Este texto tem como base a publicação "DESCRIÇÃO CULTURAL 1" e traduz os termos Kariri para seus equivalentes em Peagaxinã, ou seja, Natú, note que, devido ao compartilhamento das culturas e também através da análise comparativa, muitas palavras serão idênticas entre o Kipeá e o Natú, pois ambos os povos viviam lado a lado de acordo com Mamiani:
1) KRÓBÈKA (kró- 'prefixo de objetos redondos' + bèka 'cortar, talhar'), a cuia, cuieira, vasilha feita do fruto da cabaça (Lagenaria siceraria), serve como prato partida ao meio ou vasilhame de guardar líquidos, mal, água etc...
2) DUBU ZITÓK (du-bu 'cabaça de carregar' + zitók 'não-indígena'), o utensílio europeu caixa, objeto de madeira quadrangular ou retangular para guardar objeto (s).
3) ROWIZA (ro-wi 'escrever' + -za 'sufixo de instrumento' = rowi-za 'instrumento de escrever'), o livro ou carta, instrumento que serve para escrita em Natú.
4) BUIBU, o instrumento musical em Natú, a maracá feito com cabo de madeira e semente de meru, uma espécie de chocalho indígena.
5) ZAWAHÓ KIA (zawa-hó 'pele da boca, lábio' + kia 'pedra'), o adorno inflexível utilizado no lábio inferior, de formato alongado, pode ser de madeira, pena ou até mesmo espinho grande.
6) TÌÑÊ ( tì 'colocar' + ñê 'meter'), o nome de cestas em Natú, cipó ou taquara, menor que o cesto, para transportar utensílios, com alça de cipó.
7) TÌÑÊ PÉ (tìñê 'cesta' + pé 'comprido'), o nome de cofos/samburás em Natú
8) DUBÉ, o nome de aió em Natú, feito artesanalmente entrançado de fibras de caroá ou palha de aricuri, servindo para transportar utensílios pessoais.
9) WIMÂ (do verbo wimâ 'assoprar, abanar'), o nome de abano em Natú, feito artesanalmente entrançado de palha de aricuri, servindo para abanar o fogo de lenha ou a carvão.
10) PRÉBU (pré 'amadurecer' + bu 'cabaça'), o nome de cuia de coité em Natú, vaso feito desse fruto maduro depois de esvaziado do miolo, servindo de prato vegetal natural.
11 ) BURUHU, o nome de fuso em Natú, a pequena bobina de madeira que serve para fiar na roca, um torcedor de fios de algodão.
12) KUNÃZE WÓZA (kuñaze 'fio, pano, tecido' + wó-za 'instrumento de produzir'), instrumento de produzir tecidos, o nome do tear em Natú, um aparelho empregado para fins de tecelagem, destinada ao fabrico de tecidos, malhas, tapetes, redes etc...
13) SATIPI (sa 'furar' + tipi 'peixe'), o nome da rede de pescar em Natú, feita de fios de algodão ou fibras de tucum, com malhas para capturar peixes e mariscos.
14) IZAKO (i-zako 'ele suspende'), o nome da rede de dormir em Natú, utensílio doméstico feita com cipó, fibras vegetais como de algodão, servia para descansar, dormir e enterrar os mortos.
15) IKRÂ (i-krâ 'ele(a) é metal'), o nome de machado em Natú, a ferramenta feito de cabo de madeira e cunha de pedra, utilizado no corte de lenha e desbaste de troncos.
16) IZÓ (i-zó 'ele(a) fura'), o nome de espeto em Kariri, a haste fina de pau, aguçada na extremidade, para assar carne, ave ou peixe, sobre uma fogueira ou braseiro.
17) BARASHIÑÌ (bara-shiñì 'continua caindo, continua descendo') o nome de embira de amarrar ou corda em Natú, pode ser feita do entre casca de árvore ou arbusto ou de fibras vegetais mais flexíveis, como caroá, tucum etc...
18) WAMIRÎ (wamirî 'sacudir'), o nome de peneira em Natú, utensílio de armação circular e uma tela de taquara entrançados, onde se passam substâncias transformadas em pequenos fragmentos, como farinha e cereais.
19) RUÑU (ru 'despejar' + ñu 'comida, mantimento'), o nome de panela de barro em Natú, objeto cerâmico utilitário que serve para cozer alimentos, feita pelas mulheres.
20) ARIBA, o prato de barro em Natú, objeto de barro da cerâmica utilitária que serve para comer os alimentos, feito pelas mulheres.
21) ÑAKIÑIHA (ña-kiñìha 'coisa de barro pequena), o prato de barro pequeno em Natú, objeto de barro da cerâmica utilitária que serve para comer os alimentos, feito pelas mulheres.
22) PÀWI, o cachimbo de pau ou barro em Natú, utensílio para fumar feito de madeira ou argila, estes objetos são feitos pelos homens.
23) WARÀRÓ (warà 'macaxeira' + ró 'áspero'), o beiju de farinha de mandioca em Natú, feito da massa assada no forno, após o fabricação da farinha.
