terça-feira, 8 de janeiro de 2013

ALDEIA NA SEMENTEIRA


    Quando todos Kariri-Xocó moravam na Rua dos Índios em Porto Real do Colégio, Alagoas a Fazenda Modelo denominada Sementeira, os índios não podiam tirar barro da Lagoa Comprida, em cujas margens estar o Alto do Bode colina onde ficava antiga Taba (Aldeia) antes da chegada dos brancos . Conquistar a Sementeira era um retorno ao nosso Território Tradicional Indígena, morar numa rua na periferia da cidade sem poder plantar  nossas roças era uma grande angústia da comunidade, viver misturado a outras pessoas de cultura diferente da nossa era uma pressão descriminaória por ser-mos indígenas com cantos e danças do Toré . Por esses motivos e mais alguns saimos da Rua dos Índios para construir nossa Nova Aldeia Kariri-Xocó na Sementeira. Neste dia 31 de outubro de 1978 finalmente retomamos  a terra tradicional. Na época foi notícia nos jornais do estado de Alagoas, ocupamos as casas, prédios da escola, galpões, a Sede da Fazenda, estábulo e tudo que servia de moradia. Aos poucos fomos construindo nossas casas, trabalhando na olaria, pescando, plantando. Na conquista da Sementeira ficou um grupo de homens fazendo vigilancia no portão na nova aldeia, toda a noite a fogueira era acesa, eu passava em clara escutando histórias, de nossos antepassados, como perderam suas terras no período do Brasil Império, para a criação do município em 1876, ou até mesmo por invasão de pousseiros no nosso território tradicional. Tivemos que se contentar só com a Mata do Ouricuri que nunca deixamos de praticar nossos costumes. Passamos por várias fases da história do Brasil , mas a Religião Indígena Kariri-Xocó é sagrada, quinzenalmente saímos para a floresta fazer os rituais. A mudança não foi fácil, porque muitos índios nasceram naquela querida rua, nossos pais, avós , a cidade de Porto Real do Colégio foi originada de nossa aldeia que foi transformada em Povoação de Colégio para Porto Real do Colégio, temos raizes profundas na formação da sociedade colegiense. Mas morar na Sementeira elevou nossa estima, ficamos mais tranquilos para praticar os costumes sem ser incomodados. Gostamos de cozinhar de lenha, fazer potes, panelas, dançar o toré, ficar sentado na porta até altas horas contando histórias. A vida continua, quando acabou a enchete, fomos continuar a plantar nossas roças em regime de mutirão, construir casas, pescar em grupo, comemorar nossas colheitas. Os habitantes são todos nossos conhecidos, trabalhava-mos juntos, jogavam bola no mesmo clube, estudava na mesma escola, mesmo ensino, participavam das festas religiosas dos mesmos padroeiros São Roque em agosto e Nossa Senhora da Conceição em dezembro. O Posto Indígena Kariri-Xocó, a Escola Indígena Gilberto Pinto Fiqueredo Costa também foi trasferida para a nova aldeia.O que mais gostei foi conhecer a terra da Sementeira que agora era nossa, junto com outros adolescentes, saimos coletar frutas, caçar, pescar nas lagoas, as meninas saiam com as mães para os barreiros de argila a matéria prima da ceramica. Outras famílas indígenas continuam na Rua dos Índios (Rua São Vicente ), na Rua Dr. Clementino do Monte, Rua Santa Cruz, São Roque e outras ruas mais. Valeu retornar a  terra onde ficava nossa antiga aldeia, estar aqui nesse lugar nos faz recordar as histórias dos anciões que faz viver viver a Memória. Nhenety Kariri-Xocó .

































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