domingo, 18 de maio de 2025

O MUNDO DAS ALMAS NA COSMOLOGIA GUARANI






Espíritos, Percurso Celeste e Ritual de Nomeação 



Resumo



O presente artigo busca descrever o mundo das almas e dos espíritos na mitologia e cosmologia Guarani, enfocando os tipos de espíritos reconhecidos por esse povo, a origem celeste da alma humana, o percurso que ela realiza até o nascimento na terra, e os rituais de nomeação realizados após o nascimento. O estudo baseia-se em fontes etnográficas, registros orais e estudos antropológicos, revelando a complexidade espiritual guarani e a profundidade de sua visão sobre o ciclo da vida e da morte.


Palavras-chave: Guarani, alma, espírito, cosmovisão, nascimento, ritual.



Introdução



Os povos Guarani — abrangendo os subgrupos Mbya, Ñandeva e Kaiowá — possuem uma visão de mundo em que o espiritual e o material se entrelaçam de forma indissociável. A existência humana é compreendida como parte de um ciclo maior que envolve os céus, a terra e os mundos invisíveis. Nesse contexto, a alma ou espírito não nasce na terra, mas provém de um plano superior e sagrado, onde habita antes de descer ao mundo terreno. Este artigo visa apresentar uma descrição estruturada do mundo das almas na tradição guarani, abordando os tipos de espíritos, o percurso da alma antes do nascimento e os rituais de nomeação.



1. O Mundo Espiritual Guarani



O universo guarani é composto por múltiplos planos, divididos em camadas celestes (yvate) e terras inferiores. No topo está o yvaga reta, a morada das almas puras e dos deuses criadores, como Ñamandu Ru Ete, o Pai verdadeiro primordial. Abaixo, situam-se outras camadas onde vivem espíritos de diferentes níveis de pureza e poder. O mundo terreno (yvyrupa) é apenas uma das dimensões da existência.


Entre os espíritos ou almas, destacam-se:


Angá: espírito ou alma humana, essência da pessoa.


Angá morotî: alma branca, ligada à pureza e à luz divina.


Aña: espíritos desordeiros ou maléficos, causadores de doenças e desarmonia.


Porangue’i: seres espirituais luminosos que acompanham os xamãs ou pessoas de missão especial.


Os karaí ou pa’i, líderes espirituais guarani, têm a função de mediar entre o mundo espiritual e o mundo dos vivos, recebendo mensagens por meio de cantos sagrados, sonhos e rituais.



2. A Alma e o Percurso Celeste até o Nascimento



Para os Guarani, a alma humana existe antes do corpo e reside no céu sagrado. Quando uma pessoa está para nascer, sua alma desce de um dos céus, geralmente do quarto céu, o mais próximo da criação divina. Essa descida é parte de um plano espiritual, e não apenas um evento biológico.


O trajeto ocorre em etapas:


A alma é escolhida ou enviada por Ñamandu e seus filhos divinos.


Atravessa os planos celestes, acompanhada por cantos e porangue’i.


Encaminha-se para o corpo da mãe, sendo acolhida em seu ventre.


Nasce na terra, trazendo consigo uma missão espiritual.


Esse processo é celebrado e reconhecido como um retorno ao mundo dos humanos com propósitos definidos. Em algumas versões míticas, acredita-se que cada alma já traz em si um nome sagrado que será revelado no momento certo.



3. Ritual de Nomeação (Ñembo’e ha Téra)



Após o nascimento, os Guarani realizam o ritual de nomeação chamado ñembo’e ha téra, que une oração e revelação do nome. O nome atribuído à criança é considerado uma expressão de sua origem espiritual e missão na terra. O nome pode vir por meio de sonhos, visões ou cantos recebidos por um ancião ou xamã.


Esse ritual é vital para a integração da criança na comunidade espiritual e humana. Sem nome, o ser permanece em estado de indefinição espiritual. O nome é também um escudo contra os espíritos perturbadores e uma conexão permanente com os deuses do céu.



Conclusão



A cosmologia guarani revela uma profunda espiritualidade que compreende a alma como eterna e sagrada, vinda dos céus para habitar o corpo terreno. A concepção, o nascimento e a nomeação são eventos espirituais tão importantes quanto sociais. O ritual de nomeação marca o reconhecimento da missão da alma na terra e fortalece o elo entre o mundo visível e o invisível. Compreender esse ciclo é valorizar a riqueza simbólica de um dos povos originários mais espiritualmente elaborados das Américas.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 



CADOGAN, León. Ayvu Rapyta: textos míticos de los Mbya-Guarani del Guairá. México: Fondo de Cultura Económica, 1959.


CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Cultura com aspas. São Paulo: Cosac Naify, 2009.


GOULARD, Jean. Mitologia Guarani. São Paulo: Loyola, 2001.


MELIÀ, Bartomeu. El guaraní conquistado y reducido. Asunción: CEPAG, 1991.


MELIÀ, Bartomeu. “A Palavra e o Povo Guarani”. In: BRAND, Antônio Carlos; GRUPIONI, Luís Donisete Benzi (orgs.). Ensaios: Povos Indígenas no Brasil. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2000.





Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho, em 17de abril de 2025 e a capa do artigo dia 18 de maio de 2025.



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