Era uma vez, à beira do grande mar Aindemodzu, uma andorinha de cauda repartida chamada Ieende-crú-uná. Vinha de longe, muito longe, cortando os céus do mundo com suas asas ágeis e o coração cheio de histórias do vento.
Naquele dia, mergulhou nas águas salgadas e prateadas para se alimentar dos peixes que dançavam entre as ondas. Depois do banquete, pousou na praia para descansar suas asas cansadas. Foi então que ouviu um tilintar alegre entre as folhas: era Maracanã, a ave verde que cantava como um chocalho.
— Olá, pássaro verde! — disse a andorinha.
— Olá, Andorinha do céu! Estavas pescando?
— Sim. Após uma longa viagem. Venho de muito longe.
Maracanã inclinou a cabeça curiosa.
— E de onde vens com tanta pressa e graça?
— Sou da linhagem de Ieende Itohikiete, as Aves Viajantes. Cruzamos céus e mares, passamos por terras que o olho não alcança. Sou uma Ieenitokiete Radda — uma Ave Viajante do Mundo.
Maracanã bateu as asas de alegria.
— Ah! Agora entendo tua beleza. Tua cauda bifurcada, tuas penas cinzentas e brancas, o barrete preto com listras brancas, o bico vermelho-alaranjado que brilha como o sol na aurora... És mesmo uma maravilha do mundo!
Ieende-crú-uná enrubesceu de timidez.
— Assim me deixas sem palavras, Maracanã.
— Mas fui sincero — respondeu o Maracanã com o tilintar do peito —, pois toda ave migratória carrega a força das rotas e a sabedoria dos ventos.
A Andorinha sacudiu as asas, sorriu com o bico e disse:
— Agora preciso partir. O mundo me espera do outro lado do oceano.
— Vai em paz, Ave do Mundo. E que sempre haja alimento e descanso em tua jornada.
E assim, Ieende-crú-uná alçou voo novamente, cruzando os ventos de norte a sul, levando nas penas o segredo da resistência e no peito o espírito livre das Aves Viajantes.
Moral da fábula:
A liberdade das aves migratórias ensina que todo viajante precisa de alimento, descanso e respeito para seguir sua jornada no grande ciclo da vida.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

Nenhum comentário:
Postar um comentário