sexta-feira, 8 de agosto de 2025

O CACHORRO E A RAPOSA






A Fábula do Cachorro e a Raposa 


Numa noite de lua minguante, na aldeia Kariri-Xocó, onde as famílias cuidavam de galinhas, patos e perus, o silêncio foi quebrado por um grito aflito:

— Cocorocóóóó!


A galinha Sapuca tinha sido agarrada pela astuta raposa Chorecá, que corria apressada rumo à mata. Mas o cachorro Bucuté, guardião da aldeia, ouviu o alvoroço e saiu em disparada.


— Larga já, Chorecá! — rosnou ele, segurando a raposa pela cauda.


Chorecá, assustada, soltou Sapuca e, ofegante, explicou:

— Me perdoe, Bucuté… A mata está ficando pobre de caça. Os homens derrubam as árvores, e a fome me aperta.


O cachorro, firme mas compassivo, respondeu:

— Entendo sua dor, irmã da mata. Mas roubar animais da aldeia não é o caminho. Se usar sua astúcia para caçar no campo e na floresta, encontrará alimento sem causar problemas. Respeitar as leis mantém a paz entre nós.


Chorecá baixou a cabeça e partiu, refletindo sobre aquelas palavras. Desde então, passou a usar sua esperteza para sobreviver sem prejudicar os vizinhos.


Moral:

A astúcia é uma grande arma, mas deve andar de mãos dadas com a justiça.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



O CACHORRO E A RAPOSA 


(Versão em Cordel)


Na aldeia Kariri-Xocó

Numa noite enluarada

A lua minguante brilhava

No campo e na estrada

Mas perto da beira da mata

Se armava uma enrascada.


Chorecá, raposa astuta

Vinha leve, passo a passo

Rondando o terreiro manso

Fez silêncio, sem estardalhaço

Com a boca apanhou Sapuca

E sumiu num só abraço.


A galinha gritava alto

Num apelo de aflição

Bucuté, cão da aldeia

Logo correu pelo chão

E alcançou a fugitiva

Segurando o seu rabicão.


— Ora, Chorecá, companheira,

Por que me fazes assim?

Levas ave que é da aldeia,

Que não te pertence, enfim.

Deixa Sapuca em paz

E não causes mais motim.


A raposa, envergonhada,

Disse com o olhar no chão:

— Perdoe-me, amigo Bucuté,

A fome fala mais alto, então.

A mata perdeu seus bichos,

E aperta meu coração.


O cão falou compassivo:

— Entendo a tua razão,

Mas caça de mata e de campo

Vai saciar tua fome, irmã.

Roubar de quem te respeita

Só te traz tribulação.


Chorecá saiu ligeira

Pra dentro da escuridão

Mas no peito carregava

Do cachorro a lição:

“A astúcia vale muito,

Mas junto da retidão.”




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




Nenhum comentário: