A Fábula dos Picapaus e as Crianças
Certa manhã, um menino curioso e uma menina sonhadora caminhavam pela mata. De repente, ouviram batidas fortes num tronco e viram um pássaro com o topete vermelho como fogo. Logo adiante, outro surgiu, de plumagem amarelada e brilho dourado.
— Olha! — disse o menino — É o Pica-Pau da televisão, aquele de cabeça vermelha!
— Não! — retrucou a menina — Este deve ser o Pica-Pau Amarelo da história de Monteiro Lobato!
As aves, ao ouvirem, bateram as asas e pousaram diante das crianças.
O do topete vermelho falou:
— Eu sou Itákyapûrang, o Pica-Pau-de-topete-vermelho. Não sou personagem de desenho, mas um guardião da floresta. Vivo nas árvores altas, alimento-me de insetos escondidos nos troncos e meu canto ecoa pelo Brasil e além.
O amarelo, por sua vez, completou:
— E eu sou Itákyîutî, o Pica-Pau-amarelo verdadeiro, que habita a Amazônia e muitas matas do Brasil. Não sou criação de livros, mas parte viva da floresta, com o brilho do sol em minhas penas.
As crianças se entreolharam, meio envergonhadas.
— Então vocês não são o da TV, nem o do sítio? — perguntou a menina.
— Não — respondeu Itákyapûrang —, mas cada história tem sua importância.
— Os homens inventaram personagens para ensinar e divertir. Nós existimos para lembrar que a floresta é a nossa verdadeira casa, e precisa ser respeitada — disse Itákyîutî.
O menino e a menina sorriram.
— Agora entendemos: o desenho e o sítio são imaginação, mas vocês são vida de verdade.
As aves abriram as asas e voaram alto, deixando no ar o eco de suas batidas no tronco, como se fosse uma lição gravada na memória das crianças.
🌿 Moral da fábula:
A imaginação cria personagens, mas a natureza cria a vida verdadeira. Valorizar os seres da floresta é proteger as histórias mais antigas do mundo.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
📜 ITÁKYAPÛRANG E O ITÁKYÎUTÎ, Os Pica-paus Topete Vermelho e o Amarelo
( Versão Cordel Sextilhas )
Na beira da mata densa
Um menino foi brincar,
Com ele a irmã curiosa
Seguiu firme a caminhar.
De repente ouviram batidas,
Alguém no tronco a martelar.
Era Itákyapûrang,
Do topete cor de fogo,
Com seu canto retumbante
Mostrou da floresta o rogo.
Guardião das altas árvores,
Sábio no saber tão logo.
Logo outro pássaro veio,
Com as penas cor de ouro,
Era Itákyîutî brilhando,
Como o sol em seu tesouro.
Bateu forte no tronco antigo,
Revelando um canto sonoro.
As crianças se enganaram
Com a imagem na memória:
— É o pica-pau da TV!
— Não, é o do sítio, na história!
Mas as aves responderam,
Revelando sua glória.
— Não somos personagens,
Mas da mata a tradição.
Vivemos livres nas árvores,
Com coragem e proteção.
Somos a vida da floresta,
Guardada em cada canção.
O menino e a menina
Aprenderam a lição:
O que existe na fantasia
É diverso do chão-chão.
Na natureza é que mora
O segredo da criação.
🌿 Moral da fábula:
A imaginação diverte, mas a floresta é quem ensina. Proteger os seres da mata é honrar a vida divina.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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