A Fábula do Gafanhotão e a Libélula
Nas terras onde a floresta encontra o rio, vivia Tucura, o gafanhotão.
Suas asas eram fortes como folhas secas ao vento,
e seu apetite não tinha fim: devorava folhas verdes, brotos, até mesmo plantas dos roçados dos homens.
Tucura se orgulhava da sua força e dizia:
— Eu sou o dono da terra! Sem mim, a mata não conhece quem manda.
Um dia, pousou perto dele uma pequena criatura de asas brilhantes,
que refletiam a luz como se fossem cristais verdes.
Era Y-apuã, a sopradora-d’água,
que voava leve sobre as lagoas e riachos, tocando a superfície com o sopro de suas asas.
Tucura riu alto:
— Que podes tu, pequena e frágil? Eu sou grande, salto alto e como o que quero. Tu não passas de um brinquedo do vento!
Mas Y-apuã não se irritou.
Com a calma de quem conhece o tempo e a água, respondeu:
— Grande és no corpo, Tucura, mas pequeno és na visão.
Tu vives da terra, mas não vês o rio.
Tu comes as folhas, mas não sabes que sem a água que protejo, nada verde brotaria.
Tucura se enfureceu:
— Quem és tu para me desafiar?
Então Y-apuã voou baixo, sobre o espelho do rio.
Ali, mostrou a dança de sua espécie:
devorava mosquitos, limpava o ar, protegia as águas.
— Vês? Eu sou guardiã do que corre e do que nasce.
Sem mim, o ar seria cheio de pragas, e o rio, doente.
Tu comes por viver, mas eu caço para equilibrar.
O gafanhotão ficou em silêncio.
Nunca havia pensado que seres pequenos também guardavam grande poder.
No fim do dia, Tucura disse com humildade:
— Y-apuã, aprendi contigo que cada ser tem sua força,
e que não é no tamanho que se mede a importância.
A terra precisa de mim, mas também da água e do ar que tu proteges.
E desde então, a floresta passou a ouvir dois cantos:
o estrondo das asas de Tucura saltando pelos campos,
e o sopro suave de Y-apuã dançando sobre os rios.
✨ Moral da fábula
Na natureza, ninguém é dono de tudo.
O grande precisa do pequeno, assim como a terra precisa da água e do ar.
Cada ser tem seu lugar no equilíbrio do mundo.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
🌿 TUCURA E Y-APUÃ, O Gafanhotão e a Sopradora-d’Água
Cordel em sextilhas – Por Nhenety Kariri-Xocó
Na beira da mata densa,
Onde a água faz morada,
Saltava o grande Tucura,
De asas sempre alongadas.
Dizia ser dono do chão,
Da folha verde e da estrada.
Num sopro leve do vento
Surgia Y-apuã,
Libélula verde e bela,
Que brilhava como a manhã.
Dançava sobre as lagoas,
Guardiã do rio e da rã.
Tucura riu e falou:
— “És pequena e sem valor!
Eu como tudo que vejo,
Sou da mata o protetor.
Tua asa frágil não serve,
Eu sou mais forte e maior!”
Y-apuã respondeu calma:
— “Tu és da terra, eu do ar.
Sem mim, os rios adoecem,
Não terás o que mastigar.
Pois o verde só floresce
Com a água a circular.”
Mostrou caçando insetinhos,
Mantendo o espaço limpo,
Deixava o ar respirável,
Protegia todo o pinto.
Enquanto Tucura pensava:
“Pequena, mas és distinto.”
No fim, o gafanhotão
Reconheceu sua lição:
— “Não é no tamanho do corpo
Que mora a grande razão.
A mata vive em equilíbrio,
E cada um tem sua função.”
🌟 Moral em versos
Grande e pequeno se unem
Na harmonia da criação,
Pois só com todos juntos
Se sustenta a tradição.
Na água, no ar e na terra
Vive a força da união.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Nenhum comentário:
Postar um comentário