sábado, 31 de maio de 2025

CRAMEOKLI, A Caixa Que Fala







Escuta aqui, parente… vou te contar uma coisa que os mais velhos sempre diziam pra gente, lá na nossa aldeia, à beira do Opará.


Diziam que, quando os Caraí — esses brancos portugueses — chegaram por aqui, trouxeram um monte de coisa diferente, coisa do mundo deles, que nós nunca tínhamos visto. E aí, pra poder falar delas, a gente foi dando nome do nosso jeito. A cruz virou crudzá; a espingarda, sadá; a enxada, tasi; escada, a gente chama de babaeché; e o espelho, aquele que devolve o olhar, é waruá.


Mas ó… muito tempo depois, quando fundaram o Posto do SPI — Serviço de Proteção aos Índios — ali mesmo, em Porto Real do Colégio, em 1944, o agente do governo chamado Cavalcante Albuquerque chegou trazendo uma coisa que ninguém nunca tinha visto: uma caixa…


Mas não era caixa qualquer, não…


Era uma caixa que falava! Isso mesmo! A gente nem acreditava… como é que de dentro de uma caixa saía voz, música, barulho?


Os anciãos olharam bem, pensaram, e pronto: deram nome pra ela — Crameokli — que quer dizer "caixa que fala".


Eita, parente… pensa só! Lá na Rua dos Índios, quando ligaram aquela caixa pela primeira vez… foi uma festa! Muita gente nem acreditava… ficou ali, em volta, ouvindo, querendo entender como é que aquelas vozes viajavam pelo ar e vinham parar justo ali, no meio da aldeia.


E aí não teve mais volta não…


O Crameokli começou a trazer música que a gente nunca tinha ouvido, programa de rádio, novela, até reza e propaganda. De repente, parecia que o mundo inteiro cabia ali dentro, naquela caixa.


Nos anos de 1960, olha… nem todo mundo tinha um Crameokli, era só alguns, mas quem tinha logo aprendeu a cantar música brasileira. A turma começou a gostar de seresta, de chorinho… e olha, tinha até ídolo já: Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Roberto Carlos…


O Crameokli não parava… contava história, fazia rir, fazia chorar, mostrava coisas que a gente nunca imaginou que existia.


Mas vou te dizer, parente: mesmo com essa novidade toda, nossa aldeia nunca esqueceu quem era, não. O Crameokli falava, falava… mas a nossa voz, essa, nunca calou.


A gente continuou firme com nosso toré, com os rituais do Ouricuri, com as rezas, com os ensinamentos antigos.


O Crameokli virou só mais uma voz… mas nunca a única.


E assim seguimos até hoje, caminhando do nosso jeito… ouvindo o que vem de fora, mas sempre lembrando e vivendo o que vem de dentro, do coração da nossa gente.


E é isso, parente… agora que te contei, você já sabe também da história do Crameokli — a caixa que fala.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho da capa no dia 31 de maio de 2025.



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