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Rio com águas das trovoadas do Sertão |
Aqui no Baixo São Francisco, as primeiras pancadas de trovoadas,
começam de novembro a janeiro. Pode cair em qualquer um destes meses,
vai depender da natureza, das massas de ar, vindas do oceano Atlântico.
Quando vem as trovoadas, os afluentes do São Francisco, aumenta o volume
dágua em todo o vale. As lagoas marginais enchem com a grande
quantidade de chuvas que caem na região. Os cágados dágua (tartarugas)
saem do rio para as lagoas , no ciclo de reprodução. Correm pelas grotas
do Cambotá, Barragem, e do Sampaio, grande quantidade de água corre
pela terra, subindo as piabas, pequenos peixinhos, nadando pela força
das correntezas das chuvas de trovoadas. O céu fica escuro, a noite vem
depressa, as pessoas não saem de casa, por medo dos relâmpagos. Quando
as trovoadas vem no mês de janeiro, pega muita vezes os índios na Mata
do Ouricuri, por ocasião de sua festa religiosa tradicional. Por ser
considerada uma região de litoral, aquí em Kariri-Xocó é um local muito
chuvoso, as trovoadas sempre faz presente, todos os anos, ecoando no
vale e nas serras. No período das chuvas todos os afluentes do São
Francisco, cerca de 168 rios, riachos e regatos, aumentam o volume dágua
na bacia hidrográfica. È a chamada enchente de inverno, rios mais
importantes do Baixo São Francisco como o Ypanema, Capivara, Traipú,
Jacaré , Poxim e outros mais, inundam todo o vale. Na aldeia Kariri-Xocó
os meninos aguardam a chegada da enchente de inverno, porque é neste
período que descem no rio troncos de madeira, árvores inteiras,
arrastadas pela força das águas, vindo do alto sertão. A madeira que
descem no rio, os meninos e a população ribeirinha aproveitam a lenha
para fazer as fogueiras de Santo Antônio, São João e São Pedro. Os
meninos indígenas quando vêem os troncos descer o rio, caem na água
nadando, sobem na árvore boiando, e arrasta até a margem, chamam os
adultos para levar a lenha das festas juninas. Não é uma grande
enchente, mas uma grande enxurrada no rio, descem no rio além da
madeira, tatus, cobras, teus, camaleão e outros animais silvestres. As
águas do rio ficam cheias de basculho, pau, bagaço de vegetais secos,
que descem nas enxurradas. Nas portas dos indígenas ficam cheias de
madeira, tiradas do rio, colocam no Sol para secar, para quando chegar o
tempo das fogueiras, a lenha já ali estar. Nhenety Kariri-Xocó.
http://www.thydewa.org/livros/memoria/kariri-xoco/
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