sábado, 2 de agosto de 2025

KRÊRE BAE UIDZI, O Papagaio Falante e a Menina






Uma Fábula do Papagaio e a Menina


Numa clareira onde a mata sussurra histórias antigas, entre galhos verdes e o som dos ventos das florestas do Brasil, vivia um papagaio-verdadeiro chamado Krêre, nome herdado do idioma ancestral dos Kariri sertanejos.


Krêre era mais que um simples papagaio. Era guardião de palavras, conhecedor de vozes e línguas que o tempo não apaga. Seu canto não imitava, ensinava.


Certo dia, uma menina curiosa chamada Uidzi, que vivia entre as árvores e os riachos, aproximou-se de seu amigo de penas verdes e olhos atentos. Com um sorriso nos lábios e o brilho da infância no olhar, perguntou:


— Krêre, você fala só a nossa língua?


O papagaio, ajeitando-se num galho iluminado pelo sol, respondeu com sabedoria:


— Sim, Uidzi, falo sua língua. Mas não apenas ela. Eu sou ave das florestas e dos povos. Falo ieendeá, a língua das aves, e toklikli, todas as línguas dos povos indígenas da América do Sul.


Na caatinga, na mata, nas aldeias do Kariri, do Tupi, do Guarani, do Xavante, do Kamayurá… Em cada canto onde vivem os povos da floresta, eu aprendi a linguagem de cada um. Pois onde há povo indígena, há também papagaios que ouvem, aprendem e falam.


Uidzi ficou maravilhada. Seus olhos se arregalaram como quem descobre um segredo da Terra. Com Krêre, aprendeu que os animais não apenas sentem, mas também compreendem. E quando há respeito e escuta verdadeira, até mesmo um papagaio pode nos ensinar sobre a grande teia da vida.


Desde então, a menina passou a escutar a natureza com mais atenção, pois entendeu que falar é pouco quando não se escuta o coração da floresta.


Moral da fábula:

A sabedoria da natureza fala em muitas línguas. Quem escuta com o coração, entende todas.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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