Introdução
O universo fantástico criado por L. Frank Baum no clássico The Wonderful Wizard of Oz (1900) consolidou-se como uma das narrativas mais emblemáticas da literatura infantil e juvenil. A construção cosmológica e hierárquica de Oz apresenta uma organização mágica, política e cultural que transcende o simples entretenimento, servindo de inspiração para reflexões sobre sociedade, poder e valores humanos. Este artigo busca descrever os elementos constitutivos desse mundo, sua organização, seres mágicos, governança e o aprendizado simbólico que emerge da obra, analisando possíveis aproximações com a realidade social e cultural.
Cosmologia e Estrutura do Mundo de Oz
O Mundo de Oz é uma terra encantada, geograficamente delimitada por desertos mágicos que impedem a saída e a invasão de estrangeiros. Sua cosmologia é dividida em quatro grandes regiões, cada uma regida por uma bruxa, além da Cidade das Esmeraldas, centro político e cultural do reino. As quatro regiões são:
Munchkinlândia (Leste): habitada pelos Munchkins, pequenos camponeses alegres. Inicialmente governada pela Bruxa Má do Leste.
Gillikin (Norte): região dos Gillikins, sob a proteção da Bruxa Boa do Norte.
Winkie (Oeste): território dos Winkies, dominado pela Bruxa Má do Oeste.
Quadling (Sul): lar dos Quadlings, sob a guarda da Bruxa Boa do Sul, Glinda.
Essa divisão reflete uma cosmologia circular, em que cada direção cardinal corresponde a uma força política e mágica, equilibrando a estrutura do mundo. A Cidade das Esmeraldas, no centro, simboliza o eixo de unidade.
Hierarquia e Governança
O governo de Oz é representado pela figura central do Mágico de Oz, que inicialmente ocupa o poder de forma ilusória, usando truques para manter a autoridade. Após sua saída, Glinda e outras figuras de bondade assumem papéis de liderança. A hierarquia é composta por:
O Mágico de Oz – governante simbólico, cuja autoridade é mais psicológica que real.
As Bruxas – duas malignas (Leste e Oeste) e duas benevolentes (Norte e Sul), representando a polaridade ética e a balança mágica do reino.
Os Povos de Oz – Munchkins, Winkies, Quadlings e Gillikins, que vivem em sociedades agrícolas, pacíficas, mas vulneráveis à dominação de forças mágicas.
Assim, a hierarquia combina um poder ilusório (o mágico), um poder real (as bruxas) e uma base social (os povos), em um sistema de governança que questiona a natureza da autoridade.
Seres Mágicos e Fantásticos
O universo de Oz é povoado por uma ampla variedade de seres, que enriquecem sua cosmologia:
Animais falantes (como o Leão Covarde, representação da coragem interior).
Homens transformados (o Homem de Lata, símbolo da busca por humanidade e sensibilidade).
Seres mágicos naturais (como fadas e feiticeiras).
Criaturas híbridas e inventadas (macacos alados, entre outros).
Cada criatura desempenha uma função simbólica, refletindo dilemas humanos universais, como coragem, sensibilidade e sabedoria.
Aprendizado Literário e Inspiração
O conto de Baum transcende a fantasia, transmitindo lições profundas para a criatividade literária:
Autodescoberta: Dorothy, o Leão, o Espantalho e o Homem de Lata descobrem que já possuíam as qualidades que buscavam.
Crítica à autoridade: O Mágico, como falso governante, questiona os sistemas de poder baseados na aparência.
Força do coletivo: A amizade e a cooperação dos protagonistas simbolizam a construção de soluções por meio da união.
Do ponto de vista da criatividade, a obra inspira a construção de mundos ficcionais com cosmologias próprias, equilibrando geografia, hierarquia e seres fantásticos de forma coesa.
Conexão com a Realidade
O Mundo de Oz, apesar de fictício, reflete preocupações sociais e culturais da virada do século XX:
Política e poder: A ilusão do Mágico ecoa críticas às lideranças baseadas em aparência e não em essência.
Sociedade e valores: A busca por coragem, inteligência e coração representa anseios humanos universais.
Estrutura social: As quatro regiões simbolizam a diversidade e a necessidade de equilíbrio entre povos.
Assim, Oz pode ser interpretado como metáfora da realidade, onde o poder se constrói mais pela percepção social que pela essência.
Conclusão
A cosmologia e hierarquia do Mundo de Oz, criadas por L. Frank Baum, revelam um sistema literário sofisticado que combina elementos mágicos, sociais e filosóficos. A divisão em regiões, a presença das bruxas e a figura do Mágico compõem uma crítica velada à autoridade e um convite à reflexão sobre a verdadeira natureza do poder. Para o estudo literário, a obra oferece lições sobre criatividade, simbolismo e autodescoberta, mantendo forte conexão com dilemas humanos atemporais.
Referências
BAUM, L. Frank. The Wonderful Wizard of Oz. Chicago: George M. Hill Company, 1900.
FISHER, James. The Wonderful World of Oz: An Analysis of the Books by L. Frank Baum. New York: Routledge, 2011.
ZIMMERMAN, Evan. Oz and Beyond: The Fantasy World of L. Frank Baum. Lexington: University Press of Kentucky, 1998.
ZIMMER, Elizabeth. Oz in Perspective: Fantasy and Reality in Baum’s Works. Boston: Beacon Press, 2005.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Nenhum comentário:
Postar um comentário