Esse texto era para ter sido publicado ontem, mas acabei ficando até tarde revisando tudo de novo, chegando assim uma decisão, recomeçar o vocabulário que venho usando, que é esse:
Aquiraz, Baikirás, Agoaki-rá ‘cobra comprida (?) (Albissetti, 1962, p. 185, 893, awagɨ ‘cobra’, rai ‘comprimento’)
Awa ‘altibaixos’ (Carvalho, 1987, p. 9, agûá ‘altibaixos’)
Away 'chocalho, maracá' (Courtz, 2008, p. 293, karawasi, kawai, awai 'chocalho, espécie de Thevetia')
Awamamune, Aguamamune, Awamamene, Aquamamune, Camamune, Aquemamune (
Acuma (possivelmente c = ç, visto o s nas outras variantes), Asuceme, Asumame, Asumeme ‘povo, gente (?) (Compare o nome dos Acimi na Ibiapaba, também Loukotka, 1937, p. 198, cemim, cumema ‘gente’)
Bon, bum ‘ilha’ (Pompeu Sobrinho, 1951, p. 265; Curubon, Curubum ‘nome de uma ilha’, compare upaon da ilha de Upaon-Açu, lit.: ‘ilha-grande’; Courtz, 2008, p. 341, pawu ‘ilha’)
Aracati, Aracat 'muito rápido' (variante posterior de Orecatu, compare Courtz, 2008, p. 239, orekan, arekan, erekan ‘rapidez, velocidade’)
Cauron 'variante antiga do nome do rio Curu' (Courtz, 2008, p. 295, Kauru 'rio Courou (rio da Guiana Francesa)')
Conoribo, Coronibo ‘rio turvo’ (Compare com Albissetti, 1962, p. 766, kuru ‘líquido’, Courtz, 2008, p. 295, Kauru 'rio Courou (rio da Guiana Francesa)' e Loukotka, 1937, p. 207, marim ponam ‘escuro’ > mripon/mnipon > Cono-ribo/Coro-nibo)
Coruybe ‘rio turvo’ (Compare com Albissetti, 1962, p. 766, kuru ‘líquido’, Courtz, 2008, p. 295, Kauru 'rio Courou (rio da Guiana Francesa)' e Loukotka, 1937, p. 207, marim ponam ‘escuro’ > mripon/mnipon > Cono-ribo/Coro-nibo > Coru-ybe)
Curu ‘água (abundante), rio’ (Compare com Albissetti, 1962, p. 766, kuru ‘líquido’ e Courtz, 2008, p. 295, Kauru 'rio Courou (rio da Guiana Francesa)')
Curubon ‘nome de uma ilha (Ilhas de Chaval-CE ?) (Compare com Albissetti, 1962, p. 766, kuru ‘líquido’ e Courtz, 2008, p. 295, Kauru 'rio Courou (rio da Guiana Francesa)' + pawu ‘ilha’)
Curubu ‘Rio Trairí’ (Compare com Albissetti, 1962, p. 766, kuru ‘líquido’ e Courtz, 2008, p. 295, Kauru 'rio Courou (rio da Guiana Francesa)' + pun-ka ‘remover a carne’, tradução do Tupi taraíra)
Curujune ‘rio turvo’ (Compare com Albissetti, 1962, p. 766, kuru ‘líquido’, Courtz, 2008, p. 295, Kauru 'rio Courou (rio da Guiana Francesa)' e Lachnitt, 1987, p. 28, dzu ‘turvo, escuro’ + -ne ‘agentivo’, assim, curu-ju-ne ‘água-turvo-AG’ ou ‘que é água de aspecto escuro’)
Dequeamamene ‘que é local de altibaixos’ (
Estaju 'ser escaldante' (Courtz, 2008, aset- 'reflexivo/reciprocativo' + aju 'escaldar')
Jemame (Gemame, 1666) ‘que é local de altibaixos’ (Evolução de deceamamene)
Deli ‘nome registrado pelos holandeses das Serras do Ceará’
Josari ‘cacho(s) (de)’ (Tradução do afluente do Rio Timonha, Ubatuba ‘abundante em ubás’, Albissetti, 1962, p. 998, enari ‘cacho’))
Munaseri ‘(lugar) novo de pegar tubérculos’ (Courtz, 2008, muna ‘pegar tubérculos’; asery ‘novo’)
Orecatu 'coisa rápida' (Courtz, 2008, p. 239, orekan, arekan, erekan ‘rapidez, velocidade’ + -tu ‘nominalizador (?)’')
