Em um tempo distante, reinou uma família generosa conhecida como Pranhú (Campos diversos), eram uma divisão poderosa dos Wakonãs (irmãos), não só eles como todo sua grande aldeia sobejava de riquezas que a Grande Avó presenteou, eram afortunados os Pranhunã. Um dia uma jovem indígena chamada Piúna (Rio Negro) colhia frutos na mata com suas companheiras, ao voltar notou que na chegada das coletoras coincidia com a saída dos caçadores, e viu um caçador liderando o bando, era jovem como ela e parecia valente.
Piúna não sabia seu nome, mas ficou curiosa para saber quem era o rapaz, assim então pediu para suas colegas que levassem sua coleta de volta para o centro da aldeia, a garota acompanhou secretamente os caçadores, sempre tomando cuidado para não ser percebida, o caçadores aquietaram-se, o silêncio gritante revestia a mata. A garota tornou-se concentrada e observou os caçadores, mas notou a falta de alguns, para ela parecia ter menos do que ela tinha visto quando saíram da aldeia. De fato, até mesmo o jovem líder não estava entre eles.
Piúna perdeu a curiosidade e virou-se de costa, tal qual foi seu espanto ao ver 7 lanças apontadas para seu arbusto, num instante, por puro pânico, Piúna se levanta e diz "não sou caça! não sou caça!", disse a agora apavorada jovem. No que ela disse isso, uma resposta surge: "mas perseguia como uma", esta resposta surge de trás dos 7 lanceiros, um homem alto e forte surge:
Majímpramassá pawassú / Aguerrido e Valente
Suwidênê majím Pranhú / Pranhú é, é dessa gente
Sikiôbí máê lá bêdsiê / não o há traço o bastante
Aprabrássám Má Tikúnê / Ó Ticunê grand'e exultante
Ele se apresentou, cheio de garbo, com seus 7 leais lanceiros conhecidos como Aramanassunã (Folhas do Vendaval), seu líder se apresentou como Ticunê (agrupamento de cabeças) e imediatamente, mais uma surpresa para a moça, Ticunê disse: "és uma das coletoras, não ? Piúna que é a mais jovem entre todas elas", a jovem pasma e sem como reagir apenas disse "se a ti não importar, posso acompanhá-los nas próximas caçadas ?", Ticunê olhou para os sete e soltou uma gargalhada que assustou os animais da mata, disse então ao lanceiro Sissauí, da nação Kariri conhecida como Rônatéá: "Ticunê meu amigo, queres que nossas casas não tenham o que comer essa noite ?", Ticunê pediu desculpa e respondeu a garota: "Pois bem, mas faça-se útil enquanto nos acompanha".
Piúna passou 1 ano e meio acompanhando Ticunê e seus caçadores, neste tempo, ela tornou-se não só uma acompanhante e sim experiente com o arco e a flecha, ganhando o apelido de Essaeté (Olho Verdadeiro). Essaeté tinham a destreza de um carcará e portanto construiu lentamente o respeito de caçada em caçada, juntando-se de forma não oficial às 7 lanças, neste tempo ela sempre manteve uma questão guardada para si, sempre notou que o líder dos caçadores era acompanhado por pessoas importantes e tinha guardas pessoais, "não pode ser que ele seja um príncipe, não é ?" pensou ela.
Eis que um dia, a aldeia estava inquieta, pelo menos os mais velhos pareciam deveras agitados na visão de Piúna, e assim como ela notou, Ticunê avisa aos lanceiros e Essaeté que todos os hábeis nas armas "levantassem a palmeira", expressão bastante usada entre os Pranhunã para uma visita à oca principal da aldeia, nunca se era pedido para levantar a palmeira se não fosse de extrema relevância.
Duas folhas de um grupo de palmeiras sagradas para os Pranhú cobriam a porta da oca do chefe, a ansiedade se assentava no coração de Piúna Essaeté, que nunca houvera visitado o chefe de seu povo e nunca tinha imaginado que o faria em sua vida, Ticunê, as setes lanças e arqueira entram, o líder e os lanceiros imediatamente se sentam de pernas cruzadas, Piúna rapidamente os acompanha. Na magnitude da liderança, estava no topo de toda a fortuna dos Pranhunã a família Pranhú, comandadas pelo seu líder ancestral e terceiro filho de Dzacrutú, Cacique Dzacupêm. O chefe Dzacupêm então afirma com palavras que retumbam pela oca: "é por uma razão que chamo você, meu filho e seus guerreiros", Ticunê afirma antes de Dzacupêm completar "deve ser guerra, não meu chefe ?", todos os guerreiros começam a sussurrar e discutir entre si, Essaeté estava muito agoniada, nunca em sua mente havia passado a ideia de participar de uma guerra.
Sêmêntiamassá malhidzá / Batalha que assola o futuro
Pôavissára nêmassá tá / Feroz à vida, abismo escuro
Praussúma ê pitivôm / trá-lo-ás ao mundo a dor
Lhuá widêkú lamá sôm / só contrário ao grão amor.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
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