Nas margens majestosas do rio São Francisco, onde as águas correm serenas e eternas, erguia-se, com dignidade, a Aldeia dos Índios de Colégio. Ali, os Kariri plantavam suas roças, pescavam no grande rio e mantinham viva a tradição dos antigos, mesmo quando os ventos do mundo lá fora sopravam mudanças inevitáveis.
No século XVIII, justamente em 1763, a aldeia foi elevada à condição de Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Porto Real, passando a estar sob a jurisdição da Vila de Penedo, da poderosa Capitania de Pernambuco. O sino da pequena igreja repicava entre os coqueiros e gameleiras, chamando para as celebrações católicas, enquanto, sob as sombras das árvores ancestrais, os rituais Kariri ainda floresciam, conduzidos pelo pajé Ludovico, homem de saber profundo e olhos que pareciam conter a memória do mundo.
Naquele tempo, dois irmãos traçavam destinos que marcariam para sempre a aldeia: Pedro Lolaço e Ludovico. O primeiro, guerreiro e Capitão-Mor, conhecido por sua bravura e comando firme; o segundo, pajé respeitado, mestre das palavras e guardião dos espíritos.
— Meu irmão, as lutas vêm de longe e ainda virão — disse Ludovico certa vez, enquanto trançava folhas de palmeira para um novo cocar.
Pedro Lolaço, de pé à beira do rio, contemplava as águas sem pressa, sentindo no peito o peso do dever.
— E estaremos prontos para elas — respondeu, com a firmeza de quem sabia que a defesa do povo era um fardo e uma honra.
Na aldeia, corria a fama de que Pedro Lolaço nunca recuava diante do perigo. Com ele, marchava o Cabo de Esquadra Manoel Altanasio, homem de palavra direta e espírito leal. Juntos, mantinham a ordem nos povoados da região, liderando expedições, protegendo as fronteiras e enfrentando rebeliões que, vez ou outra, sacudiam as entranhas do Brasil Colonial.
Numa tarde abafada, o mensageiro chegou à aldeia montado em um cavalo suado:
— Capitão-Mor! Rebeldes avançam pelo sertão! Precisam de homens para a defesa!
Pedro calçou as sandálias de couro, ajustou o gibão e, sem titubear, ordenou:
— Reúna os homens. Partiremos antes do romper da aurora!
Manoel Altanasio aproximou-se, assentindo:
— Como sempre, ao seu lado, Capitão.
As mulheres e os velhos formaram um círculo em torno dos guerreiros que partiriam. Ludovico ergueu um maracá e, com voz grave, entoou cânticos de proteção:
— Que os espíritos da terra e das águas caminhem com vocês, meus irmãos!
E assim foi. Por anos e anos, Pedro Lolaço e Manoel Altanasio enfrentaram os desafios do tempo, participando das lutas que moldaram o destino da região até meados do século XIX.
Quando a paz se instalava, o Capitão-Mor caminhava ao lado do pajé pela trilha que levava ao alto do morro, onde os antigos enterravam os ossos dos antepassados.
— Ludovico, quando partirmos, quem continuará nossa história? — perguntou, com um raro traço de melancolia.
O pajé sorriu, fitando a aldeia que se estendia embaixo, com suas casas de taipa e o rio, imenso e sábio.
— Nossos filhos, Pedro. E os filhos de nossos filhos. Somos raízes que nunca morrem.
E, de fato, assim foi. Pedro Lolaço deu origem à numerosa Família Botó, cujos descendentes ainda hoje caminham pelas veredas da aldeia. Já Manoel Altanasio tornou-se o tronco da Família Pirigipe, conhecidos como os Baca, tão numerosos quanto valentes.
E na tradição oral, passada de avô a neto, ainda ecoam as histórias:
— Sabem, crianças? O Capitão-Mor Pedro Lolaço foi irmão do pajé Ludovico! Um guerreiro e um sábio, lado a lado, guardiões do nosso povo!
As crianças arregalam os olhos, enquanto o velho Nidé como contador de histórias conclui:
— E enquanto o rio São Francisco correr, o nome deles nunca será esquecido.
E assim, entre o rumor das águas e o sussurro do vento nas folhas, segue viva a memória do Capitão-Mor e do Pajé, irmãos Kariri de Porto Real do Colégio.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho da capa no dia 26 de maio de 2025.
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