Pesen (Pecém) 'linha de fronteira horizontal' (Courtz, 2008, pe, peje 'linha de fronteira horizontal')
Po-noné 'Serra de Ibiapaba’ (Albissetti, 1962, p. 278, 812, bo ‘rachadura’ + no, né ‘ponta’, semelhante ao yby-apab-a ‘terra fendida (fendida de fenda, rachadura)’)
Ribo, nibo (Loukotka, 1937, p. 207, marim ponam ‘escuro’ > mripon/mnipon > ribo/nibo)
Seara, Siara ‘Rio Ceará’ (Albissetti, 1962, p. 594, 892, ia ‘boca, abertura’, ra ‘descida’)
Siebeba, Siebba ‘sem frutos’ (Courtz, 2008, p. 264, j-epe-pa ‘sem frutos’)
Siupe, Siope ‘(ele é/tem) fruto, fruta’ (Courtz, 2008, p. 330, j-ope ‘fruto, fruta’)
Sosara ‘cacho(s) (de)’ (Tradução do afluente do Rio Timonha, Ubatuba ‘abundante em ubás’, Albissetti, 1962, p. 998 enari ‘cacho’)
Temona ‘escuro’ (Loukotka, 1937, p. 206, tamariponam, por meio de: tamriponam > tam(r)ponam > tamona > temona (forma antiga do nome atual de Timonha, cujo possui a variante Tamonha registrada))
Wasapuyna, Waspuyna ‘feito pelos Gûasa’ ( wase ‘indígena, mata, floresta’, cognato do Kariri wanye ‘floresta, mata, indígena’, do Pankararú main-ê ‘mata’, do Boróro boe ‘coisa, indígena Boróro’ e do Puri-Coroado mae de maekü ‘milho’ (< Nikulin, 2020, p. 8, *bõ-cy ‘mato-semente’); A segunda palavra é puy ‘fazer’ + -na ‘predicativo’, cognato do Puri-Coroado puy de guara puy ‘construir (casa fazer)’ e do sufixo -na ‘predicativo’, assim puy-na ‘feito, construído’)
Ao invés de usá-las em conjunto, removi-as todas e coloquei somente as seguintes palavras para trabalhar:
Ariama (Pero Coelho, 1610)
Aquemamune (Diogo de Menezes, 1612)
Camamune (Figueiredo, 1614)
Dequeamamene (Mariz, 1655)
Gemame (1666)
Esse é o vocabulário máximo dessa língua Tapuya de Maranguape, que precedem as documentações de Maranguape, Maranguá, Maranguab e outras variantes, todas essas últimas que mostrei sendo do Tupi Antigo e significando 'lugar de batalha'. Com esse acervo, preferi limitar o máximo possível a extensão para vasculhar outras línguas e chegar em uma conclusão de sua origem.
Sabemos, através da documentação histórica, que além dos Tupis da costa do Ceará, haviam outros povos de origens distintas na região, como é possível notar no nome do rio que batiza o Estado do Ceará, anteriormente Siará, cujo mesmo com tantas tentativas de relacionar ao Tupi, nenhuma é verdadeiramente convincente, indicando a presença Tapuya na região. Os Itañá estavam logo ao sul das duas serras de Maranguape, no Maciço de Baturité, sendo estes os Kariri da região e quem eu especulo terem sido quem batizou os locais de nome não-tupi da região da Grande Fortaleza e proximidades, junto aos Payakú mais ao leste em Pacajus.
Os Itañá, ou uma vertente mais nortenha, são meus ancestrais na região, e aqui creio ter finalmente ter desenvolvido duas teorias sólidas, baseadas nos meses de pesquisa de conexão lexical do Kariri Antigo com o Boróro, Jaikó e Kamakã, cujo discutirei agora.
Autor da matéria: Ari Suã Kariri