Como mencionei no passado, badzé ‘fumo’ e também nosso deus Badzé, junto com a palavra cró ‘pedra’, são descendentes de palavras Macro-Jê, porém, existe um problema a ser discutido, Andrey Nikulin reconstrói o Proto-Macro-Jê em 3 ramificações: Ocidental, Oriental e Karajá, sendo que o Natú, principal substrato Macro-Jê que conhecemos do Kariri é membro do ramo Macro-Jê Oriental, dentro do Jê Cerratense e mais especificamente do Jê Central:
Proto-Macro-Jê
- Macro-Jê Oriental
- Proto-Jê
- Proto-Cerratense
- Proto-Jê Central/Akuwẽ
- Terejê
- Natú, Xocó, Wakonã
Porém, essas duas palavras não batem com o que sabemos do Natú, pois este possui kiá ‘pedra’ e barí ‘fumo’, sendo que este último só se parece com o badzé por coincidência, pois ele deriva de um antiguíssimo *karên, que virou wari e depois barí. Então fica a pergunta na mente, de onde vieram cró e badzé ?
Nossos contos tradicionais dizem que badzé (o fumo e o Deus) foram-nos entregues pelo Grande Pai, eu interpreto isso como traços de relatos históricos, indicando que anteriormente, os dois não faziam parte da nossa cultura, ou melhor, três se contarmos a palavra, pois ela não possui cognatos nas línguas Cerratenses, que usam *karên, também não parece ter relação com o Jê Meridional, que usa algumas formas, como kypró e vaju. Sobra apenas um candidato que Nikulin relata em sua tese, que é o Proto-Macro-Jê Ocidental, especificamente, o Proto-Jabutí, uma de suas subramas, que possuem as duas raízes *kra ‘pedra’ e *paji ‘fumo’.
O que estou relatando aqui é que, a exclusividade dessas duas palavras dentro do ramo Ocidental, e sua completa ausência no ramo Oriental, que por proximidade geográfica, é o maior suspeito de empréstimos Macro-Jê, vira de cabeça pra baixo as teorias de relação de empréstimos do Kariri, indicando que populações do grupo Jabutí migraram para o Nordeste, isso explicaria a presença de certos vocábulos que não são parte do Macro-Jê Oriental em outras línguas da região, como no Tarairiú majé ‘fumo’ (cognato de badzé e do Jabutí paji) e do Jaikó piung ‘peixe’, derivado do Macro-Jê Ocidental *mbi-ñu ‘peixe’ e possivelmente responsável pela palavra para água do Tremembé (manima), Puri-Coroado (mnhama), Botocudo (minjan) e do Tuxá (mianga), que derivaria de *mbi ‘água’ + nã ‘beber’ > mĩ-nã ‘água de beber’ (mbi se nasaliza, veja Nikulin, 2020, p. 550 mĩnũ ‘peixe’ que passou pelo mesmo processo)
Fontes:
Nikulin, 2020, p. 546, 550
Loukokta, 1937, p. 185
Alves, 2010, p. 81
Jolkesky, 2010, p. 259, 308
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
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