segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

PESCARIA NO RIO SÃO FRANCISCO


Índios pescando no Rio São Francisco

Mulheres pescando no caniço
   Lembro muito bem, em maio as mulheres Kariri-Xocó, combinando com as outras indias, para sairem ao rio pegar peixes. Entre muitos tipos de pesca existente na tribo, a “Pescaria do Caniço” (mata ciliar do rio) composta de calumbí e capim que leva o nome dessa atividade. Esta pesca é uma tradição muito antiga dos Kariri-Xocó. Saem para o Rio São Francisco dois grupos de pescadeiras de jereré, quando chega nas margens, um grupo cai na água por um lado e o outro grupo sai pelo outro lado, com um homem na frente o Cortador de mato no peito,em cada equipe. Se encontram os dois grupos formando uma meia lua, cercando o caniço com seus jererés. O peixe cercado pelas pequenas redes, é capturado à mão, quando caem no bolso da rede de pesca. Nestas pescarias de caniço era comum sair alguém mordido por piranha. Os índios começavam a pescar na margem do rio da propriedade do finado Tojal em Colégio, indo até o Povoado Tibirí na vazante de Zeca Mandú no município de São Brás. Quando estes locais de costume, já tinham sido muito pescado muitas vezes, os índios buscavam outras parágens, para pescar de caniço. Seguiam na canoa do Cacique Cícero, para pescar no Povoado Barra, Morro Vermelho, Cabo Verde, Santa Cruz, do outro lado do rio já no estado de Sergipe. Quando retornavam das pescarias, vinhas com muitos peixes, de boa qualidade: piáus, mandins, traíra, bambá. Nestas pescarias, as mulheres saiam de manhã, só retornando á noite. Cada mulher levava uma criança pra juntar o peixe pescado. A criança que participava nesta tarefa era chamado ” Ajuntador”. Não levavam comida, só o sal e a farinha, fumo, cachimbo de canudo, fósforo. Comiam lá o próprio peixe que pescavam, trazendo muito ainda para casa. A última ” Pescaria de Caniço” feita pelos Kariri-Xocó, foi em 1976, muito donos de propriedades, situadas nas margens do rio São Francisco cortaram o mato do caniço, impedindo esta atividade tão importante para este povo indígena. Os índios mais experientes no rio pescam peixes sem artifícios de pesca : anzol, tarrafa, rede ou puçá, vai de mãos limpa sem nada, mergulhar nas águas profundas, botando o braço na loca. Neste tipo de pesca precisa ter fôlego comprido, para não morrer sufocado, tem de trazer o peixe na mão ou no dente, isto é uma arte muito antiga. Não é todo tipo de peixe, que se pega de mão, tem aqueles que vivem em águas profundas do rio : niquim, carí, pacomõ, cumbá, mandim e surubim. Conta minha mãe Maria de Lourdes, que uns dos índios mais habilidosos da tribo, na arte de pescar de mergulho, era os Srs., Euclides Ferreira e o finado Filintro, começavam de manhãzinha , após o Sol nascer, pegava o peixe na cama , em sua loca submersa. Diziam as índias velhas que eles eram amigados com as mães dáguas do rio, por isso pegavam muito peixes, sem artifício nenhum. Hoje em dia os índios pescam de mergulho, com arpão, atiram no peixe de longe, com óculos aquático, agora estar mais fácil, com esta tecnologia, é feito de ferro, madeira, borracha de soro, parece uma espingarda, o tiro é certeiro. A pescaria de mergulho dar muita vantagem ao pescador, só pegam o peixe escolhido, os maiores bom de vender e comer, os pescadores passam o dia inteiro no rio, só voltam ao entardecer. Para pescar de mergulho a água tem que estar clara e limpa, para ver o peixe e pegar , com água barrenta fica difícil enxergar, nos meses de inverno não é bom pescar, os afluentes do Rio São Francisco, deságuam na Bacia Hidrográfica, deixando a água amarela de cor de barro, mas isso é coisa da natureza , agradecemos pela fartura , que um dia virá. Nas lagoas existente da aldeia Kariri-Xocó, a Lagoa Comprida é aquela que banha o pé do Morro do Alto do Bode antigo local onde ficava o Ouricuri em cima de seu topo. Nhenety Kariri-Xocó .

http://www.thydewa.org/livros/memoria/kariri-xoco/




















































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