quinta-feira, 2 de junho de 2022

ORIGEM DO NÚMERO UM BIHÉ 3

 

Parte III



d) Este é um último texto desta hipótese, cujo não é uma hipótese em si e sim uma explicação das frases descritivas que se tornaram números no Kipeá:


1) 1 ou *Bihé*: Por favor leia a parte II deste texto.


2) 2 e 3 ou *Wachani e Wachanidikie*: Por favor leia a parte I deste texto.


3) 4 ou *Sumarã Orobae*: Devido à ortografia que mal interpreta os sons, é difícil ver o significado da frase, o uso de sumarã que foi traduzido como "inimigo" dificulta ainda mais o que os Kipeá queriam dizer, porém nesse caso a palavra para "inimigo" na verdade quer dizer "contra" ou "oposto" (por favor leiam a página 69 do Catecismo de Nantes sobre o Dzubukuá e vejam seu uso nas frases) além de estar marcado com o prefixo possessivo não contíguo s-. Já o Oro de *Orobae* é uma má interpretação do demonstrativo proximal eró "este", cujo sabemos que o *e* inicial é um schwa por causa do equivalente Dzubukuá (anro) e -bae indica "totalidade", a tradução mais compreensível seria portanto: "POSS-inimigo este-todos ou inimigo/oposto de todos estes (se referindo aos três dedos anteriores)".


4) 5 ou *My bihé misã saí*: É uma frase que se traduz literalmente "levar/ser levado uma mão 3PS-para, em português: levar/ser levada uma mão para ele (ele se referindo à pessoa com que você está conversando)".


5) 6 ou *Myrepri Bubihé Misã Sai*: Não há muito que analisar nos próximos números, é a mesma frase contando na ordem com a adição de um número, ou seja 5 + 1, 5 + 2, 5 + 3 e 5 + 4. O repri de Myrepri é o problema, se eu tiver que dar uma interpretação seria my "ser levado" + re (alógrafe do demonstrativo proximal ro, o que implica que a pronúncia dele é um schwa) "este/isto" + pri "ser deixado" = "ser levado esta (se referindo à mão) e ser deixado X (X = todo número após o verbo, nesse caso bubihé)" ou traduzindo tudo "ser levada a mão e ser deixado um para ele".


AVISO: Esta explicação tem pouca força de argumento até eu confirmar que o demonstrativo *ro* possui um schwa ou se *re* representa outra palavra, eu poderia ter dito é a versão desnasalizada de *æmpri* "totalmente", mas isso não explicaria este *r* intervocálico de *myrepri*. Portanto continuarei utilizando o demonstrativo *ro* nos próximos números para explicar suas composições até uma hipótese forte ser concluída.


6) 7 e 8 ou *Myrepri wachani misã sai* e *Myrepri wachanidikie misã sai*: Explicação no ponto *5)*


7) 9 ou *Myrepri sumarã orobæ misã saí*: É literalmente "Ser levado a mão e ser deixado o (dedo) oposto à todos estes (os dedos anteriores) para ele".


8) 10 ou *Mycribæ misã saí*: literalmente significa "ser levada todas as mãos para ele".


9) 20 ou *Mycribæ misã ideho iby saí: literalmente "ser levada todas as mãos e pés para ele".



Nota: A hipótese de Rodrigues sobre saí significar dedo não se sustenta:


1) O Kariri permite apenas alguns hiatos vocálicos (a maioria sendo por conta da gramática como o sufixo do plural -á) ou em "compostos" errôneos do Mamiani como esposa (ideinhu) que é na verdade uma frase: i-dé i-nhu "POSS-mãe 3PS-filho ou mãe do(s) filho(s) dele(s)" que segundo Mamiani se conjuga no *i-nhu* para dizer de quem seria a esposa.


2) Não existe nenhum cognato implicando esse significado, s-aí "para ele" é explicado nas regras da gramática de Mamiani e faz mais sentido no contexto dado.


3)  A única evidência da palavra dedo se encontra no vocabulário Kamurú de Martius: mussambugi "mão-classificador-longo(?), talvez literalmente coisas longas da mão já que bu- surge em adjetivos".



Autor da matéria: Ari Loussant



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