A Fábula do Grilo e a Onça-escura
Na Ka’a Eté, a grande Mata Atlântica, vivia o Kyîu-açu, o grilo gigante, pequeno aos olhos dos maiores animais, mas dono de uma coragem sem igual.
Um dia, os animais reuniram-se para escolher quem era o mais feroz: lá estavam a jaguaruna (onça-preta), o jacaré, o guaxinim, a ariranha e muitos outros. Depois de muita disputa, a jaguaruna foi declarada a vencedora, erguendo-se com orgulho e soberba.
Quando passava o humilde Kyîu-açu, a jaguaruna zombou:
— Olhem só o mais fraco da floresta!
O grilo, sem se intimidar, respondeu:
— Você é forte, sim. Mas que tal provar isso numa disputa? Amarremos nossas pernas a uma árvore, e veremos quem se solta primeiro.
A jaguaruna riu alto, certa de sua vitória. O guariba foi o árbitro e amarrou os dois. Começou o desafio.
A jaguaruna puxava, rugia e se debatia, mas não conseguia se libertar. Então o grilo deu um salto: deixou para trás uma de suas pernas, e ficou livre.
Os animais ficaram espantados.
— Você ficará defeituoso sem uma pata! — disse a jaguaruna, furiosa.
O grilo respondeu sereno:
— Nada disso! Sou jovem, e logo minha perna crescerá de novo.
Assim, o pequeno Kyîu-açu venceu a grande jaguaruna.
Moral da fábula:
Nunca despreze os pequenos, pois eles podem ter forças e talentos que os grandes desconhecem.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
O KYÎU-AÇU E A JAGUARUNA, O Grilo e a Onça-escura
Na Ka’a Eté tão vasta,
Mata Atlântica sem fim,
Morava o Kyîu-açu,
Um grilo forte e sutil.
Entre folhas e cipós,
Cantava sempre assim.
Certa vez, na beira-mar,
Bichos foram se juntar:
Jaguaruna, jacaré,
Guaxinim pra espiar,
Ariranha e outros tantos,
Pra ver quem ia ganhar.
Na disputa de coragem
E na fama de feroz,
Jaguaruna foi a eleita,
Levantando a sua voz.
Mas chegou o Kyîu-açu,
Com o canto firme e veloz.
— Veja só! — disse a onça —
O mais fraco está aqui!
Um sopro o leva embora,
Nem coragem eu senti.
O grilo olhou sereno,
E começou a sorrir.
— Se você é tão valente,
Vamos ver quem se liberta:
Amarramos nossas pernas,
Numa árvore bem certa.
Quem sair primeiro vence,
A disputa fica aberta.
O guariba foi chamado,
E amarrou com precisão,
A perna do Kyîu-açu
E a da onça, no cordão.
Deu o grito de partida,
Começou a competição.
Jaguaruna se debatia,
Rugia pra se soltar,
Mas por mais que fizesse força,
Nada pôde conquistar.
O grilo, num salto ágil,
Deixou a perna no lugar.
Os bichos ficaram mudos,
De espanto e admiração.
— Vai ficar sem sua perna! —
Disse a onça, em provocação.
— Logo cresce outra novinha,
Pois sou jovem, meu irmão!
Assim, o pequeno grilo,
Derrotou a campeã,
Mostrando que o tamanho
Não decide a decisão.
Moral:
Não julgue pela aparência,
Nem despreze quem é menor.
O pequeno, quando luta,
Mostra um grande e belo valor.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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