24) WARUDU (waru 'macaxeira' + du 'inchar, bolo'), o bolo já assado em Kariri, iguaria feita à base de massa de farinha, na forma tradicional geralmente de sabor natural.
25) PEPE (pe-pe 'bola-bola') o nome de peteca em Kariri, , o brinquedo de base arredondada, feito de couro e penas, lançado ao ar, brincadeira dos rapazes.
26) ZERIWÊ (zeri 'cabelo' + wê 'bom, bonito'), o adorno das mulheres em Natú, um cordão adornado com penugens coloridas de penas de aves, com palito preso ao cabelo.
27) MARIDU (mari 'matar, caçar' + du 'bolsa'), priaca em Natú, mesmo que YARÚ do Kariri, uma bolsa de caçador confeccionada de couro.
28) SABUÌ (sa 'estar de pé' + buì 'flecha, arco'), o nome do arco em Natú, arma de madeira semcírcular flexível, utilizada para lançar flechas, utilizada na caça, na pesca e defesa.
29) KONKUPY (kon 'ponta' + kupy 'matar'), o nome de maça ou clava em Kariri, um pedaço de pau grosso, mais volumoso na extremidade, usado para ataque e defesa.
30) BYBYTÉ, a palheta de jogar em Natú, uma espátula de madeira, que faz vibrar o ar quando jogado, produzindo um som cavernoso.
31) BÓ, o fruto do urucuzeiro (Bixa orellana), utilizado na culinária como condimento e no preparo de tinturas para pintar o corpo.
32) MÉ, o fruto do jenipapo (Genipa americana), utilizado na pintura corporal, a substância extraída do sumo do fruto ralado.
33) MATÌRA (ma-tì 'é milho' + ra 'colher'), o nome de milho (Zea mays) cereal utilizado como alimento, tanto assado, em comidas típicas dos povos indígenas, inclusive os Peagaxinã.
34) TÓNA,, o nome de carimã farinha de mandioca seca e fina na língua Kariri, a base da alimentação indígena, desde os tempos imemoriais.
35) IWI KRA ÑU (i-wi 'caroço' + kra 'escuro' + ñu 'comida, mantimento'), o nome de feijão ( Phaseolus vulgaris ), faz parte da culinária nativa, na combinação acompanha carnes, verduras e tubérculos.
36) KUÑAWÓ (kuña 'vestir' + wó 'comprido'), o nome de abóbora ( Abobra tenuifolia ), fruto da aboboreira utilizado no consumo, tanto cozida como em forma de doce.
37) BAKOBA, o nome de banana ( Musa × paradisiaca ), usada na culinária, etimologia do tupi pa'kowa, que significa "folha de enrolar". Também traduzido como ÑUPÉZADÓ (ñu 'comida, mantimento' + pé- 'prefixo de objetos compridos' + sadó 'cobrir' = ñupézadó 'comida comprida coberta').
38) GROGÓ (gro 'mandioca' + gó 'branco'), o nome da mandioca ( Manihot esculenta ), utilizada na alimentação nativa em forma de farinha, cozida ou como bolo, beiju, tapioca etc...
39) ENDIU, o nome do algodão ( Gossypium barbadense L. ) a fibras brancas desta planta utilizada na confecção de fios, rede, panos em geral.
40) MARAWÓ (mara 'floresta, mata' + wó 'queixada, porco'), o nome do porco selvagem , Caititu ( Pecari tajacu ), sua carne apreciada assada no moquem.
41) BEHÉZI, o nome de melancia (Citrullus lanatus), o fruto nativo da África, mas foi adotada pelos indígenas, entre eles os Kariri.
42) BASHIHU (bashihu 'desamarrar'), o nome de cão caçador (Canis lupus familiaris), trazido pelo colonizador, adotado pelos indígenas.
43) KRI (kri 'roedor'), o nome de mocó (Kerodon rupestris), um roedor utilizado na alimentação dos indígenas da caatinga do Nordeste.
44) KRAZÓRI (krazóri 'atravessar'), pequenas embarcação que consistia na junção de madeira leve em forma de balsa para atravessar o rio.
45) OBÓ, o nome do fruto do umbu ( Spondias tuberosa ) , utilizado na alimentação de forma natural, na embuzada.
46) WOIKRÀ (woikrà 'surgir, aparecer, ascender'), o nome do brinquedo "cavalo-de-pau", na língua Kariri, uma vergôntea de marmeleiro com cabeça simulada e cabresto.
47) KAKI (ka 'galinha, gritar, chamar' + ki 'ave'), o nome de galo (Gallus gallus), ave originária da Índia trazida pelo colonizador, adotado como animal doméstico na culinária.
48) SUÑA (su-ña 'criar soco' > suña 'trotar'), o nome de cavalo ( Equus ferus caballus ), trazido pelos colonizadores, que os indígenas adotaram para o transporte.
49) KRUZA, o nome de cruz na língua Kariri, evangelizados pelos missionários capuchinhos, os Dzubukuá adotaram a fé cristã simboliza da na cruz.
