sábado, 26 de julho de 2025

TIBUDINA E AS AVES VIAJANTES






Uma Fábula da Moça e as Aves Viajantes 


Num final de tarde, nas margens sagradas do Rio Opará, a jovem Tibudina, uma moça sábia do povo Kariri, sentou-se em silêncio, ouvindo o sussurro do vento e observando o céu que começava a se tingir de ouro.


De repente, um som de asas suaves preencheu o ar. Eram as arribaçãs — Ieende-idabá, os "pássaros que chegam a um lugar".


Tibudina se levantou e perguntou à líder do bando:


— De onde vêm vocês?


A líder, com o peito estufado e brilho nos olhos, respondeu:


— Viemos do sertão, onde o sol castiga e os espinhos florescem.


Logo em seguida, cortando o céu em danças elegantes, vieram as andorinhas — Ieende-crú-uná, as aves de cauda repartida.


Tibudina sorriu e perguntou:


— E vocês, de onde vêm voando tão ligeiras?


Elas responderam:


— Viemos das terras geladas do Norte, fugindo do frio e buscando o calor de Opará.


Mal acabaram de falar, chegaram os ágeis maçaricos — Ieende-wõ-kempé-bü, os "pássaros-perna-fina-corredores".


Curiosa, a moça indagou:


— Também estão chegando agora? Qual o caminho de vocês?


A líder respondeu:


— Viemos das terras frias e nebulosas. Viajamos muito até encontrar esse lugar de fartura.


Por fim, cortando o ar com majestade, apareceu o gavião — Ieende-sitó, a ave caçadora. Mas dessa vez quem falou foi a andorinha:


— E você, senhor dos céus, de onde vem?


O gavião respondeu com voz grave:


— Venho do Sul, voando sobre as ondas do mar e seguindo o vento.


Tibudina então ergueu os braços ao céu e disse:


— Chamarei todos vocês de Ieende Itohikiete, "As Aves Viajantes". Mesmo sabendo que há muitas outras que também cruzam os céus para cá, é por respeito que darei esse nome.


Ela se pôs de pé e disse em voz firme:


— Avisarei meu povo que, quando vocês chegarem, não devem ser caçadas. Vocês precisam se alimentar e se reproduzir. Só assim a vida se renova.


Desde então, sempre que as aves viajantes chegam ao Opará, todos lembram do ensinamento de Tibudina.


🌱 Moral da Fábula:


A sabedoria respeita o ciclo da vida. Proteger quem viaja para viver é honrar a Terra que nos sustenta.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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