A Fábula do Besouro-hércules
No tempo em que os seres ainda aprendiam a conviver na mata, vivia um inseto pequeno, mas com o sonho de ser grande. Esse inseto era o Kãimbira, um besouro comum, que passava despercebido entre folhas, troncos e raízes.
O Kãimbira observava a onça, o mutum, a harpia e dizia:
— "Eu também queria ser forte, eu também queria ser respeitado."
Certa noite, o Grande Espírito da Floresta ouviu seu pedido e decidiu pôr à prova sua coragem. Chamou o vento, as águas e o trovão, e diante do pequeno besouro perguntou:
— "Se desejas força, tens de aprender a carregá-la."
Então o Espírito fez nascer em sua cabeça um grande chifre, maior que seu corpo. No início, o Kãimbira caiu de costas, desajeitado. Os outros animais riram:
— "Olhem, o besouro agora tropeça no próprio peso!"
Mas o besouro não desistiu. Treinou noite e dia, rolando troncos, empurrando pedras, escalando galhos. Pouco a pouco, aquele peso se transformou em força verdadeira.
Um dia, a floresta foi ameaçada pelo Jiboiaçu, uma serpente que esmagava ninhos e assustava os filhotes dos animais. O Kãimbira, agora chamado Kãimbiraûasu — o Besouro Gigante, enfrentou a cobra. Não com veneno, nem com garras, mas com sua força: empurrou a jiboia com o chifre, derrubando-a no rio.
Desde esse dia, os animais da floresta passaram a respeitá-lo. Ele não era o mais rápido nem o mais belo, mas era o guardião da força da floresta, exemplo de que o menor também pode ser grande quando carrega coragem no peito.
E assim, quando vemos o Besouro-hércules hoje, lembramos da lição do Kãimbiraûasu:
👉 A verdadeira força não está no tamanho do corpo, mas na constância do espírito.
📖 Essa fábula pode ser contada em roda, como lição para crianças e adultos, unindo mito e observação da natureza.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
O KÃIMBIRAÛASU, O Besouro-hércules
( Versão Cordel Sextilhas )
Na beira da mata escura
Vivia um besouro pequeno,
Carregava a desventura
De não ser forte, ser menos.
Sonhava um dia brilhar,
Ter respeito no terreno.
Ouvindo a sua oração
O Espírito apareceu,
Deu-lhe um grande trovão,
E um chifre no rosto deu.
Pesava como montanha,
Mas o inseto agradeceu.
No começo tropeçava,
Caía sem direção,
Os animais zombavam
De sua transformação.
Mas treinou noite e dia
Com firmeza e coração.
Rolava troncos pesados,
Empurrava pedra e chão,
Até que ficou temido
Por sua determinação.
Do menor, fez-se gigante,
Um herói da criação.
Certa vez a jiboia
Veio à floresta atacar,
Filhotes ficou com medo,
Ninguém quis lhe enfrentar.
Mas o besouro valente
Foi primeiro a se arriscar.
Com seu chifre poderoso
A serpente derrubou,
Na correnteza das águas
A malvada se afundou.
E a mata inteira aplaudia
O herói que se mostrou.
Assim ficou conhecido
Na fala do povo seu,
Kãimbiraûasu é o nome,
“Besouro gigante” nasceu.
Quem tem coragem na vida
Nunca se perde no breu.
👉 Essa versão em cordel já pode ser usada em recital, livro ou até capa ilustrada.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
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