sexta-feira, 29 de agosto de 2025

ZABELÊ E PARURU, As Aves da Floresta e da Caatinga






A Fábula das Aves da Mata e da Caatinga 


Na beira da mata, onde a floresta abraça a caatinga, vivia o Zabelê, ave de canto forte, guardião dos segredos escondidos entre as árvores. Seu nome vinha de tempos antigos, e muitos diziam que significava “pássaro de canto poderoso”. Orgulhava-se de sua voz que ecoava em três ou quatro notas, sempre descendo e subindo como se fosse o sopro do vento chamando pela chuva.


O Zabelê era discreto, sua cauda parecia sempre oculta, como se fosse feito para viver nos mistérios da mata. Alimentava-se de sementes, frutos e insetos, mas o que mais prezava era a liberdade de caminhar entre árvores altas e sombras frescas. Tinha muitas companheiras, e isso fazia com que fosse vaidoso de sua natureza, acreditando ser o mais importante das aves da região.


Não muito longe dali, no chão aberto entre os arbustos da caatinga, vivia o Paruru, a rolinha-fogo-apagou. Pequena e ligeira, com penas escamadas que lembravam brasas que se apagavam na madrugada, ela era simples, mas cheia de coragem. Sempre voava em pares ou pequenos grupos, porque acreditava que a vida era melhor quando se partilhava o caminho.


O Paruru era chamado por muitos nomes: fogo-apagou, rolinha-cascavel, picuí-pinima... mas ele gostava mesmo era de ser chamado de Paruru, “a ave pardacenta”, porque era assim que o povo da terra o reconhecia.


Certa manhã, o Zabelê desceu para beber água num pequeno olho d’água que também servia ao Paruru. Ao ver a ave menor, o Zabelê riu com certo desdém:


— “Ó pequena ave cinzenta, como podes viver tão contente na caatinga seca, sem o canto forte que faz estremecer as árvores? Meu piado faz ecoar os vales, enquanto o teu voo se esconde entre galhos baixos.”


O Paruru, sem se abalar, respondeu com mansidão:


— “Grande Zabelê, tua voz é bela e poderosa, mas o canto sozinho não sustenta a vida. Eu canto baixinho, mas vivo em pares. Divido o alimento, aqueço meus filhotes, e nunca caminho só. A mata e a caatinga precisam de todas as vozes, grandes e pequenas. Cada uma guarda sua força.”


O Zabelê ficou em silêncio, pois pela primeira vez percebeu que sua vaidade o fazia esquecer que o valor das aves não estava apenas no canto, mas também no cuidado, na partilha e na humildade.


Naquele dia, o Zabelê e o Paruru beberam juntos da mesma fonte. O canto forte do primeiro se uniu ao canto discreto do segundo, e assim a floresta e a caatinga ouviram, pela primeira vez, a harmonia entre o poder e a simplicidade.


🌱 Moral da Fábula


Nem sempre a força está no mais alto canto ou na maior imponência. Às vezes, a verdadeira grandeza vive na partilha, na humildade e na união dos diferentes.




Autor: Nhenety KX 




ZABELÊ E PARURU, As Aves da Floresta e da Caatinga


( Cordel em Sextilhas )


Na beira da mata densa,

Onde a Caatinga é vizinha,

Cantava o belo Zabelê,

Ave de voz cristalina.

Seu canto ecoava forte,

Como trovão que ilumina.


Vivia cheio de orgulho,

Se achando o mais altaneiro,

Com sua cauda escondida

Guardava um ar de mistério.

Era dono do seu canto,

Mas também muito vaidoso.


Na Caatinga, o Paruru

Andava leve e ligeiro,

Voando sempre em casal,

Feliz, simples e certeiro.

Chamavam-no fogo-apagou,

Rolinha do povo inteiro.


Certa vez num olho d’água

Se encontraram, por destino.

O Zabelê, com desprezo,

Disse em tom desatino:

“Pequena ave pardacenta,

Teu canto é tão pequenino!”


Paruru logo respondeu,

Com doçura e humildade:

“Eu não canto tão potente,

Mas divido a amizade.

Cuido bem da minha prole,

E vivo em comunidade.”


O Zabelê se calou,

Sentiu verdade no ar.

Percebeu que na floresta

Nem só o canto é que dá,

Pois viver em harmonia

É também força cantar.


Assim juntos beberam

Na fonte do mesmo chão.

O canto forte e o pequeno

Se uniram em união.

E a mata e a Caatinga

Vibraram em coração.


🌿 Moral do Cordel


Na grandeza da existência,

Não vale só quem é forte.

Também tem valor imenso

Quem vive simples e suporte.

Na partilha e na humildade,

É que a vida encontra o norte.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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