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Índios pescando no Rio São Francisco |
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Mulheres pescando no caniço |
Lembro muito bem, em maio as mulheres Kariri-Xocó, combinando com as
outras indias, para sairem ao rio pegar peixes. Entre muitos tipos de
pesca existente na tribo, a “Pescaria do Caniço” (mata ciliar do rio)
composta de calumbí e capim que leva o nome dessa atividade. Esta pesca é
uma tradição muito antiga dos Kariri-Xocó. Saem para o Rio São
Francisco dois grupos de pescadeiras de jereré, quando chega nas
margens, um grupo cai na água por um lado e o outro grupo sai pelo outro
lado, com um homem na frente o Cortador de mato no peito,em cada
equipe. Se encontram os dois grupos formando uma meia lua, cercando o caniço com
seus jererés. O peixe cercado pelas pequenas redes, é capturado à mão,
quando caem no bolso da rede de pesca. Nestas pescarias de caniço era
comum sair alguém mordido por piranha. Os índios começavam a pescar na
margem do rio da propriedade do finado Tojal em Colégio, indo até o
Povoado Tibirí na vazante de Zeca Mandú no município de São Brás. Quando
estes locais de costume, já tinham sido muito pescado muitas vezes, os
índios buscavam outras parágens, para pescar de caniço. Seguiam na canoa
do Cacique Cícero, para pescar no Povoado Barra, Morro Vermelho, Cabo
Verde, Santa Cruz, do outro lado do rio já no estado de Sergipe. Quando
retornavam das pescarias, vinhas com muitos peixes, de boa qualidade:
piáus, mandins, traíra, bambá. Nestas pescarias, as mulheres saiam de
manhã, só retornando á noite. Cada mulher levava uma criança pra juntar o
peixe pescado. A criança que participava nesta tarefa era chamado ”
Ajuntador”. Não levavam comida, só o sal e a farinha, fumo, cachimbo de
canudo, fósforo. Comiam lá o próprio peixe que pescavam, trazendo muito
ainda para casa. A última ” Pescaria de Caniço” feita pelos Kariri-Xocó,
foi em 1976, muito donos de propriedades, situadas nas margens do rio São Francisco cortaram o mato
do caniço, impedindo esta atividade tão importante para este povo
indígena. Os índios mais experientes no rio pescam peixes sem artifícios
de pesca : anzol, tarrafa, rede ou puçá, vai de mãos limpa sem nada,
mergulhar nas águas profundas, botando o braço na loca. Neste tipo de
pesca precisa ter fôlego comprido, para não morrer sufocado, tem de
trazer o peixe na mão ou no dente, isto é uma arte muito antiga. Não é
todo tipo de peixe, que se pega de mão, tem aqueles que vivem em águas
profundas do rio : niquim, carí, pacomõ, cumbá, mandim e surubim. Conta
minha mãe Maria de Lourdes, que uns dos índios mais habilidosos da
tribo, na arte de pescar de mergulho, era os Srs., Euclides Ferreira e o
finado Filintro, começavam de manhãzinha , após o Sol nascer, pegava o
peixe na cama , em sua loca submersa. Diziam as índias velhas que eles
eram amigados com as mães dáguas do rio, por isso pegavam muito peixes,
sem artifício nenhum. Hoje em dia os índios pescam de mergulho, com
arpão, atiram no peixe de longe, com óculos aquático, agora estar mais
fácil, com esta tecnologia, é feito de ferro, madeira, borracha de soro,
parece uma espingarda, o tiro é certeiro. A pescaria de mergulho dar
muita vantagem ao pescador, só pegam o peixe escolhido, os maiores bom de vender e comer, os pescadores passam o dia inteiro no
rio, só voltam ao entardecer. Para pescar de mergulho a água tem que
estar clara e limpa, para ver o peixe e pegar , com água barrenta fica
difícil enxergar, nos meses de inverno não é bom pescar, os afluentes do
Rio São Francisco, deságuam na Bacia Hidrográfica, deixando a água
amarela de cor de barro, mas isso é coisa da natureza , agradecemos pela
fartura , que um dia virá. Nas lagoas existente da aldeia Kariri-Xocó, a
Lagoa Comprida é aquela que banha o pé do Morro do Alto do Bode antigo
local onde ficava o Ouricuri em cima de seu topo. Nhenety Kariri-Xocó .
http://www.thydewa.org/livros/memoria/kariri-xoco/
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