quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O KÃIMBIRAÛASU, Guardião da Força da Floresta






A Fábula do Besouro-hércules 


No tempo em que os seres ainda aprendiam a conviver na mata, vivia um inseto pequeno, mas com o sonho de ser grande. Esse inseto era o Kãimbira, um besouro comum, que passava despercebido entre folhas, troncos e raízes.


O Kãimbira observava a onça, o mutum, a harpia e dizia:

— "Eu também queria ser forte, eu também queria ser respeitado."


Certa noite, o Grande Espírito da Floresta ouviu seu pedido e decidiu pôr à prova sua coragem. Chamou o vento, as águas e o trovão, e diante do pequeno besouro perguntou:

— "Se desejas força, tens de aprender a carregá-la."


Então o Espírito fez nascer em sua cabeça um grande chifre, maior que seu corpo. No início, o Kãimbira caiu de costas, desajeitado. Os outros animais riram:

— "Olhem, o besouro agora tropeça no próprio peso!"


Mas o besouro não desistiu. Treinou noite e dia, rolando troncos, empurrando pedras, escalando galhos. Pouco a pouco, aquele peso se transformou em força verdadeira.


Um dia, a floresta foi ameaçada pelo Jiboiaçu, uma serpente que esmagava ninhos e assustava os filhotes dos animais. O Kãimbira, agora chamado Kãimbiraûasu — o Besouro Gigante, enfrentou a cobra. Não com veneno, nem com garras, mas com sua força: empurrou a jiboia com o chifre, derrubando-a no rio.


Desde esse dia, os animais da floresta passaram a respeitá-lo. Ele não era o mais rápido nem o mais belo, mas era o guardião da força da floresta, exemplo de que o menor também pode ser grande quando carrega coragem no peito.


E assim, quando vemos o Besouro-hércules hoje, lembramos da lição do Kãimbiraûasu:

👉 A verdadeira força não está no tamanho do corpo, mas na constância do espírito.


📖 Essa fábula pode ser contada em roda, como lição para crianças e adultos, unindo mito e observação da natureza.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 




O KÃIMBIRAÛASU, O Besouro-hércules

( Versão Cordel Sextilhas  )


Na beira da mata escura

Vivia um besouro pequeno,

Carregava a desventura

De não ser forte, ser menos.

Sonhava um dia brilhar,

Ter respeito no terreno.


Ouvindo a sua oração

O Espírito apareceu,

Deu-lhe um grande trovão,

E um chifre no rosto deu.

Pesava como montanha,

Mas o inseto agradeceu.


No começo tropeçava,

Caía sem direção,

Os animais zombavam

De sua transformação.

Mas treinou noite e dia

Com firmeza e coração.


Rolava troncos pesados,

Empurrava pedra e chão,

Até que ficou temido

Por sua determinação.

Do menor, fez-se gigante,

Um herói da criação.


Certa vez a jiboia

Veio à floresta atacar,

Filhotes ficou com medo,

Ninguém quis lhe enfrentar.

Mas o besouro valente

Foi primeiro a se arriscar.


Com seu chifre poderoso

A serpente derrubou,

Na correnteza das águas

A malvada se afundou.

E a mata inteira aplaudia

O herói que se mostrou.


Assim ficou conhecido

Na fala do povo seu,

Kãimbiraûasu é o nome,

“Besouro gigante” nasceu.

Quem tem coragem na vida

Nunca se perde no breu.


👉 Essa versão em cordel já pode ser usada em recital, livro ou até capa ilustrada.



Autor: Nhenety Kariri-Xocó 





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