quinta-feira, 4 de setembro de 2025

A COSMOLOGIA E HIERARQUIA DO MUNDO DE OZ: Um Estudo Descritivo Literário






Introdução


O universo fantástico criado por L. Frank Baum no clássico The Wonderful Wizard of Oz (1900) consolidou-se como uma das narrativas mais emblemáticas da literatura infantil e juvenil. A construção cosmológica e hierárquica de Oz apresenta uma organização mágica, política e cultural que transcende o simples entretenimento, servindo de inspiração para reflexões sobre sociedade, poder e valores humanos. Este artigo busca descrever os elementos constitutivos desse mundo, sua organização, seres mágicos, governança e o aprendizado simbólico que emerge da obra, analisando possíveis aproximações com a realidade social e cultural.


Cosmologia e Estrutura do Mundo de Oz


O Mundo de Oz é uma terra encantada, geograficamente delimitada por desertos mágicos que impedem a saída e a invasão de estrangeiros. Sua cosmologia é dividida em quatro grandes regiões, cada uma regida por uma bruxa, além da Cidade das Esmeraldas, centro político e cultural do reino. As quatro regiões são:


Munchkinlândia (Leste): habitada pelos Munchkins, pequenos camponeses alegres. Inicialmente governada pela Bruxa Má do Leste.


Gillikin (Norte): região dos Gillikins, sob a proteção da Bruxa Boa do Norte.


Winkie (Oeste): território dos Winkies, dominado pela Bruxa Má do Oeste.


Quadling (Sul): lar dos Quadlings, sob a guarda da Bruxa Boa do Sul, Glinda.


Essa divisão reflete uma cosmologia circular, em que cada direção cardinal corresponde a uma força política e mágica, equilibrando a estrutura do mundo. A Cidade das Esmeraldas, no centro, simboliza o eixo de unidade.


Hierarquia e Governança


O governo de Oz é representado pela figura central do Mágico de Oz, que inicialmente ocupa o poder de forma ilusória, usando truques para manter a autoridade. Após sua saída, Glinda e outras figuras de bondade assumem papéis de liderança. A hierarquia é composta por:


O Mágico de Oz – governante simbólico, cuja autoridade é mais psicológica que real.


As Bruxas – duas malignas (Leste e Oeste) e duas benevolentes (Norte e Sul), representando a polaridade ética e a balança mágica do reino.


Os Povos de Oz – Munchkins, Winkies, Quadlings e Gillikins, que vivem em sociedades agrícolas, pacíficas, mas vulneráveis à dominação de forças mágicas.


Assim, a hierarquia combina um poder ilusório (o mágico), um poder real (as bruxas) e uma base social (os povos), em um sistema de governança que questiona a natureza da autoridade.


Seres Mágicos e Fantásticos


O universo de Oz é povoado por uma ampla variedade de seres, que enriquecem sua cosmologia:


Animais falantes (como o Leão Covarde, representação da coragem interior).


Homens transformados (o Homem de Lata, símbolo da busca por humanidade e sensibilidade).


Seres mágicos naturais (como fadas e feiticeiras).


Criaturas híbridas e inventadas (macacos alados, entre outros).


Cada criatura desempenha uma função simbólica, refletindo dilemas humanos universais, como coragem, sensibilidade e sabedoria.


Aprendizado Literário e Inspiração


O conto de Baum transcende a fantasia, transmitindo lições profundas para a criatividade literária:


Autodescoberta: Dorothy, o Leão, o Espantalho e o Homem de Lata descobrem que já possuíam as qualidades que buscavam.


Crítica à autoridade: O Mágico, como falso governante, questiona os sistemas de poder baseados na aparência.


Força do coletivo: A amizade e a cooperação dos protagonistas simbolizam a construção de soluções por meio da união.


Do ponto de vista da criatividade, a obra inspira a construção de mundos ficcionais com cosmologias próprias, equilibrando geografia, hierarquia e seres fantásticos de forma coesa.


Conexão com a Realidade


O Mundo de Oz, apesar de fictício, reflete preocupações sociais e culturais da virada do século XX:


Política e poder: A ilusão do Mágico ecoa críticas às lideranças baseadas em aparência e não em essência.


Sociedade e valores: A busca por coragem, inteligência e coração representa anseios humanos universais.


Estrutura social: As quatro regiões simbolizam a diversidade e a necessidade de equilíbrio entre povos.


Assim, Oz pode ser interpretado como metáfora da realidade, onde o poder se constrói mais pela percepção social que pela essência.


Conclusão


A cosmologia e hierarquia do Mundo de Oz, criadas por L. Frank Baum, revelam um sistema literário sofisticado que combina elementos mágicos, sociais e filosóficos. A divisão em regiões, a presença das bruxas e a figura do Mágico compõem uma crítica velada à autoridade e um convite à reflexão sobre a verdadeira natureza do poder. Para o estudo literário, a obra oferece lições sobre criatividade, simbolismo e autodescoberta, mantendo forte conexão com dilemas humanos atemporais.


Referências


BAUM, L. Frank. The Wonderful Wizard of Oz. Chicago: George M. Hill Company, 1900.


FISHER, James. The Wonderful World of Oz: An Analysis of the Books by L. Frank Baum. New York: Routledge, 2011.


ZIMMERMAN, Evan. Oz and Beyond: The Fantasy World of L. Frank Baum. Lexington: University Press of Kentucky, 1998.


ZIMMER, Elizabeth. Oz in Perspective: Fantasy and Reality in Baum’s Works. Boston: Beacon Press, 2005.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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