domingo, 31 de agosto de 2025

ANRAN E NIENUO, O Ser de Luz e o das Sombras








Um Conto do Ser de Luz e o das Sombras


Foi numa noite de lua clara.

O povo se reunia em volta da fogueira, e as brasas brilhavam como olhos de espírito.

As crianças corriam, os jovens escutavam, e os mais velhos guardavam silêncio.


Então um menino, chamado Iary, se aproximou do ancião.

E perguntou com voz curiosa:


— Avô, o que é Anran? E o que é Nienuo?


O ancião respirou fundo.

Olhou para o céu, olhou para o fogo, e disse:


— Escuta, meu neto.

Quando nascemos, todos nós somos Anran.

Anran é o humano verdadeiro.

Anran vive em comunidade, divide o alimento, compartilha o trabalho, cuida da família, honra a natureza.

O coração de Anran é cheio de amor, amizade e respeito.

Quem caminha como Anran, caminha na luz do Criador e junto aos ancestrais.


O menino ouviu, mas quis saber mais:


— E Nienuo, avô? Quem é Nienuo?


O ancião fechou os olhos, como quem fala com os antigos, e respondeu:


— Nienuo é o humano que se perdeu.

É aquele que abandona a comunidade, que escolhe o ódio, a violência, o egoísmo.

No início ainda é humano... mas pouco a pouco vai esquecendo o sagrado.

Pouco a pouco vai regredindo.

Pouco a pouco vai se tornando sombra.

E quando a sombra toma conta, ele já não é Anran.

Ele é Nienuo.


O menino ficou assustado:


— Então, avô, Nienuo também já foi gente?


E o ancião respondeu:


— Sim, meu neto. Todo Nienuo já foi Anran um dia.

Mas esqueceu quem era.

Esqueceu o Criador.

Esqueceu os ancestrais.

E ao esquecer... tornou-se prisioneiro da escuridão.


O fogo estalou alto, como se concordasse com as palavras.

E o ancião disse ainda:


— Por isso, Iary, escuta bem:

Quem deseja ser Anran deve escolher a cada dia.

Escolher a vida, o amor, a amizade, a partilha.

Escolher o caminho do Criador.


O menino ergueu a cabeça e prometeu:


— Eu serei Anran, avô.

Para que meus passos sejam lembrados pelos ancestrais.


Então o ancião sorriu.

E a lua sorriu.

E as estrelas também sorriram.


E naquela noite, todos souberam:

Enquanto houver quem escolha ser Anran,

Nienuo jamais vencerá.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




ANRAN E NIENUO, O Ser de Luz e o das Sombras


( Versão Cordel Sextilhas  )


Na noite de lua acesa,

Brilhou a chama do chão,

Um menino fez pergunta

Ao mais velho do povão:

“Quem é Anran, quem é Nienuo,

No tempo da criação?”


O ancião falou sereno,

Com o fogo a crepitar:

— Anran é ser verdadeiro,

Que nasceu pra compartilhar,

Que vive em paz com o povo

E com a terra a cuidar.


Anran é vida em harmonia,

É família, é união,

É amizade e respeito,

É do bem a direção.

Quem caminha nessa trilha

Se torna luz da criação.


Mas existe outro caminho,

De quem esquece o sagrado,

Que se afasta da aldeia

E vive no desolado:

Esse se chama Nienuo,

O espírito desviado.


Nienuo já foi humano,

Mas perdeu a claridade,

Abraçou ódio e violência,

Desprezou a humanidade.

Se tornou sombra sombria,

Preso em sua maldade.


O menino então falou,

Com coragem no olhar:

— Quero ser sempre Anran,

Na memória vou ficar,

Que meus passos, com os velhos,

Os ancestrais vão guardar.


O ancião sorriu contente,

E o fogo se levantou,

A lua fez sua prece,

E a estrela iluminou:

— Enquanto houver quem seja Anran,

Nienuo nunca venceu.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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