A Fábula do Bacalhau e a Tilápia
No imenso mar do imaginário cristão, um peixe viajante, o Bacalhau-do-Atlântico, nadava orgulhoso de sua missão: alimentar os povos durante a Quaresma e a Semana Santa.
De longe, vindo das águas cálidas do Oriente, surgia a Tilápia da Galileia, humilde e serena, lembrando sempre os milagres de Jesus à beira do lago.
Os dois se encontraram nas correntes do espírito e, curiosos, começaram a conversar.
O Bacalhau disse:
“Sou eu quem sustento as mesas dos cristãos da Europa e do Brasil, sou lembrado no tempo do jejum e da penitência. Meu sal conserva a fé dos povos.”
A Tilápia respondeu:
“E eu fui testemunha dos passos do Mestre na Galileia. Dizem que até uma moeda já levei em minha boca para que Pedro pagasse o tributo. Não sou peixe de fartura, mas de milagre e esperança.”
O Bacalhau, admirado, reconheceu a nobreza da Tilápia.
A Tilápia, por sua vez, respeitou a importância do Bacalhau, que viajou além de mares para alimentar multidões.
Por um instante, surgiu a dúvida entre eles:
O Bacalhau pensou: “Sem mim, muitos não teriam o alimento da fé durante a Semana Santa.”
A Tilápia pensou: “Sem mim, como lembrariam os cristãos das origens simples do Evangelho?”
Ambos queriam provar quem tinha maior valor.
Então, o mar que os unia falou como um eco da eternidade:
“Nem só de tradição vive a fé, nem só de origem se faz o caminho. O Bacalhau guarda a lembrança da disciplina e da partilha; a Tilápia guarda a lembrança dos milagres e da presença do Mestre.
Ambos são sinais da mesma mesa, a mesa da comunhão.”
A fé é como o mar: acolhe muitos peixes, de diferentes águas, mas todos se encontram no mesmo horizonte.
Quem valoriza tanto a tradição quanto a origem compreende que a verdadeira nutrição vem do amor e da partilha.
👉 Assim a fábula mostra o encontro entre a tradição europeia (Bacalhau) e a origem bíblica (Tilápia), revelando que não há hierarquia, mas complementaridade.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
O BACALHAU E A TILÁPIA
(em versos de cordel)
No mar profundo da fé,
Se encontraram dois peixinhos,
Um vindo do Atlântico,
Outro das águas vizinhos
Do lago da Galileia,
Lembrança de tempos fininhos.
O Bacalhau foi dizendo:
“Sou peixe da tradição,
Na Semana da Quaresma
Dou sustento e devoção.
Na mesa do povo cristão,
Trago força e salvação.”
A Tilápia respondeu:
“Sou peixe do Oriente,
Nas margens do Lago Santo
Vi Jesus com Sua gente.
Pedro um dia me pescou,
E guardei moeda em frente.”
Disse o Bacalhau com firmeza:
“Sem mim, em terra estrangeira,
Não havia alimento certo
Na Sexta da Primavera.
Sou memória de jejum,
Sou fartura verdadeira.”
Mas a Tilápia retruca:
“Sem mim, não há Evangelho,
Sou lembrança de milagres
No tempo santo e mais velho.
Sou símbolo da esperança,
Sou luz que brilha no espelho.”
Os dois peixes discutiam,
Quem seria mais importante,
Se a força da tradição
Ou a origem tão marcante...
Mas o mar falou em ondas,
Com voz firme e retumbante:
“Nem só de origem se vive,
Nem só de rito se faz,
A fé é como o oceano
Que recebe muito mais.
O peixe da tradição
E o peixe do coração
São irmãos e nada em paz.”
Moral
Quem guarda a fé verdadeira
Sabe unir, não separar.
Na mesa da comunhão
Todo peixe tem lugar.
Pois o que vale é o amor,
É servir e partilhar.
👉 Assim, a fábula em cordel pode ser lida em rodas, partilhada na Quaresma ou mesmo nas festas de São Pedro, unindo tradição brasileira e raiz bíblica.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

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