segunda-feira, 19 de maio de 2025

ARANDU RAPYTA E A CONSTRUÇÃO DA PESSOA NO MUNDO GUARANI CHIRIPÁ






Entre a Cosmologia e a Experiência Vivida



Resumo 



A cosmologia Guarani Chiripá oferece uma visão profunda sobre o processo de tornar-se pessoa, entrelaçando as perfeições do mundo sagrado com as imperfeições da existência terrena. Este artigo busca descrever, por meio de pequenos conceitos, como a ideia de Arandu Rapyta — a raiz do saber — orienta a experiência vivida e a formação da pessoa entre os Guarani Chiripá. A construção do ser humano é um caminho espiritual guiado por princípios cosmológicos, como teko, nhe’ẽ, porã e mborayu, os quais mantêm o elo entre o mundo divino e o mundo terreno. Através dessa trajetória, a pessoa é convidada a buscar equilíbrio, escutando os ensinamentos ancestrais e caminhando rumo ao ideal coletivo de bem viver.


Palavras-chave: Guarani Chiripá, cosmologia, Arandu Rapyta, construção da pessoa, espiritualidade indígena.



1. Introdução 



Entre os Guarani Chiripá, povo indígena habitante de regiões do Brasil, Paraguai e Argentina, a cosmologia não está dissociada da vida prática; ao contrário, é a base que sustenta o modo de ser e viver no mundo. A formação da pessoa (ava) é compreendida como um processo que ultrapassa o nascimento físico, exigindo uma trajetória existencial e espiritual marcada pela escuta, pelo aprendizado e pela relação com o sagrado.


O conceito de Arandu Rapyta, a “raiz do saber”, representa o ponto de partida da sabedoria e está no centro dessa construção. Este artigo apresenta, por meio de conceitos descritivos, como essa cosmologia orienta o ser humano Guarani em sua jornada no mundo imperfeito, tendo como horizonte a perfeição das divindades e o ideal de um bem viver coletivo.



2. Desenvolvimento: Conceitos Descritivos do Mundo Guarani Chiripá 



Arandu Rapyta (Raiz do Saber)

É o princípio que conecta a pessoa ao saber original e ao projeto das divindades. Representa o início da sabedoria e do conhecimento verdadeiro, transmitido pela tradição oral e vivido no cotidiano.


Nhe’ẽ (Alma-Palavra)

A alma é palavra viva que reside na pessoa. A fala carrega poder espiritual, e sua expressão deve seguir os caminhos do bem. O ser que cultiva o nhe’ẽ porã (boa alma) se aproxima do ideal de humanidade.


Yvy Tenonde (Terra Primeira)

O mundo perfeito e divino, planejado pelos criadores como Ñamandu e Tupã. Essa terra é referência de ordem e beleza. A vida ideal se encontra nessa dimensão espiritual.


Yvy Pyaú (Nova Terra)

É a terra atual, imperfeita e transitória, onde os humanos habitam. Embora marcada por desafios, ela é também o lugar da experiência e do aprendizado espiritual.


Ava (Pessoa Verdadeira)

Ser em processo de formação. Tornar-se ava implica seguir os princípios sagrados e desenvolver a capacidade de escuta e convivência harmônica com o coletivo e com os espíritos.


Porã (Beleza e Bondade Espiritual)

Não se trata apenas de aparência física, mas de uma condição ética e espiritual. A pessoa que vive conforme os princípios divinos manifesta porã em suas atitudes.


Mborayu (Amor Profundo)

Amor espiritual que liga os seres entre si e com os deuses. O mborayu guia os relacionamentos humanos e a vida em comunidade, sendo um fundamento da convivência.


Oguereko Teko (Possuir um modo de ser)

Cada ser é dotado de um teko, um modo próprio e coletivo de existir. Seguir esse modo é essencial para manter a harmonia com os ensinamentos ancestrais.


Ava Ñe’ẽ (Palavra da Pessoa)

A fala verdadeira é expressão do ser completo. Falar conforme a palavra sagrada é comunicar-se com a origem e manter a força espiritual viva.


Nhande Reko Rã (Nosso Modo de Ser Futuro)

Ideal coletivo de futuro harmonioso, com base no equilíbrio entre os mundos. A formação da pessoa está ligada à construção desse futuro desejado por todos.


3. Considerações Finais 



Para os Guarani Chiripá, tornar-se pessoa é um percurso que exige alinhamento com as forças cósmicas e os ensinamentos das divindades. A cosmologia, longe de ser abstrata, estrutura a experiência diária, orientando condutas, sentimentos e formas de viver em comunidade. Os conceitos apresentados revelam que o ser humano não nasce pronto, mas é constantemente forjado por meio da escuta, da prática espiritual e do compromisso com o bem viver coletivo. O Arandu Rapyta, nesse sentido, é o alicerce da sabedoria que sustenta a vida e a existência como um caminhar rumo à completude da pessoa verdadeira.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A Queda do Céu: Palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.


MELIÀ, Bartomeu. O Guarani: Um povo que não queria emigrar. São Paulo: Loyola, 2007.


OLIVEIRA, Jorge Eremites de (Org.). Povos Indígenas no Brasil: diversidade e direitos. Brasília: MEC/SECADI, 2012.


PERES, Armando. A cosmologia Guarani e a construção da pessoa. Revista Tellus, v. 10, n. 18, 2010.


SEVERI, Carlo. O Saber-Imagem: Antropologia e Estética. São Paulo: Ubu Editora, 2021.


OLIVEIRA, Diogo de . Arandu Nhembo'ea [dissertação de mestrado] : cosmologia, agricultura e xamanismo entre os Guarani-Chiripá no litoral de Santa Catarina. Florianópolis, SC, 2011. 


VERGARA, Moisés. Arandu Rapyta: epistemologia Guarani. In: Encontro de Saberes Indígenas. Brasília: UnB, 2014.




Autor: Nhenety KX



Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho, em 18 de abril de 2025 e a capa do artigo dia 19 de maio de 2025.





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