terça-feira, 9 de setembro de 2025

TATUETÊ E O TATUAÇU l, Os Construtores de Abrigos






A Fábula da Jovem e os Tatus

Numa manhã serena, uma jovem caminhava pela mata e encontrou o Tatuetê, o pequeno tatu-galinha, cavando firme a terra. Curiosa, perguntou:


— Tatu, dizem que você é um construtor de abrigos para muitos animais. Isso é verdade?


O tatu parou, ergueu a cabeça com calma e respondeu:


— Eu faço minhas tocas para morar e me proteger. Mas sigo os caminhos da vida: quando a estação muda e o alimento escasseia, vou em busca de novas terras. Assim, deixo para trás as casas que cavei.


A jovem então quis saber:


— E o que acontece com suas antigas moradas?


O tatu sorriu e explicou:


— Minhas tocas não ficam vazias. Logo vêm corujas, cobras, doninhas, ratos e até cascavéis. Eles se abrigam onde já morei. Minha casa se transforma no lar de muitos. Assim, sem querer, ajudo a manter o equilíbrio da floresta.


De longe, aproximou-se o Tatuaçu, o grande tatu-canastra, e completou:


— Também sou chamado de engenheiro da natureza. Minhas tocas guardam umidade, regulam o calor da terra e dão refúgio até ao raro cachorro-do-mato. Mas, infelizmente, muitos homens não compreendem nossa importância. Caçam-nos sem pensar que, ao nos ferirem, ferem a própria floresta.


A jovem escutou atenta, e com o coração cheio de respeito disse:


— Agora sei que vocês são verdadeiros construtores da vida. Quem protege o tatu protege também todos os que dependem de seus abrigos.


E assim, Tatuetê e Tatuaçu seguiram cavando suas casas, deixando para o mundo a lição de que até os mais silenciosos da mata trabalham pelo bem de todos.


Moral da fábula:

Quem constrói para si, sem perceber, pode estar construindo para muitos. Proteger a natureza é proteger a casa de todos os seres.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




TATUETÊ E O TATUAÇU l, Os Construtores de Abrigos 

( Versão Cordel Sextilhas )



Na mata um dia uma moça

Perguntou com devoção:

— Tatu, você é abrigo

Para toda a criação?

O bicho parou tranquilo,

Respondeu com coração.


— Cavo a toca pra morar,

É meu canto e proteção,

Mas sigo os rumos da vida,

Mudando em cada estação.

Deixo a casa para os outros,

Que fazem dela um lar, então.


Vêm corujas e cobrinhas,

Doninhas, ratos também,

Cada um busca refúgio

Na toca que faço bem.

Sem querer, o meu trabalho

Dá morada a mais alguém.


Chegou o grande Tatuaçu,

Chamado “rei da trincheira”:

— Minhas casas dão frescor,

Umidade verdadeira,

Guardam vida e equilíbrio

Na floresta inteira.


— Mas sofremos com a caça,

Do homem sem perceber,

Que fere a mãe natureza

Quando resolve nos ter.

Ao matar o tatu velho,

Muitos sofrem sem saber.


Disse a moça com respeito:

— Agora posso entender,

Quem protege os construtores

Protege a todos do viver.

Na floresta cada abrigo

É lição para aprender.


Moral do cordel:

Quem constrói para sua vida,

Constrói também para o irmão.

A toca do tatu simples

É escola de proteção.

Salvar o tatu na mata

É salvar toda a criação.




Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




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