quarta-feira, 30 de julho de 2025

WÃMYÁ AINDZU OPARÁ, A Fábula dos Peixes do Rio e do Mar







Há muito tempo, quando os espíritos das águas ainda conversavam com os humanos, o grande Rio Opará e o imenso Mar Aindzu resolveram se encontrar.


Do Mar Aindzu vinha a Curimã, uma peixe alegre, saltitante e cheia de energia, conhecida pelos outros peixes como "a criança do mar". Ela adorava brincar com as ondas e dançar entre as algas, sua risada ecoava pelas conchas e chegava até a areia da praia.


Do Rio Opará deslizava a Curimatã, uma peixe calma e sábia, que nadava com doçura pelas águas doces e barrentas do Velho Chico. Os ribeirinhos diziam que ela trazia paz a quem a observava, como se carregasse o espírito de uma anciã.


Um dia, durante a Piracema, quando os peixes sobem o rio para se reproduzirem, a Curimã sentiu uma vontade no coração: conhecer o Rio Opará e seus habitantes. Subiu as correntezas com alegria, fazendo amizade com a Pescada, o Bagre, o Dourado e até mesmo com o arisco Niquim.


No caminho, Curimã encontrou Curimatã descansando entre as pedras do rio. Uma vinha do mar, a outra vivia no rio — e mesmo assim, pareciam se reconhecer de outras vidas.


— Olá, irmã das águas doces! — disse Curimã com brilho nos olhos.

— Salve, irmã das águas salgadas — respondeu Curimatã com serenidade.

— Você nada tão devagar… não tem vontade de brincar?

— E você… já experimentou parar para sentir a correnteza?


Assim nasceu uma amizade sagrada: uma era o espírito da infância, a outra o espírito da maturidade. Juntas, aprenderam que o rio e o mar, mesmo diferentes, se completam. Que há valor tanto na calma quanto na alegria.


Outros peixes, como a Ubarana, o Surubim, o Cará-peba e a Piaba, logo se juntaram à festa dessa união. O encontro entre Rio e Mar virou uma celebração. E todos aprenderam que a Piracema é um tempo sagrado — tempo de nascimento, de respeito e de equilíbrio entre todos os seres aquáticos.


Desde então, os anciãos contam aos jovens que, todo ano, Curimã visita sua amiga Curimatã, levando as brincadeiras do mar para o coração do rio. E que, nesse encontro, nasce a vida que mantém o ciclo das águas vivas.


Moral da fábula:


Mesmo com naturezas diferentes, o respeito e a amizade fortalecem a vida. O rio e o mar se unem na dança da renovação.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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