Em tempos antigos, quando os ventos ainda contavam histórias e os animais escutavam uns aos outros com atenção e respeito, o Falcão Peregrino voava sobre mares e continentes. Com suas asas fortes e olhos atentos, cruzava os céus das Américas à África, caçando aves ligeiras e pequenos mamíferos. Era o campeão do céu, alcançando incríveis 320 km por hora.
O falcão peregrino visita a região Nordeste do Brasil, na migração do Hemisfério Norte em busca de climas mais amenos, principalmente na faixa litorânea, campos e cidades.
Certa vez, ao atravessar o grande Oceano Atlântico, o Falcão chegou à savana africana. De suas alturas, viu algo que chamou sua atenção: um Guepardo veloz, riscando o chão dourado com patas certeiras, perseguindo um antílope a 120 km por hora.
Curioso e cheio de orgulho, o Falcão desceu num rasante e disse ao Guepardo:
— Você corre muito, amigo da terra, mas não chega nem à metade da minha velocidade nos céus!
O Guepardo parou, respirou fundo e respondeu com sabedoria:
— É verdade, senhor do ar, no céu você é rei. Mas por que não pousa e corre comigo nesta planície? Vamos ver quem vence com as patas no chão.
Antes que a disputa se iniciasse, pousou entre eles um Papagaio-Cinzento-Africano — o famoso Papagaio-do-Congo — com sua plumagem elegante e fala apurada:
— Meus amigos, para que medir forças? Eu sou o papagaio mais falante do mundo, mas nem por isso espero que os outros falem como eu. Cada ser tem um dom. Uns curam, outros divertem. Há os que nutrem, mergulham, voam, caçam ou encantam. Todos são campeões à sua maneira.
O Falcão e o Guepardo se entreolharam. Sorriram. Bateram asas e patas em um gesto de amizade. Concordaram com o sábio papagaio, e desde aquele dia, os três — o mais rápido do céu, o mais veloz da terra e o mais falante do mundo — seguiram juntos pela savana, espalhando respeito, compreensão e companheirismo.
Moral da fábula:
Cada ser tem seu próprio brilho e valor. Comparar-se é esquecer o dom único que a natureza deu a cada um.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

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