A Fábula da Jovem e os Tatus
Numa manhã serena, uma jovem caminhava pela mata e encontrou o Tatuetê, o pequeno tatu-galinha, cavando firme a terra. Curiosa, perguntou:
— Tatu, dizem que você é um construtor de abrigos para muitos animais. Isso é verdade?
O tatu parou, ergueu a cabeça com calma e respondeu:
— Eu faço minhas tocas para morar e me proteger. Mas sigo os caminhos da vida: quando a estação muda e o alimento escasseia, vou em busca de novas terras. Assim, deixo para trás as casas que cavei.
A jovem então quis saber:
— E o que acontece com suas antigas moradas?
O tatu sorriu e explicou:
— Minhas tocas não ficam vazias. Logo vêm corujas, cobras, doninhas, ratos e até cascavéis. Eles se abrigam onde já morei. Minha casa se transforma no lar de muitos. Assim, sem querer, ajudo a manter o equilíbrio da floresta.
De longe, aproximou-se o Tatuaçu, o grande tatu-canastra, e completou:
— Também sou chamado de engenheiro da natureza. Minhas tocas guardam umidade, regulam o calor da terra e dão refúgio até ao raro cachorro-do-mato. Mas, infelizmente, muitos homens não compreendem nossa importância. Caçam-nos sem pensar que, ao nos ferirem, ferem a própria floresta.
A jovem escutou atenta, e com o coração cheio de respeito disse:
— Agora sei que vocês são verdadeiros construtores da vida. Quem protege o tatu protege também todos os que dependem de seus abrigos.
E assim, Tatuetê e Tatuaçu seguiram cavando suas casas, deixando para o mundo a lição de que até os mais silenciosos da mata trabalham pelo bem de todos.
Moral da fábula:
Quem constrói para si, sem perceber, pode estar construindo para muitos. Proteger a natureza é proteger a casa de todos os seres.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
TATUETÊ E O TATUAÇU l, Os Construtores de Abrigos
( Versão Cordel Sextilhas )
Na mata um dia uma moça
Perguntou com devoção:
— Tatu, você é abrigo
Para toda a criação?
O bicho parou tranquilo,
Respondeu com coração.
— Cavo a toca pra morar,
É meu canto e proteção,
Mas sigo os rumos da vida,
Mudando em cada estação.
Deixo a casa para os outros,
Que fazem dela um lar, então.
Vêm corujas e cobrinhas,
Doninhas, ratos também,
Cada um busca refúgio
Na toca que faço bem.
Sem querer, o meu trabalho
Dá morada a mais alguém.
Chegou o grande Tatuaçu,
Chamado “rei da trincheira”:
— Minhas casas dão frescor,
Umidade verdadeira,
Guardam vida e equilíbrio
Na floresta inteira.
— Mas sofremos com a caça,
Do homem sem perceber,
Que fere a mãe natureza
Quando resolve nos ter.
Ao matar o tatu velho,
Muitos sofrem sem saber.
Disse a moça com respeito:
— Agora posso entender,
Quem protege os construtores
Protege a todos do viver.
Na floresta cada abrigo
É lição para aprender.
Moral do cordel:
Quem constrói para sua vida,
Constrói também para o irmão.
A toca do tatu simples
É escola de proteção.
Salvar o tatu na mata
É salvar toda a criação.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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