Um Conto Sobre Parentesco
Na aldeia às margens do rio, o pequeno Dzõ corria entre as árvores, animado com o que iria aprender naquele dia. Ele havia sido escolhido para passar um tempo com o sábio Padzú ayby eri Tokenhé, seu bisavô. Era um velho de fala mansa e olhos que guardavam muitas histórias.
Ao chegar à maloca de palha, o menino foi recebido por Dé ayby eri Nhiké, sua bisavó, que teceu para ele um colar de sementes vermelhas.
— Sente-se aqui, Dzõ, meu sobrinho, — disse o velho com um sorriso. — Hoje vamos conversar sobre nossa família, nossos Etçamyá Uanieá, nossos parentes indígenas.
Tokenhé, o avô, chegou logo em seguida trazendo raízes e frutas da mata, acompanhado de sua esposa, Nhiké, a avó bondosa que sabia os cantos antigos.
Então, a Dé, a mãe de Dzõ, chegou com seu companheiro Padzú, o pai do menino, trazendo farinha fresca. Junto deles, vinham os irmãos de Dé: o brincalhão Paidenhé, o tio, e a doce Dedenhé, a tia que sabia cuidar das ervas.
Ali perto, seus primos Dzedzé, tanto os meninos quanto as meninas — pois o nome era o mesmo para todos — jogavam peteca e riam alto, convidando Popó, o irmão mais velho de Dzõ, e Biké, sua irmã, para brincar.
Enquanto as crianças se afastavam, os adultos continuavam conversando. Dzõ escutava tudo, mesmo de longe.
— Quando Biké casar, seu esposo será o Myté, meu genro — disse Padzú, sorrindo para a filha.
— E a esposa de Popó será a Mytedéá, nossa nora — completou Dé, acariciando os cabelos brancos de sua mãe.
— E quem é o Dzacá? — perguntou o menino curioso, voltando correndo.
— O Dzacá é o sogro, pai da esposa — respondeu Tokenhé.
— E a Dzacadé é a sogra, mãe da esposa — acrescentou Nhiké, com sua voz serena.
Dzõ ficou um pouco confuso com tantos nomes. Então o Irandete, seu padrinho, chegou montado num cavalo bonito, e logo atrás vinha a Idzedeté, sua madrinha, trazendo doces de macaxeira.
— Também somos parte de tua grande família, menino — disse o Irandete.
No final da tarde, chegou o novo companheiro de Dedenhé, o Usaruntsó, noivo da filha de Dé. E a Usarunghí, noiva do filho de Paidenhé, veio junto com os pais dela. Havia festa, havia celebração.
No meio de tanta conversa, o menino perguntou:
— E quando a mulher já tem filhos e casa com outro homem, como chamamos?
Nhiké explicou:
— Esse homem é o Padzunyentá, o padrasto.
— E se for o contrário, ela é a Deyentá, a madrasta, completou Dé.
— E os filhos que não nasceram dos dois juntos? — perguntou Dzõ, curioso.
— São os Nhuraenentá, os enteados — respondeu Padzú, com carinho.
O sol se escondia atrás das montanhas quando o velho Tokenhé concluiu:
— Cada nome é mais do que uma palavra. É afeto, é memória, é laço que não se perde. Os nomes dizem quem somos entre os nossos. Lembra-te sempre disso, meu neto.
E Dzõ, com o colar de sementes no peito e o coração cheio de sabedoria, entendeu que conhecer os nomes da família era, também, conhecer o próprio caminho no mundo.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó