Uma Fábula da Moça e as Aves Viajantes
Num final de tarde, nas margens sagradas do Rio Opará, a jovem Tibudina, uma moça sábia do povo Kariri, sentou-se em silêncio, ouvindo o sussurro do vento e observando o céu que começava a se tingir de ouro.
De repente, um som de asas suaves preencheu o ar. Eram as arribaçãs — Ieende-idabá, os "pássaros que chegam a um lugar".
Tibudina se levantou e perguntou à líder do bando:
— De onde vêm vocês?
A líder, com o peito estufado e brilho nos olhos, respondeu:
— Viemos do sertão, onde o sol castiga e os espinhos florescem.
Logo em seguida, cortando o céu em danças elegantes, vieram as andorinhas — Ieende-crú-uná, as aves de cauda repartida.
Tibudina sorriu e perguntou:
— E vocês, de onde vêm voando tão ligeiras?
Elas responderam:
— Viemos das terras geladas do Norte, fugindo do frio e buscando o calor de Opará.
Mal acabaram de falar, chegaram os ágeis maçaricos — Ieende-wõ-kempé-bü, os "pássaros-perna-fina-corredores".
Curiosa, a moça indagou:
— Também estão chegando agora? Qual o caminho de vocês?
A líder respondeu:
— Viemos das terras frias e nebulosas. Viajamos muito até encontrar esse lugar de fartura.
Por fim, cortando o ar com majestade, apareceu o gavião — Ieende-sitó, a ave caçadora. Mas dessa vez quem falou foi a andorinha:
— E você, senhor dos céus, de onde vem?
O gavião respondeu com voz grave:
— Venho do Sul, voando sobre as ondas do mar e seguindo o vento.
Tibudina então ergueu os braços ao céu e disse:
— Chamarei todos vocês de Ieende Itohikiete, "As Aves Viajantes". Mesmo sabendo que há muitas outras que também cruzam os céus para cá, é por respeito que darei esse nome.
Ela se pôs de pé e disse em voz firme:
— Avisarei meu povo que, quando vocês chegarem, não devem ser caçadas. Vocês precisam se alimentar e se reproduzir. Só assim a vida se renova.
Desde então, sempre que as aves viajantes chegam ao Opará, todos lembram do ensinamento de Tibudina.
🌱 Moral da Fábula:
A sabedoria respeita o ciclo da vida. Proteger quem viaja para viver é honrar a Terra que nos sustenta.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

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