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Caminho no Inverno |
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Pessoas, carros e motos no caminho |
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Descendo a ladeira das cajazeiras |
Antes de chegar os colonizadores no Baixo São Francisco cada povo
indígena tinha sua aldeia em ambas as margens do rio, cada etnia com seu
território, lugar das roças, ponto das caçadas, local dos peixes,
florestas inteiras cobriam vasta região. Na própria aldeia que moravam
era também espaço de suas tradições, para haver ritual o pajé marcava
pela lua, onde todos ficavam sabendo a data certa. Quando vieram os
bandeirantes e jesuítas tudo mudou, índios massacrados, outros reduzidos
em aldeamentos jesuítico ou missões religiosas , aqui os
sobreviventes dessas grupos indígenas foram reunidos em Urubu-Mirim como
fora chamada a nossa aldeia pelos padres. Os indígenas foram obrigados
a conhecer a religião Cristã, aprender nova língua, com cultura
diferente das nossas . Nós não aceitamos essa condição de extermínio,
para darmos continuidade nossas raízes ancestrais, praticamos nossos
rituais do Ouricuri às escondidas. As vezes os padres jesuítas saiam
para outras aldeias distantes rio acima ou a baixo, neste ínterim
fugimos momentaneamente para as matas longe dos olhares dos
colonizadores, fazemos nossas caminhadas para praticarmos nossos
rituais as pressas, dando a entender a eles que deixamos nossos
costumes. Terminando as proibições dos jesuítas e diretores da aldeia
contra os indígenas, foi possível fazer nosso ritual mais sossegado, mas
continuamos com nossas tradições longe dos brancos. Assim ficamos com
duas aldeias, uma para morada perto do rio vizinho a cidade, e outra
aldeia no interior da floresta conhecida como Ouricuri. Ficou a tradição
de fazer a caminhada da aldeia na margem do rio para a Mata do Ouricuri
que dar aproximadamente uma légua de distancia. O caminho de chão
batido, no verão fica empoeirado, no inverno muita lama ficando as
marcas de nossas pegadas. Caminhando no período chuvoso junto com ao
Cacique Otávio na estrada tradicional, ele dizia “ este é o rastro de
Miguel Suíra estar vendo o pezão dele, aquele outro me parece a marca do
pé de Maria Tinga porque é estrito bem fininho “. Em outra ocasião caminhando com minha mãe Maria de Lourdes ela identificou a marca do pé meu Pai Alírio que era seu esposo, dizendo seu pai vai aí na nossa frente olha o rastro dele , faz tempo que saiu terá que pegar peixe no rio, eu repliquei como a senhora sabe que essa marca no chão é do pé dele, ela respondeu meu filho já conheço seu pai o pé dele é achatado sambeto. Naquele tempo isso
era possível nosso povo era em menor número, hoje fica difícil
identificar o rastro de alguém no caminho. Agora estar mudando os
rastros do caminho, começou com os pés, depois apareceu o cavalo, a
carroça, bicicleta, moto e muitos automóveis.
Nhenety Kariri-Xocó
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