segunda-feira, 1 de setembro de 2025

GUARAWÁ CARAÍ, O Homem Lobo dos Brancos






O Conto do Homem Lobo


Dizem os antigos que, quando os brancos atravessaram o mar e chegaram a estas terras, não trouxeram apenas ferro, pólvora e novos costumes. Trouxeram também seus medos e maldições.

Entre eles, vinha a história do lobisomem, o homem que, sob a lua cheia, se transformava em fera.


Nas vilas coloniais, muitos falavam de galinhas mortas, de pegadas estranhas na terra e de uivos que gelavam a noite. E esses boatos chegaram até as aldeias.


Certa noite, a lua estava grande e clara no céu. Os cães latiam sem parar, os cavalos batiam as patas no chão, e no galinheiro restavam penas espalhadas e aves mortas.

Os jovens, assustados, correram até o velho Tanuã, que estava diante da fogueira.


— Avô — disseram eles —, que bicho é esse que anda pela noite? É espírito da mata?


O ancião olhou as chamas dançantes e respondeu com voz grave:


— Não, meus filhos. Esse ser não nasceu aqui. É o Guarawá, o Homem-Lobo. Ele veio dos Caraí, os brancos. Carregam essa maldição em sua essência. Entre nós, nunca houve criatura assim. Foi por isso que lhe demos esse nome em nossa língua.


O fogo estalava, e o silêncio se fez ao redor. Os jovens se entreolharam, entre medo e curiosidade, enquanto o vento soprava na mata.

E desde aquela noite, sempre que a lua cheia aparece redonda no céu, o sussurro do Guarawá Caraí percorre a aldeia — lembrança de que até os medos podem atravessar oceanos e ganhar novo nome em outras terras.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 



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