segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

TROVOADAS NO RIO

Rio com águas das trovoadas do Sertão
  Aqui no Baixo São Francisco, as primeiras pancadas de trovoadas, começam de novembro a janeiro. Pode cair em qualquer um destes meses, vai depender da natureza, das massas de ar, vindas do oceano Atlântico. Quando vem as trovoadas, os afluentes do São Francisco, aumenta o volume dágua em todo o vale. As lagoas marginais enchem com a grande quantidade de chuvas que caem na região. Os cágados dágua (tartarugas) saem do rio para as lagoas , no ciclo de reprodução. Correm pelas grotas do Cambotá, Barragem, e do Sampaio, grande quantidade de água corre pela terra, subindo as piabas, pequenos peixinhos, nadando pela força das correntezas das chuvas de trovoadas. O céu fica escuro, a noite vem depressa, as pessoas não saem de casa, por medo dos relâmpagos. Quando as trovoadas vem no mês de janeiro, pega muita vezes os índios na Mata do Ouricuri, por ocasião de sua festa religiosa tradicional. Por ser considerada uma região de litoral, aquí em Kariri-Xocó é um local muito chuvoso, as trovoadas sempre faz presente, todos os anos, ecoando no vale e nas serras. No período das chuvas todos os afluentes do São Francisco, cerca de 168 rios, riachos e regatos, aumentam o volume dágua na bacia hidrográfica. È a chamada enchente de inverno, rios mais importantes do Baixo São Francisco como o Ypanema, Capivara, Traipú, Jacaré , Poxim e outros mais, inundam todo o vale. Na aldeia Kariri-Xocó os meninos aguardam a chegada da enchente de inverno, porque é neste período que descem no rio troncos de madeira, árvores inteiras, arrastadas pela força das águas, vindo do alto sertão. A madeira que descem no rio, os meninos e a população ribeirinha aproveitam a lenha para fazer as fogueiras de Santo Antônio, São João e São Pedro. Os meninos indígenas quando vêem os troncos descer o rio, caem na água nadando, sobem na árvore boiando, e arrasta até a margem, chamam os adultos para levar a lenha das festas juninas. Não é uma grande enchente, mas uma grande enxurrada no rio, descem no rio além da madeira, tatus, cobras, teus, camaleão e outros animais silvestres. As águas do rio ficam cheias de basculho, pau, bagaço de vegetais secos, que descem nas enxurradas. Nas portas dos indígenas ficam cheias de madeira, tiradas do rio, colocam no Sol para secar, para quando chegar o tempo das fogueiras, a lenha já ali estar. Nhenety Kariri-Xocó.


http://www.thydewa.org/livros/memoria/kariri-xoco/








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