sexta-feira, 12 de setembro de 2025

ITÁKYAPÛRANG E O ITÁKYÎUTÎ, Os Picapaus Topete Vermelho e o Amarelo






A Fábula dos Picapaus e as Crianças 


Certa manhã, um menino curioso e uma menina sonhadora caminhavam pela mata. De repente, ouviram batidas fortes num tronco e viram um pássaro com o topete vermelho como fogo. Logo adiante, outro surgiu, de plumagem amarelada e brilho dourado.




— Olha! — disse o menino — É o Pica-Pau da televisão, aquele de cabeça vermelha!

— Não! — retrucou a menina — Este deve ser o Pica-Pau Amarelo da história de Monteiro Lobato!

As aves, ao ouvirem, bateram as asas e pousaram diante das crianças.

O do topete vermelho falou:

— Eu sou Itákyapûrang, o Pica-Pau-de-topete-vermelho. Não sou personagem de desenho, mas um guardião da floresta. Vivo nas árvores altas, alimento-me de insetos escondidos nos troncos e meu canto ecoa pelo Brasil e além.


O amarelo, por sua vez, completou:

— E eu sou Itákyîutî, o Pica-Pau-amarelo verdadeiro, que habita a Amazônia e muitas matas do Brasil. Não sou criação de livros, mas parte viva da floresta, com o brilho do sol em minhas penas.




As crianças se entreolharam, meio envergonhadas.

— Então vocês não são o da TV, nem o do sítio? — perguntou a menina.

— Não — respondeu Itákyapûrang —, mas cada história tem sua importância.

— Os homens inventaram personagens para ensinar e divertir. Nós existimos para lembrar que a floresta é a nossa verdadeira casa, e precisa ser respeitada — disse Itákyîutî.


O menino e a menina sorriram.

— Agora entendemos: o desenho e o sítio são imaginação, mas vocês são vida de verdade.


As aves abriram as asas e voaram alto, deixando no ar o eco de suas batidas no tronco, como se fosse uma lição gravada na memória das crianças.


🌿 Moral da fábula:


A imaginação cria personagens, mas a natureza cria a vida verdadeira. Valorizar os seres da floresta é proteger as histórias mais antigas do mundo.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




📜 ITÁKYAPÛRANG E O ITÁKYÎUTÎ, Os Pica-paus Topete Vermelho e o Amarelo

( Versão Cordel Sextilhas )



Na beira da mata densa

Um menino foi brincar,

Com ele a irmã curiosa

Seguiu firme a caminhar.

De repente ouviram batidas,

Alguém no tronco a martelar.


Era Itákyapûrang,

Do topete cor de fogo,

Com seu canto retumbante

Mostrou da floresta o rogo.

Guardião das altas árvores,

Sábio no saber tão logo.


Logo outro pássaro veio,

Com as penas cor de ouro,

Era Itákyîutî brilhando,

Como o sol em seu tesouro.

Bateu forte no tronco antigo,

Revelando um canto sonoro.


As crianças se enganaram

Com a imagem na memória:

— É o pica-pau da TV!

— Não, é o do sítio, na história!

Mas as aves responderam,

Revelando sua glória.


— Não somos personagens,

Mas da mata a tradição.

Vivemos livres nas árvores,

Com coragem e proteção.

Somos a vida da floresta,

Guardada em cada canção.


O menino e a menina

Aprenderam a lição:

O que existe na fantasia

É diverso do chão-chão.

Na natureza é que mora

O segredo da criação.


🌿 Moral da fábula:

A imaginação diverte, mas a floresta é quem ensina. Proteger os seres da mata é honrar a vida divina.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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