Era uma vez um Falcão Peregrino que voava alto e veloz pelos céus, cruzando o Atlântico, vindo das Américas em direção à Europa. Com o brilho do sol nas penas, ele cortava o ar como uma flecha viva, quando avistou algo estranho no mar lá embaixo: uma vela que se movia com espantosa rapidez sobre as águas.
Curioso, o Falcão mergulhou e percebeu que não era uma vela de navio, mas sim a nadadeira de um peixe veloz, riscando as ondas como um raio. Pousou sobre ela, equilibrando-se com graça.
— Quem é você, criatura veloz dos mares? — perguntou o Falcão.
O peixe respondeu, sem diminuir a marcha:
— Sou o Peixe-Vela, também chamado de Peixe-Espada. Nos oceanos, ninguém nada mais rápido do que eu! Mas... e você, ave ousada, quem é?
— Sou o Falcão Peregrino, o mais rápido do céu. Nenhuma ave me alcança em voo!
O Peixe sorriu com suas escamas cintilantes:
— Então, somos ambos campeões — um do ar, outro do mar. Que tal sermos amigos e viajarmos juntos por um tempo?
— Será uma honra — respondeu o Falcão. — Enquanto descanso em tuas nadadeiras, podemos conversar sobre as maravilhas do mundo.
E assim, cruzando o mar e o céu, os dois seguiram juntos — um deslizando pelas águas, o outro planando sobre as correntes de ar. Diferentes em forma, iguais em espírito, fizeram da amizade sua maior velocidade.
Moral da história:
Mesmo entre os seres mais diferentes, a amizade e o respeito podem unir forças e vencer distâncias.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
VERSÃO CORDEL-FÁBULA: Falcão e o Peixe-Vela
Cordel de Nhenety Kariri-Xocó
Num voo de luz matutina
Cruzando o céu do sertão,
Um falcão de asa fina
Voava em rápida ação.
Do alto viu no oceano
Algo cortando o pano
Das águas em turbilhão.
Pensou ser uma canoa
Com vela a se derramar,
Mas era uma coisa boa
Que nadava sem parar.
A tal "vela" era um peixe
Tão veloz que até deixei
Meu assombro no ar pairar!
O Falcão com elegância
Pousou sobre a nadadeira,
Sentiu firme a resistência
Daquela asa marinheira.
E perguntou com respeito:
— Quem és tu, com tal efeito,
De nadar de tal maneira?
Respondeu com voz ligeira
O peixe em sua jornada:
— Me chamam de Peixe-Vela,
Espada afiada e ousada.
No mar sou rei da corrida,
Minha flecha é minha vida,
Ninguém me vence em disparada!
O Falcão, com nobreza,
Ergueu firme sua voz:
— Eu sou rei da correnteza
Do céu que paira sobre vós.
Me chamam Falcão Peregrino,
Meu voo é sempre divino,
E veloz como o de nós!
O Peixe sorriu contente:
— Então somos parecidos,
Tu nos ares, eu nas águas,
Ambos somos destemidos.
Vamos selar amizade,
Com respeito e liberdade,
Seremos seres unidos!
— Concordo! — disse o Falcão.
— Sobre tuas asas marinhas
Descansarei minha paixão,
E contaremos as linhas
Do céu, do vento e do mar,
Enquanto vamos voar
Como duas almas vizinhas.
E assim, sem briga ou disputa,
Seguiram céu e mar unidos.
Mostrando à Terra absoluta
Que os seres mais parecidos
Não são só da mesma cor,
Mas têm no peito o valor
Dos verdadeiros amigos.
Moral do Cordel:
Mesmo em mundos diferentes,
Quando há sabedoria,
A amizade floresce
Com respeito e harmonia.
No céu ou na imensidão,
O que vence é o coração
Com verdade e poesia.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

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