Quando eu quero me esconder.
E mesmo sendo pequena,
Tenho muito a oferecer!
O falcão ficou tocado
Com a força da cigarra:
— Se fosse outro no chão,
Já estava na minha garra.
Mas campeões se conhecem,
O respeito nunca se esbarra!
— Sigamos sendo amigos,
Disse o falcão com louvor.
— Pois todo ser nesse mundo
Tem seu talento e valor.
— A natureza é mestra
Na arte de dar amor.
E assim segue a lição,
Pelo vento carregada:
O falcão, rei do céu alto,
E a cigarra respeitada.
Cada qual com sua força,
Cada qual com sua jornada.
Moral em forma de mote:
“Campeão não é só força,
É saber ter coração.
Respeitar o dom do outro
Também é ser campeão.”
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

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