sábado, 23 de agosto de 2025

O BACALHAU DA QUARESMA E A TILÁPIA DA GALILÉIA






A Fábula do Bacalhau e a Tilápia 


No imenso mar do imaginário cristão, um peixe viajante, o Bacalhau-do-Atlântico, nadava orgulhoso de sua missão: alimentar os povos durante a Quaresma e a Semana Santa.

De longe, vindo das águas cálidas do Oriente, surgia a Tilápia da Galileia, humilde e serena, lembrando sempre os milagres de Jesus à beira do lago.


Os dois se encontraram nas correntes do espírito e, curiosos, começaram a conversar.


O Bacalhau disse:

“Sou eu quem sustento as mesas dos cristãos da Europa e do Brasil, sou lembrado no tempo do jejum e da penitência. Meu sal conserva a fé dos povos.”


A Tilápia respondeu:

“E eu fui testemunha dos passos do Mestre na Galileia. Dizem que até uma moeda já levei em minha boca para que Pedro pagasse o tributo. Não sou peixe de fartura, mas de milagre e esperança.”


O Bacalhau, admirado, reconheceu a nobreza da Tilápia.

A Tilápia, por sua vez, respeitou a importância do Bacalhau, que viajou além de mares para alimentar multidões.


Por um instante, surgiu a dúvida entre eles:


O Bacalhau pensou: “Sem mim, muitos não teriam o alimento da fé durante a Semana Santa.”


A Tilápia pensou: “Sem mim, como lembrariam os cristãos das origens simples do Evangelho?”


Ambos queriam provar quem tinha maior valor.


Então, o mar que os unia falou como um eco da eternidade:

“Nem só de tradição vive a fé, nem só de origem se faz o caminho. O Bacalhau guarda a lembrança da disciplina e da partilha; a Tilápia guarda a lembrança dos milagres e da presença do Mestre.

Ambos são sinais da mesma mesa, a mesa da comunhão.”


A fé é como o mar: acolhe muitos peixes, de diferentes águas, mas todos se encontram no mesmo horizonte.

Quem valoriza tanto a tradição quanto a origem compreende que a verdadeira nutrição vem do amor e da partilha.


👉 Assim a fábula mostra o encontro entre a tradição europeia (Bacalhau) e a origem bíblica (Tilápia), revelando que não há hierarquia, mas complementaridade.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



O BACALHAU E A TILÁPIA 


(em versos de cordel)



No mar profundo da fé,

Se encontraram dois peixinhos,

Um vindo do Atlântico,

Outro das águas vizinhos

Do lago da Galileia,

Lembrança de tempos fininhos.


O Bacalhau foi dizendo:

“Sou peixe da tradição,

Na Semana da Quaresma

Dou sustento e devoção.

Na mesa do povo cristão,

Trago força e salvação.”


A Tilápia respondeu:

“Sou peixe do Oriente,

Nas margens do Lago Santo

Vi Jesus com Sua gente.

Pedro um dia me pescou,

E guardei moeda em frente.”


Disse o Bacalhau com firmeza:

“Sem mim, em terra estrangeira,

Não havia alimento certo

Na Sexta da Primavera.

Sou memória de jejum,

Sou fartura verdadeira.”


Mas a Tilápia retruca:

“Sem mim, não há Evangelho,

Sou lembrança de milagres

No tempo santo e mais velho.

Sou símbolo da esperança,

Sou luz que brilha no espelho.”


Os dois peixes discutiam,

Quem seria mais importante,

Se a força da tradição

Ou a origem tão marcante...

Mas o mar falou em ondas,

Com voz firme e retumbante:


“Nem só de origem se vive,

Nem só de rito se faz,

A fé é como o oceano

Que recebe muito mais.

O peixe da tradição

E o peixe do coração

São irmãos e nada em paz.”


Moral


Quem guarda a fé verdadeira

Sabe unir, não separar.

Na mesa da comunhão

Todo peixe tem lugar.

Pois o que vale é o amor,

É servir e partilhar.


👉 Assim, a fábula em cordel pode ser lida em rodas, partilhada na Quaresma ou mesmo nas festas de São Pedro, unindo tradição brasileira e raiz bíblica.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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