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domingo, 29 de junho de 2025

ARAPUÁ, Abelha de Colmeia Redonda






Na clareira sagrada da floresta viva, quando o sol se deita por entre as folhas, é possível ouvir o zumbido de uma pequena guardiã do equilíbrio: a Arapuá.

Ela não possui ferrão, mas é valente. Voa com firmeza entre as flores, carregando o pólen que dá vida aos frutos que alimentam os bichos, os pássaros e até mesmo nós, os filhos da terra.


Certa vez, um jovem curioso da aldeia resolveu seguir o zumbido da Arapuá. Já ouvira dos mais velhos que essa abelha guardava o segredo do mel mais espesso e nutritivo da mata. Seu nome era travoso, difícil de dizer com a boca, mas fácil de entender com o espírito. Ele se aproximou de sua colmeia — uma construção redonda, pendurada como um tambor ancestral nos galhos altos de um angico. Ali morava a doçura escondida da floresta.


O jovem estendeu a mão para colher o mel, mas não esperava a reação das pequenas guerreiras. Elas saíram em bando, rodopiando seus corpos negros como fumaça de ritual. Não ferroavam — não era da sua natureza —, mas se enrolavam nos cabelos, grudavam nas orelhas, entravam nos ouvidos. O menino caiu no chão, assustado, tentando se livrar delas.


Um velho ancião que observava de longe se aproximou com calma. Com um ramo de folhas cheirosas, espantou as Arapuás e ajudou o menino a se levantar.


— Viste como não é fácil colher o que é valioso? — disse ele. — O mel da Arapuá não se tira com pressa nem com descuido. É preciso proteger os ouvidos, ter respeito e atenção. É assim com tudo na floresta.


Ele então lhe contou que a cera da Arapuá é usada há gerações para dar liga ao cordão de fios de algodão no artesanato da aldeia. O mel, embora espesso e pegajoso, nutre e fortalece. Cada detalhe daquele inseto pequeno e barulhento tem uma lição, como todos os animais e plantas da mata. Mas essas lições não se aprendem em um só dia. São ensinadas ao redor da fogueira, no brilho da lua, nas palavras dos mais velhos.


— Não sejamos apenas ouvintes das histórias — concluiu o ancião. — Devemos viver e continuar a contá-las. Qual será a tua história na tradição?


O jovem guardou o aprendizado no peito, como quem guarda mel no pote de barro. Sabia agora que toda vida, mesmo a menorzinha, tem valor e sabedoria. E que a floresta fala com quem sabe ouvir.


Assim continua a educação milenar, passada de geração em geração, como o zumbido da Arapuá, que ainda hoje ecoa por entre as árvores.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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