sábado, 23 de agosto de 2025

QUIRIQUIRI E O SOCÓ, As Aves Caçadora e a Pescadora







A Fábula do Gaviãozinho e o Socó 


No entardecer de um rio largo, o Socó permanecia imóvel, como se fosse parte das árvores que se refletiam na água. Esperava o momento certo: um pequeno peixe desavisado, um movimento leve, e então seu bico certeiro romperia o silêncio das águas.


De repente, o céu foi cortado pelo voo rápido do Quiriquiri, o gaviãozinho caçador. Ele pousou num galho próximo e, curioso, falou:

— Socó, por que perdes tanto tempo parado? Eu, com minhas asas ligeiras e minha vista aguçada, caço em instantes o que preciso.


O Socó ergueu o pescoço devagar, sem se apressar:

— Cada um tem seu modo, pequeno falcão. Eu aprendi com as águas que a paciência também é uma força.


O Quiriquiri riu:

— Força é a velocidade! Quem se move rápido conquista o mundo antes dos outros.


Nesse momento, um cardume passou rente à superfície. O Quiriquiri lançou-se do galho, veloz como flecha, mas suas garras não alcançaram os peixes escondidos sob a água. Voltou de asas vazias.


O Socó, firme no mesmo lugar, abaixou o bico num gesto certeiro e, sem esforço, pescou um peixe reluzente.

— Vês, Quiriquiri? A terra, o ar e a água ensinam caminhos diferentes. A tua pressa é útil para caçar no campo, mas não te serve nas águas profundas.


O pequeno falcão refletiu, e então sorriu com humildade:

— Tens razão, Socó. Cada um carrega sua sabedoria. Eu sou o caçador do ar; tu és o pescador da água. Juntos, mostramos que a vida é feita de muitos modos de vencer a fome e o silêncio.


E assim, desde aquele dia, o Quiriquiri e o Socó, quando se encontram, não disputam mais. O vento e a correnteza lembram sempre que a força pode estar no movimento rápido ou na paciência firme, mas ambas têm valor.


✨ Moral:

A pressa e a paciência são forças diferentes. Nenhuma é melhor que a outra: cada ser deve honrar o dom que lhe foi dado pela natureza.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




QUIRIQUIRI E O SOCÓ, As Aves Caçadora e a Pescadora


(Em versos de cordel)


Na beira do rio sereno,

O Socó firme ficou,

Esperando com paciência,

O peixe que ali nadou.

Com seu bico silencioso,

O alimento conquistou.


Do alto chegou ligeiro

Um gavião bem pequeno,

Era o Quiriquiri bravo,

Caçador sempre ligeiro,

Disse ao Socó pescador:

— Teu jeito é muito moreno!


— Ficas parado demais,

Enquanto eu voo no ar.

Eu caço rápido e forte,

Ninguém pode me alcançar!

Quem corre vence primeiro,

Quem voa vem triunfar!


O Socó, muito sereno,

Olhou pro gaviãozinho:

— Cada um tem sua força,

Seu destino e seu caminho.

Tu caças no campo aberto,

Eu caço perto do ninho.


O Quiriquiri mergulhou,

Num cardume que passava.

Mas o peixe, muito esperto,

Na água logo se escondia.

E o falcão voltou cansado,

Sem nada do que queria.


O Socó, calado e firme,

Deu só um passo no chão,

Baixou o bico certeiro,

Fez do rio refeição.

E mostrou ao pequenino:

— Eis a lição da criação!


O Quiriquiri sorriu,

Aprendendo com o irmão:

— Tu tens a força da água,

Eu tenho a do clarão.

Na natureza é preciso

Respeitar cada visão.


✨ Moral do Cordel:

“Quem corre vence na terra,

Quem espera vence no mar.

Cada ser tem sua força,

Seu dom para se guiar.”



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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