segunda-feira, 26 de maio de 2025

ARÃKIERUTÉ, O Pano do Céu







Desde o princípio dos tempos, quando ainda não existia a separação entre os mundos, a natureza foi consagrada como mãe e mestra de todas as coisas. Para nós, os nativos, cada ser carrega um sopro do sagrado, e cada fenômeno é um sinal da presença viva dos espíritos. Nada existe que não tenha, ao mesmo tempo, sua forma material e sua essência espiritual.


Assim nos ensinaram os mais velhos, guardiões das palavras ancestrais: “Tudo o que vês, também é o que não vês”. O vento não é apenas ar em movimento, mas o hálito dos antigos; a água não é apenas líquido, mas o sangue primordial da Terra-Mãe. E o céu… ah, o céu! O céu é o mais sublime dos mistérios.


Dizem que, no tempo do começo, quando a escuridão e a luz ainda dançavam em harmonia, Sonsé, o Deus criador, sentou-se sobre a grande pedra do mundo e, com paciência infinita, começou a tecer. Não tecia com fios comuns, mas com linhas de energia luminosa, extraídas do próprio ventre do universo. Cada estrela que hoje cintila foi um nó apertado de seus dedos divinos; cada nuvem, um sopro delicado que afrouxava o tecido; cada raio de luar, uma franja solta de sua criação.


Quando terminou, estendeu sobre nós o grande manto azul-escuro, e assim nasceu arãkié: a abóbada celeste, o véu que nos cobre e nos protege, o espelho das nossas esperanças e temores. O céu, para nós, nunca foi apenas cenário, mas o testemunho vivo da arte de Sonsé.


Então, para celebrar e lembrar deste gesto criador, nossos ancestrais deram origem ao cruté, o pano que, para nós, representa o próprio céu. Não é um tecido qualquer. Ao ser fiado e tingido, ele carrega a memória do manto sagrado, e ao ser vestido, transforma quem o usa. Passamos, assim, a caminhar cobertos não apenas de tecido, mas da espiritualidade que dele emana.


Por isso, cada vez que vestimos o cruté, sentimos Sonsé mais próximo, como se estivéssemos enlaçados ao céu com os fios invisíveis da criação. Vestir-se do pano é, portanto, um rito de passagem entre o mundo terreno e o mundo espiritual; é habitar, mesmo que por um instante, o espaço onde os deuses moram e as estrelas repousam.


E assim nasceu a palavra sagrada: arãkieruté, que dizemos com solenidade e respeito. Ela significa: “o pano é o tecido do céu”. Não há entre nós quem não saiba deste significado, pois ele é transmitido de geração em geração, como um fio que nunca se rompe.


Quando os jovens são iniciados, aprendem que, ao vestir o cruté, estão se revestindo do próprio céu; que cada dobra do pano é uma dobra do tempo, e cada costura, uma linha que os liga aos que vieram antes e aos que ainda virão.


Assim seguimos, caminhando sob e com o céu, fiéis àquilo que Sonsé nos ensinou: que tudo está tecido junto, inseparável, como o pano ao corpo, como o espírito à matéria, como nós ao cosmos.


E enquanto houver quem conte esta história, enquanto houver quem pronuncie arãkieruté, o céu nunca deixará de nos vestir, e nós nunca deixaremos de pertencer a ele.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho da capa no dia 26 de maio de 2025



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