terça-feira, 8 de julho de 2025

PEPÉWAHIMY, Jogar Imagem Na Luz Com Mãos






Um Conto Sobre os Vídeos Games


No silêncio encantado da aldeia Kariri-Xocó, onde o rio Itiúba serpenteava em meio à várzea e os pássaros anunciavam o tempo com seu canto ancestral, vivia o jovem Yamã, um menino de olhos brilhantes e mente curiosa. Ele adorava ouvir os mais velhos contarem histórias ao redor da fogueira — sobre espíritos da mata, guerreiros sagrados e os segredos das estrelas.


Mas numa tarde diferente, algo novo chegou à aldeia.


Um homem da cidade, amigo do cacique, trouxe consigo um pequeno objeto retangular com luzes piscando. Entregou a Yamã com um sorriso: — Isso é um game portátil. Um tipo de brinquedo onde você joga com as mãos e vê imagens se moverem na luz.


Yamã pegou o aparelho com cuidado. Seus olhos se arregalaram ao ver a tela se acender. Era como se estivesse vendo um ritual de luzes e imagens dançarem, guiadas por seus dedos. E assim, nasceu o nome em sua língua:

Pepéwahimy — Jogar Imagem Na Luz Com Mãos.


Yamã correu até a casa de sua avó Katuíra, uma das mais sábias da aldeia. Mostrou-lhe o brinquedo, e ela sorriu com os olhos cheios de tempo: — A imagem entra na luz como o espírito entra no sonho… se você jogar com o coração aberto, poderá aprender coisas boas.


Aos poucos, o jogo passou de mão em mão. As crianças riam, se desafiavam. Adultos curiosos também experimentaram. Logo, chegou outro tipo de aparelho: uma caixinha preta que se conectava à televisão da escola indígena. Agora, dois jogadores podiam se enfrentar em lutas de guerreiros, corridas, danças e enigmas.


— Parece nossos torés de estratégia, dizia o velho Aratuã, observando os netos jogarem.


O cacique reuniu os anciãos e refletiu: — O que vem de fora, se chegar com respeito, pode entrar em nossa alma como o som entra no maracá. Esse jogo pode ser caminho de aprendizado.


Então foi decidido: na língua Kariri-Xocó, o nome oficial seria Pepéwahimy, para que nunca se esquecesse que até aquilo que vem da cidade pode ser abraçado com sabedoria pela aldeia.


Com o tempo, Yamã criou pequenas histórias com seus amigos dentro dos jogos. Inventava nomes indígenas para os personagens, recriava desafios inspirados nas lendas da mata. Logo, sonhava em criar seu próprio jogo, com os guerreiros sagrados do seu povo, os animais do rio, os espíritos dos ventos.


Pepéwahimy não era só um brinquedo: era agora parte da memória viva do povo Kariri-Xocó.


E toda vez que Yamã ligava a luz da tela, era como se um novo fogo se acendesse em sua mente.


Porque ali, com os dedos e o coração, ele jogava imagens na luz.

Com as mãos, criava mundos.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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