quinta-feira, 7 de agosto de 2025

IEESITÓHIKIE E O GIBÃO-ÁGIL, O Falcão Peregrino e o Símio Acrobata






Em uma de suas longas migrações, o Falcão Peregrino, chamado entre os povos nativos de Ieesitóhikie — o caçador dos céus — cruzava os céus da Sumatra, da Malásia Peninsular e do sul da Tailândia.


Certo dia, sobre a densa floresta da ilha de Sumatra, Ieesitóhikie avistou uma presa saltitante entre os galhos altos. Num mergulho veloz como o vento cortante, lançou-se ao ataque. Mas, num salto preciso e ágil, o pequeno ser escapou por entre os ramos.


Surpreso, o Falcão pousou e disse: — Que macaco habilidoso você é!


O outro respondeu com um sorriso: — Não sou um simples macaco. Sou o Gibão-Ágil, campeão das acrobacias entre os galhos. No reino das árvores, nenhum se move como eu!


Ieesitóhikie abaixou as asas, respeitoso: — Então te saúdo, campeão. Pois eu, que rasgo os céus com a velocidade de um raio, raramente erro meu alvo. Somente um mestre da selva poderia escapar de mim. Tens minha admiração.


O Gibão assentiu e replicou: — Também te respeito, irmão do vento. Os que dominam os céus e os que dançam nas copas podem ser amigos.


E assim, selaram uma amizade entre os reinos celeste e arborícola. Antes de partir, Ieesitóhikie prometeu: — No próximo ano, quando os ventos me trouxerem de volta, voltarei para ver meu amigo acrobata.


Mesmo sendo de espécies tão diferentes, entenderam que o mundo é vasto e há espaço para todos que se respeitam.


Moral da história:


Entre os galhos e os ventos, campeões se reconhecem. A amizade nasce quando há respeito, mesmo entre os diferentes.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



VERSÃO CORDEL-FÁBULA 

IEESITÓHIKIE E O GIBÃO-ÁGIL



No céu do mundo encantado

Voava com precisão

O Falcão mais afamado

Chamado Ieesitóhikie, então.

Veloz como um trovão cortando

Era rei sempre voando

Com coragem no coração.


De Sumatra ao sul tailandês

Passava na migração

Caçando com altivez

Com garra, olho e decisão.

Na floresta verde e densa

Viu figura tão imensa

Saltando com perfeição.


— Achei minha refeição!

Disse o Falcão altaneiro,

Desceu com determinação

Como flecha no terreiro.

Mas quando chegou ao chão,

Não pegou a refeição…

Fugiu por galho ligeiro!


— Macaco danado de esperto!

Falou com voz admirada.

Mas o outro, bem por perto,

Respondeu com gargalhada:

— Macaco eu não sou, senhor,

Sou Gibão com muito ardor,

Minha raça é respeitada!


— Sou Gibão, o campeão

De acrobacia e movimento.

Ganho medalha e canção

Nas alturas do firmamento.

Nas árvores eu sou rei,

Meus pulos são minha lei,

Sou dançarino do vento!


— Então temos algo em comum —

Falou o Falcão contente —

Pois veloz como nenhum

Sou no céu, livre e valente.

Se escapou do meu mergulho,

É porque é mestre do entulho

Dos galhos mais persistente!


— Tens meu respeito sincero,

Salve, irmão do arvoredo!

Ser tão ágil e tão fero

Merece honras e segredo.

Seremos, pois, bons amigos,

Sem guerras, sem inimigos,

Cada um com seu enredo.


E com asas bem abertas,

O Falcão alçou o voo.

Com promessas sempre certas,

Disse: — No próximo agosto,

Aqui voltarei a ver

O amigo a me receber

Com um salto bem disposto!


Moral do Cordel-Fábula:


Mesmo o ágil do galho e o veloz do céu profundo,

Podem viver lado a lado — há amizade neste mundo!



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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