domingo, 7 de abril de 2024

INCLUSÃO DOS POVOS KAMAKÃ NA PESQUISA E CRIAÇÃO DE PALAVRAS


 Eu fui lembrado pela minha amiga Adriana sobre o Kamakã, e quando abri a pesquisa de Martins de 2007, eu percebi uma coisa fascinante, o Kamakã de Martius (o mesmo pesquisador do Sapuyá e do Kamurú), batizado de Kamakã 1 (K1) na pesquisa, possui um empréstimo claro da língua Xocó em seu vocabulário:


Kamakã (Martius): schakika 'galinha'


Xocó: caki' 'galinha'


Katembri: kakika 'jacu'


 A pronuncia Xocó palatalizou a consoante inicial /k/ para /c/ (mesmo que ky ou qui de quiabo), com o processo indo além no Kamakã de Martius com a fricativização do fonema para sch /ʃ/ (mesmo que x de xícara). Essa evidência dessa interação não é a única, visto que o Dzubukuá e o Kipeá ambos pegaram emprestado a palabra para 'feijão' de uma língua Kamakã (guenhie e ghinhè respectivamente), com o Kipeá até mesmo pegando emprestado conceitos celestes (ecuwõbuye 'céu superior') vindo de uma língua que herdou *hweku 'céu' do Proto-Kamakã.


 Isso nos evidencia que houve no passado não só a interação, mas a presença contínua dos povos Kamakã no Opará, tanto no alto Rio São Francisco onde os Dzubukuá de Wrakapá viviam, quanto no baixo Rio São Francisco, onde viviam os povos Terejê e os Dzubukuá.



QUEM SÃO OS KAMAKÃ ?


 Os Kamakã são um povo Macro-Jê, falantes de línguas da família Kamakã, família esta que deriva do ramo Transanfranciscano, onde Andrey Nikulin (2020) inclui a família Maxakalí, a família Krenák e a previamente mencionada família Kamakã. As línguas transanfranciscanas são um grupos de línguas irmãs daquelas que conhecemos como Jê propriamente dito, ou seja, dividiram-se desse grupo bem cedo na história dos povos Macro-Jê, sendo uma das divisões primárias desse tronco linguístico, então veremos aqui muitas divergências de outras línguas Macro-Jê que venho estudando e publicando aqui no blog, como os Natú por exemplo, e irei usar a comparação direta de cognatos exatamente para exemplificar tal diferença.


 Eu proponho a inclusão de publicações sobre as línguas Kamakã não só para o auxílio de nossos parentes que possivelmente se interessem na reativação de suas línguas, mas também para dar progresso na reconstrução de mais raízes do Proto-Macro-Jê e me ajudar na criação de neologismos para o Peagaxinã e as línguas Kariri, ao estudar e compreender como os povos do Opará e regiões próximas pensavam e construíam sua visão de mundo, expressando-as através de suas palavras.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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