A Fábula do Cachorro e a Raposa
Numa noite de lua minguante, na aldeia Kariri-Xocó, onde as famílias cuidavam de galinhas, patos e perus, o silêncio foi quebrado por um grito aflito:
— Cocorocóóóó!
A galinha Sapuca tinha sido agarrada pela astuta raposa Chorecá, que corria apressada rumo à mata. Mas o cachorro Bucuté, guardião da aldeia, ouviu o alvoroço e saiu em disparada.
— Larga já, Chorecá! — rosnou ele, segurando a raposa pela cauda.
Chorecá, assustada, soltou Sapuca e, ofegante, explicou:
— Me perdoe, Bucuté… A mata está ficando pobre de caça. Os homens derrubam as árvores, e a fome me aperta.
O cachorro, firme mas compassivo, respondeu:
— Entendo sua dor, irmã da mata. Mas roubar animais da aldeia não é o caminho. Se usar sua astúcia para caçar no campo e na floresta, encontrará alimento sem causar problemas. Respeitar as leis mantém a paz entre nós.
Chorecá baixou a cabeça e partiu, refletindo sobre aquelas palavras. Desde então, passou a usar sua esperteza para sobreviver sem prejudicar os vizinhos.
Moral:
A astúcia é uma grande arma, mas deve andar de mãos dadas com a justiça.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
O CACHORRO E A RAPOSA
(Versão em Cordel)
Na aldeia Kariri-Xocó
Numa noite enluarada
A lua minguante brilhava
No campo e na estrada
Mas perto da beira da mata
Se armava uma enrascada.
Chorecá, raposa astuta
Vinha leve, passo a passo
Rondando o terreiro manso
Fez silêncio, sem estardalhaço
Com a boca apanhou Sapuca
E sumiu num só abraço.
A galinha gritava alto
Num apelo de aflição
Bucuté, cão da aldeia
Logo correu pelo chão
E alcançou a fugitiva
Segurando o seu rabicão.
— Ora, Chorecá, companheira,
Por que me fazes assim?
Levas ave que é da aldeia,
Que não te pertence, enfim.
Deixa Sapuca em paz
E não causes mais motim.
A raposa, envergonhada,
Disse com o olhar no chão:
— Perdoe-me, amigo Bucuté,
A fome fala mais alto, então.
A mata perdeu seus bichos,
E aperta meu coração.
O cão falou compassivo:
— Entendo a tua razão,
Mas caça de mata e de campo
Vai saciar tua fome, irmã.
Roubar de quem te respeita
Só te traz tribulação.
Chorecá saiu ligeira
Pra dentro da escuridão
Mas no peito carregava
Do cachorro a lição:
“A astúcia vale muito,
Mas junto da retidão.”
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

Nenhum comentário:
Postar um comentário