quarta-feira, 16 de julho de 2025

TAYU NUNÚ UANIE, Dinheiro Na Língua Indígena






Um Conto Sobre o Dinheiro 


Nas margens do rio Opará, em meio às sombras das mangabeiras e ao som dos pássaros sagrados, vivia o pequeno Jurandí, um menino curioso do povo Kariri-Xocó. Desde cedo, ele se encantava pelas histórias que sua avó Mainá, a mais velha contadora da aldeia, sussurrava ao pé do fogo.


— Vó Mainá, o que é esse papel que o homem da cidade me deu quando vendi meu colar de sementes? — perguntou Jurandí, estendendo uma nota amassada.


A anciã segurou o papel com cuidado, como quem segura um animal arisco, e sorriu com os olhos sábios.


— Esse, meu neto, é o Tayu, como chamamos o dinheiro na nossa língua. É coisa de fora... não existia no tempo de nossos avôs mais antigos.


— E para que serve, vó? — quis saber Jurandí.


— Serve pra tudo, ou quase tudo... hoje, para pegar peixe com anzol de ferro, ou para comprar farinha quando a roça não deu, tem que ter Tayu.


Mainá então puxou um saco velho de pano e retirou de dentro algumas cédulas coloridas, cada uma com um bicho diferente.


— Vê, Jurandí? Essas figuras são bichos que conhecemos bem. Este aqui, por exemplo — disse ela, apontando a tartaruga — é o Sãmbá. Ele mora nas águas como nós moramos na terra. E vale dois Tayus.


Jurandí ficou com os olhos brilhando.


— E esse pássaro branco, vó?


— Esse é a Yeendeçó, a garça dos pântanos, e vale cinco. A arara vermelha é Yeendéar, vale dez Tayus. O mico dourado, Dzicuá, vale vinte. A onça-pintada, que caminha em silêncio pela mata, é Homomocleclé, vale cinquenta. E o peixe do mar é o Mydzé, de cem Tayus. Por fim, o lobo-guará, que só aparece quando o mato está em silêncio, é o Bucuté, e vale duzentos.


— Então, vó, se eu tenho um Tayu Dzicuá, posso trocar por comida?


— Sim, neto, pode. Mas nunca se esqueça: o verdadeiro valor não mora no papel, mora na nossa partilha, na fartura da terra, na sabedoria que carregamos.


Jurandí sorriu, abraçando as palavras da avó. Ele agora sabia que o Tayu era mais do que papel: era também um símbolo da mudança, mas que poderia ser falado em sua própria língua, respeitando os animais e a vida que representavam.


Naquela noite, sentado ao redor do fogo com as outras crianças, Jurandí ensinou:


— Dois reais é Tayu Sãmbá, cinco é Tayu Yeendeçó, e assim vai...


As estrelas sorriram lá do alto.

E a língua Kariri ganhou mais um sopro de vida.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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