quarta-feira, 27 de agosto de 2025

ARUÁ E UATAPU, O Caramujo do Mato e a Concha do Mar

 






A Fábula do Caramujo do Mato e a Concha do Mar


Na beira de uma grande floresta, havia um pequeno lago onde os sons da mata encontravam o eco distante das ondas do mar.

Ali vivia Aruá, o caramujo do mato, sempre escondido sob as folhas, lento, paciente, carregando sua casa arredondada. Ele se orgulhava de sua concha que, segundo os mais velhos, trazia proteção e sorte a quem a possuísse.


Um dia, levado pela corrente de um rio que descia até o mar, Aruá conheceu Uatapu, a concha das águas salgadas. Diferente dele, Uatapu era enorme, com curvas fortes e belas cores. Mas seu maior poder não estava na aparência: quando soprada pelos ventos ou pelo homem, sua concha soltava um som grave, profundo, que se espalhava como a voz do próprio oceano.


— “Irmão da terra”, disse Uatapu, “eu anuncio os acontecimentos do mar e sou chamado para avisar ou proteger. Minha voz chega longe.”

— “E eu, irmã das águas”, respondeu Aruá, “sou pequeno e quieto. Mas minha força está na resistência: carrego minha casa, me escondo da seca, renasço com a chuva. Onde estou, levo vida e lembrança da floresta.”


Os dois se admiraram. Uatapu percebia que a força não estava só no som, mas também na paciência de quem sabe esperar. E Aruá aprendeu que, mesmo em silêncio, a voz do mar poderia proteger toda a floresta.


Desde então, contam os mais antigos que Aruá e Uatapu são irmãos que unem terra e mar. Um representa a resistência e a proteção silenciosa, o outro a voz que chama e anuncia. Quem traz consigo a concha do mato ou a do mar carrega não apenas um adorno, mas a sabedoria de viver em harmonia entre silêncio e som, entre floresta e oceano.


👉 Essa fábula pode ser contada de forma oral ou escrita, e até transformada em cordel, pois trabalha o contraste terra x mar, silêncio x voz, proteção x anúncio, mostrando que ambos têm valor.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




ARUÁ E UATAPU, O Caramujo do Mato e a Concha do Mar


( Versão Cordel em Sextilhas)


Na sombra da mata fechada,

Mora o pequeno Aruá,

Carrega a casa nas costas,

Onde quer que ele vá.

Com silêncio e paciência,

Aprendeu a se guardar.


Quando a seca se aproxima,

Vai se enterrar no chão,

Espera a chuva cair,

Mantendo sua proteção.

E ao brotar da natureza,

Retorna com renovação.


Sua concha, bem trabalhada,

Enfeita o povo nativo,

Que a usa como colar,

Talismã puro e vivo.

Sorte e bons fluidos traz,

Mantendo o peito altivo.


Lá nas águas do oceano

Resplandece o Uatapu,

Concha grande e poderosa

De beleza sem tabu.

Quando o pescador assopra,

O som ecoa: “Uuuu...”


Não é apenas adorno,

É voz que o mar lhe deu,

Buzina dos navegantes,

Chamado que apareceu.

Ecoa em praias distantes,

Parece falar com Deus.


Os guerreiros da aldeia,

Quando em luta precisavam,

No sopro de Uatapu

Seus sinais se anunciavam.

Era a voz da coragem

Que os corações inflamava.


Um dia o rio desceu

Levando o Aruá fiel,

Que encontrou na beira-mar

Uatapu, concha de mel.

Terra e mar se reconheceram

Como versos de um cordel.


— “Sou pequeno, mas resisto,

Durmo quando o sol castiga,

Trago sorte e proteção,

Sou a casa que me abriga.”

Disse o Aruá da mata,

Com ternura e com fadiga.


— “Minha força é minha voz,

Eu anuncio e chamo o povo,

Sou trombeta do oceano,

Minha fala é som mais novo.

No sopro dos pescadores,

Levo aviso sempre de novo.”


O silêncio da floresta

E a voz forte do oceano

Se uniram numa irmandade,

Feita de amor soberano.

Quem tem concha do mato e do mar

Guarda um segredo arcano.


Moral da fábula é clara:

Na vida há tempo e razão,

Um silêncio pode ensinar,

Outra hora é o som da canção.

Quem junta a terra e o mar

Carrega a sabedoria na mão.


👉 Essa versão já tem mais corpo, pode ser declamada em roda, cantada no ritmo de cordel ou publicada como fábula rimada.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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