Começando com essa discussão, elaboro aqui meus argumentos para inclusão do Kamakã dentro da Área de Convergência Linguística do Nordeste (ACOLINE), defendo esse posicionamento baseado nos cognatos entre o Kamakã e seus irmãos, o Krenák e o Maxakalí:
1) Partícula de posse
Proto-Transanfranciscano *ñ-uk
Kamakã: ñ-o
Krenák: nh-uk
Maxakalí: ñ-ũK
2) Ver
Proto-Transanfranciscano *pêp
Kamakã: hwe
Krenák: pip
Maxakalí: pe-nã
3) Flecha
Proto-Transanfranciscano *puñ
Kamakã: hwañ
Maxakalí: puC
4) Urinar
Proto-Transanfranciscano: *jyc
Kamakã: yak
Maxakalí: cyC
5) Preto
Proto-Transanfranciscano *tak
Kamakã: tá
Nestes exemplos, demonstrei algumas codas do Kamakã em comparação aos seus parentes mais próximos, é possível notar as correspondências de algumas das codas, é possível perceber que algumas delas são perdidas, como -t, -p e -k, mas um delas (-k) se recupera através da coda -c do Proto-Transanfranciscano (PTSF), como demonstrando no exemplo 4), isso demonstra que o processo de redução das codas foi incompleto nessa família, talvez isso indique que os Kamakã estavam na fronteira do Sprachbund, sofrendo alguns dos efeitos dela, mas não o concluindo, não é possível determinar se o processo ainda estava acontecendo na família Kamakã ou não, é possível ver que cada língua trabalhou com suas sílabas de formas de diferente, nota-se que, de forma secundária, isto é, após a conclusão da perda das codas pre-mencionadas, algumas línguas desse grupo começaram a reduzir algumas de suas sílabas e recriar codas:
(Martins, 2007)
1) Mandioca
Proto-Kamakã *kajy
Menien: kaiú
Kamakã (Martius): kasch (hipoteticamente derivado de um antigo *kaschu ou *kaschy)
2)
Esse processo de reaquisição de codas não é único do Kamakã, exemplifico por exemplo o Peagaxinã zitók, cujo derivou de um antigo jitókó ou jitókê, ou as codas do Xukurú e Tarairiú, cujo não são codas herdadas do Proto-Jê Setentrional, mas sim reduções silábicas bem anotadas por Lapenda (1962). Então temos uma língua que vivia na fronteira das línguas que sofriam dos efeitos da Área de Convergência, compensando a perda de algumas de suas codas com outras, vemos também uma coisa interessante sobre essa presença ao lado deste Sprachbund, que é a interação com a participantes diretos dessa área, o Terejê e o Kariri, cujo será o tópico da próxima publicação.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
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