Parte II
Continuando de onde parou:
d) 4 e 5, ibichó: Este é o ponto principal destes textos, aqui vemos uma palavra suspeitosamente similar ao bihé do norte, porém seu significado é múltiplo e não solo, o que implica que essa palavra não era o número um original dessas línguas, e sim uma palavra que veio a descrever quantidade. Voltemos para o vocabúlario de Martius e olhemos para a palavra que ele nos dá para pessoa ou persona, já que ele utiliza latim:
persona ---- ibichó.
A mesma palavra para 1, 4 e 5 (ou melhor dizendo, um ou muitos) é derivada da palavra para pessoa, mas como esta palavra pode ter ambos o significado singular e plural sendo que por natureza, uma pessoa jamais pode ser várias ?
Esta é explicação de Ari Loussant:
1) Ambas são compostas por palavras homófonas (ou seja com sons iguais), quebremos esse composto para começarmos a discussão:
2) bi- sempre surge em compostos referentes ao *rosto* ou a capacidade de *perceber* (ubbi "ver, ouvir, bidzancro "cara", bidzoncrá "bocejar", bidzora "olhar pasmado"), seu significado sozinho é de *ver*, o seu composto cognato foi bem registrado no Dzubukuá *bidzoho* (bi "ver, visagem (?)" + *dz-ə "face") "alguém, ninguém (em frases negativas), todos (note a mesma falta de distinção entre singular e plural em alguém e todos)"
3) ho- tem dois possíveis significados, cujo me confundiram exatamente por conta disso, no entanto vejam os argumentos
3.1) Temos o ho de "outro", cujo surge no verbo Dzubukuá hoho "ser diferente, distinto", cujo antigamente Ari pensou estar relacionado ao ho de "contra", porém este está relacionado ao so "contra" do Kipeá, se eles estivessem relacionados, veríamos *bisé* e não *bihé*, isto implica uma origem velar para esse som, ou seja /ɣ/. Com isso em mente reconstruiríamos a palavra *biɣə "alguém; ninguém; lit.: ver/visagem-outro ou outra ver/visagem/rosto na gramática portuguesa"
3.2) Também temos o ho de -iho "muitos" do Dzubukuá (cognato do Kipeá -yo ou com perda intervocálica do som /ɣ/ ou palatalização de /ɣ/ para /j/), sabemos que ele é parte dessa composição, pois voltando para a palavra Dzubukuá *bidzoho* podemos ver que ela carrega sentidos opostos de "alguém" no singular e "todos" no plural", já que o significado foi imposto na mesma palavra isso implica que eles eram homófonos, reconstruindo-se portanto *biɣə* "todos; lit.: rosto(?)-muitos".
Concluindo portanto que ambos sofreram conflação por homofonia, ou seja tornaram-se uma palavra só por terem sons idênticos, eis o porquê de bichoh e bihè representarem conceitos tão distantes.
Autor da matéria: Ari Loussant
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