A Fábula do Gaviãozinho e o Socó
No entardecer de um rio largo, o Socó permanecia imóvel, como se fosse parte das árvores que se refletiam na água. Esperava o momento certo: um pequeno peixe desavisado, um movimento leve, e então seu bico certeiro romperia o silêncio das águas.
De repente, o céu foi cortado pelo voo rápido do Quiriquiri, o gaviãozinho caçador. Ele pousou num galho próximo e, curioso, falou:
— Socó, por que perdes tanto tempo parado? Eu, com minhas asas ligeiras e minha vista aguçada, caço em instantes o que preciso.
O Socó ergueu o pescoço devagar, sem se apressar:
— Cada um tem seu modo, pequeno falcão. Eu aprendi com as águas que a paciência também é uma força.
O Quiriquiri riu:
— Força é a velocidade! Quem se move rápido conquista o mundo antes dos outros.
Nesse momento, um cardume passou rente à superfície. O Quiriquiri lançou-se do galho, veloz como flecha, mas suas garras não alcançaram os peixes escondidos sob a água. Voltou de asas vazias.
O Socó, firme no mesmo lugar, abaixou o bico num gesto certeiro e, sem esforço, pescou um peixe reluzente.
— Vês, Quiriquiri? A terra, o ar e a água ensinam caminhos diferentes. A tua pressa é útil para caçar no campo, mas não te serve nas águas profundas.
O pequeno falcão refletiu, e então sorriu com humildade:
— Tens razão, Socó. Cada um carrega sua sabedoria. Eu sou o caçador do ar; tu és o pescador da água. Juntos, mostramos que a vida é feita de muitos modos de vencer a fome e o silêncio.
E assim, desde aquele dia, o Quiriquiri e o Socó, quando se encontram, não disputam mais. O vento e a correnteza lembram sempre que a força pode estar no movimento rápido ou na paciência firme, mas ambas têm valor.
✨ Moral:
A pressa e a paciência são forças diferentes. Nenhuma é melhor que a outra: cada ser deve honrar o dom que lhe foi dado pela natureza.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
QUIRIQUIRI E O SOCÓ, As Aves Caçadora e a Pescadora
(Em versos de cordel)
Na beira do rio sereno,
O Socó firme ficou,
Esperando com paciência,
O peixe que ali nadou.
Com seu bico silencioso,
O alimento conquistou.
Do alto chegou ligeiro
Um gavião bem pequeno,
Era o Quiriquiri bravo,
Caçador sempre ligeiro,
Disse ao Socó pescador:
— Teu jeito é muito moreno!
— Ficas parado demais,
Enquanto eu voo no ar.
Eu caço rápido e forte,
Ninguém pode me alcançar!
Quem corre vence primeiro,
Quem voa vem triunfar!
O Socó, muito sereno,
Olhou pro gaviãozinho:
— Cada um tem sua força,
Seu destino e seu caminho.
Tu caças no campo aberto,
Eu caço perto do ninho.
O Quiriquiri mergulhou,
Num cardume que passava.
Mas o peixe, muito esperto,
Na água logo se escondia.
E o falcão voltou cansado,
Sem nada do que queria.
O Socó, calado e firme,
Deu só um passo no chão,
Baixou o bico certeiro,
Fez do rio refeição.
E mostrou ao pequenino:
— Eis a lição da criação!
O Quiriquiri sorriu,
Aprendendo com o irmão:
— Tu tens a força da água,
Eu tenho a do clarão.
Na natureza é preciso
Respeitar cada visão.
✨ Moral do Cordel:
“Quem corre vence na terra,
Quem espera vence no mar.
Cada ser tem sua força,
Seu dom para se guiar.”
Autor: Nhenety Kariri-Xocó

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