A Fábula do Dourados do Mar e do Rio
Dizem os antigos que o Sol, ao nascer, deixa cair faíscas douradas sobre a Terra e o Mar. Dessas faíscas nasceram dois irmãos diferentes: Pirá-itá-açu, o dourado-do-mar, e Pirajuba, o dourado-do-rio.
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Pirá-itá-açu vivia nas águas azuis do oceano. Orgulhava-se de seus saltos espetaculares, que faziam o sol brilhar em suas escamas como ouro vivo. Ele dizia aos outros peixes:
— Nenhum peixe é tão livre quanto eu, que nado em mares sem fim e salto mais alto que as ondas!
No coração dos rios, habitava Pirajuba. Forte e valente, enfrentava corredeiras e pescadores destemidos. Sempre que era fisgado, sacudia-se e saltava, lutando até o fim. Com orgulho, dizia:
— Ninguém é mais bravo do que eu! Minha boca dura resiste ao anzol, e meus dentes afiados fazem os outros peixes me temer.
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Um dia, o mar e o rio se encontraram numa foz larga, e os dois irmãos dourados se cruzaram. Logo começaram a discutir:
— Eu sou o verdadeiro dourado, senhor das águas azuis! — disse Pirá-itá-açu, mostrando seu corpo reluzente.
— Engana-se! — respondeu Pirajuba, batendo a cauda contra a corrente. — Sou eu o verdadeiro dourado, senhor dos rios e das quedas!
Enquanto brigavam, aproximou-se um pescador, lançando seus anzóis tanto no mar quanto no rio. Os dois irmãos sentiram o perigo: um anzol no oceano atraiu Pirá-itá-açu, outro no rio tentou prender Pirajuba.
Ambos lutaram, saltaram, rasgaram as águas com coragem. O marulho do oceano e a correnteza do rio ecoaram como tambores. E, ao fim, conseguiram se soltar, escapando juntos, lado a lado.
Exaustos, mas livres, perceberam que durante a luta um brilho os unia: o reflexo dourado que vinha do mesmo Sol. Então, compreenderam.
— Irmão — disse Pirá-itá-açu —, não importa se és do rio ou do mar.
— É verdade — respondeu Pirajuba. — O brilho que carregamos é o mesmo. Somos filhos da mesma luz.
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E desde então, contam os pescadores que os dois dourados, embora vivam em mundos diferentes, reconhecem-se como irmãos sempre que o Sol toca suas escamas.
🌟 Moral da fábula
A beleza e a coragem podem se mostrar de muitas formas, mas a luz que nos une é sempre a mesma.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
PIRÁ-ITÁ-AÇU E PIRAJUBA, Os Dourados do Mar e do Rio
( Versão Cordel Sextilhas )
Nas águas claras do mar
Surge o Pirá-itá-açu,
Brilhando como o tesouro
No reflexo do céu azul.
Salta alto feito raio,
Peixe forte, veloz e nu.
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Nos rios da terra firme
Reina o bravo Pirajuba,
Tem cor de ouro queimado,
Nas barbatanas reluz.
Enfrenta anzol e corrente,
Nunca perde a sua luta.
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Um dia na grande foz
O mar com o rio se achou,
Os dois peixes se encontraram,
E logo o orgulho falou:
— Eu sou o rei das águas!
— Do rio sou o senhor!
🐟
Disputavam sua glória,
Cada qual dono da cor,
Quando chega um pescador
Com seu anzol caçador.
No mar fisga o cabeçudo,
No rio pega o lutador.
🐟
Ambos lutam, ambos saltam,
Com coragem e destemor,
Rasgando águas bravias,
Se soltaram com vigor.
E ao se verem lado a lado
Brilhou neles o mesmo sol.
🐟
— Irmão, vi que és valente,
— E tu brilhas como farol,
— No rio e também no mar
Somos faíscas do sol.
E assim dois peixes dourados
Se tornaram luz maior.
🌟 Moral em cordel
Seja o rio ou seja o mar,
cada ser tem seu valor,
mas a luz que nos unifica
vem do mesmo Criador.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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