quarta-feira, 20 de julho de 2022

RAIZ *GE 'CIMA' PROTO-KARIRI NO KIPEÁ


A raiz *ge 'cima' do proto-kariri e seu resultado no kipeá



 Essa palavra nunca surge de forma independente dentro dos dialetos Kariri, ela só surge em compostos, principalmente aquele que significa 'para cima' do Proto-Kariri *ge-mɨ 'cima-em direção à/ao', não tem tradução boa no português, equivalente ao sufixo -wards do inglês'.


 Cada dialeto teve seu resultado específico, nos dialetos do sul como o Sabuyá e o Kamurú é possível ver a preservação do som g em gemuih, já nos do norte vemos uma lenição deste som, no Dzubukuá o *g só passa por um estágio e se tornou *ɣ, já no Kipeá vemos uma mudança fonética comparável ao inglês antigo, pois o *g passou por dois estágios de lenição e diferente do inglês antigo (como por exemplo ġeard /jæ͜ɑrd/ 'jardim' ancestral da palavra yard que deriva do Proto-Germânico *gardaz), esse fonema parecia transitar livremente entre sua forma original e estes estágios, as mudanças foram *g > ɣ > j.

 

 Esta mudança está bem registrada entre as duas línguas do norte, vemos a palatalização do g em palavras como sambýye (Dz.: habuiham), yemý (Dz.: hemui, Sb.: gemuih) e nio (Dz.: nhinho, leia-se nhin-ho e NÃO nhi-nho), e vemos a transição livre entre os estágios de lenição, pois temos a palavra hechi 'alto, lit.: cima-comprido' ao invés de *yechi.


 Com tudo isso dito, o objetivo desse texto é demonstrar que na fala coloquial dos Kipeá, muito provavelmente havia uma mudança livre entre esses fonemas, pois eles eram interpretados como o mesmo som, portanto o fonema *g do Proto-Kariri foi herdado no Kipeá como /g/, /ɣ/ e /j/.




Autor da matéria: Ari Loussant 

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