50) KISHÓ, a armadilha para pequenos animais, utilizado pelos indígenas Kariri do Nordeste.
51) KRIWÓ (kri 'casa, doméstico' + wó 'queixada, porco'), o nome do porco doméstico (Sus scrofa domesticus), trazido pelos colonizadores, a carne muito apreciada pelos indígenas.
52) KISHAKIA (kisha 'fogo' + kia 'pedra'), a pedra de fogo ou corisco no Kariri, utilizada como machado neolítico ou pedra para juntar fogo por fricção.
53) BUYU, a vasilha de encher água cabaça ( Curcubita lagenaria ), a cabaça média de pescoço utilizada pelos nordestinos do sertão.
54) KRAZÓKA (krazó 'gado' + ka 'gritar, chamar'), o canto do vaqueiro que conduz o gado, utilizada primeiramente pelos indígenas Kariri , na época dos currais.
55) KURU, o instrumento de aviso dos trabalhadores das quebradas, feito de rabo de tatu, segundo menciona SIQUEIRA, 1978: 238.
56) BADA, o instrumento feito com uma pequena cabaça, utilizada pelos antigos Kariri no sertão nordestino.
57) MARABASHI (maraba 'roça' + shi 'velho'), capoeira ou roçado velho na língua Peagaxinã.
58) WÌPÉ (wì- 'classificador de objetos feitos de madeira' + pé 'comprido'), a cerca de pau espécie de paligada, que protegia a aldeia, posteriormente esse costume passou a proteção da casa com quintal.
59) GOPRUN (go 'chifre' + prun 'veado'), o nome de cabra ( Capra aegagrus hircus ), animal doméstico trazida pelos colonizadores, fornece a carne e leite na alimentação.
60) SEPRUN (se 'cabelo' + prun 'veado'), o nome de ovelha ( Ovis aries ), animal doméstico trazido pelos colonizadores, utilizando sua carne e a lã na tecelagem.
61) KRAZÓBEÑAN (krazó 'gado' + beñan 'carne'), a carne de gado em Peagaxinã, usada na alimentação assada ou cozida, alimento trazido pelo colonizador europeu.
62) SEÑARIMU (señari 'tecer' + mu 'covo'), o covo de peixe, armadilha de pesca cilíndrica feito de taboca, para capturar pequenos peixes e camarões.
63) KUDÓ, o nome da capivara ( Hydrochoerus hydrochaeris), maior roedor do mundo, animal comestível.
64) KAKIKA (kaki 'galinha' + ka 'branco', se referindo aos pontos brancos de sua plumagem), a ave jacu ( Penelope purpurascens ), sua carne era muito apreciada na alimentação dos indígenas.
65) PRÓPY (pró 'derivado de' + py 'raiz, espuma, verdura'), o melão-de-são-caetano ( Momordica macrophylla ), alimento utilizado no tempo da crise no sertão.
66) YAKRARA (ya 'dente' + krara 'amarrilho'), o nome de anzol em Peagaxinã, a ferramenta para a captura de peixes, vem acompanhado com a linha, vara e chumbada.
67) YERU (ye 'doce, gostoso' + ru 'carregar'), o vinho de uva ( Vitis vinifera ), trazida pelos missionários capuchinhos que catequisaram os índios do São Francisco.
68) BAZURU (ba 'jirau' + zu 'esquentar' + ru 'carregar, panela'), o moquém em Natú, a grelha de madeira usada para defumar qualquer tipo de carne ou peixe, no calor da fogueira sob fumaça.
69) MARABA (mara 'mata' + ba 'estar, lugar'), a roça em Natú, uma área agrícola utilizada pela comunidade, cada povo faz o seu cultivo conforme sua cultura de seu jeito.
70) BAWATÓK (bawa 'ouvir, escutar' + tók 'não'), o brincar em Natú, brinquedo, brincadeira, uma categoria do entretenimento deste povo nativo do sertão nordestino.
71) BUDUDU (bu 'espécie de ave' + dudu 'inchar, inchado'), o nome da ave jaó em Peagaxinã.
72) BUIBU (bui 'cabaça' + bu 'cabaça'), o nome de maracá em Natú, do instrumento musical indígena, espécie de chocalho vegetal, feito de cabaça ou coité.
73) PRUN DÓWI (prun 'veado' + dówi 'verdade, verdadeiro') o nome de veado suçuatinga (Ozotoceros bezoarticus), sua carne muito apreciada pelos indígenas Kariri.
74) BÓ, a pintura corporal nativa com o fruto do urucuzeiro ou urucueiro (Bixa orellana), em sua cor vermelha escura.
75) KRAHÓ (kra 'seco, secar, cavar' + hó 'muito'), o nome de cacimba em Kariri, um buraco que se cava até atingir um lençol de água subterrâneo, para recolher a água presente no solo.
76) KRAZÓ (kra 'anta' + zó 'assar') o Gado-bovino-doméstico ( Bos taurus ), vaca, boí, carne, gado trazido pelos colonizadores no período do Brasil Colônia.
77) KREYA, assado em covas em Natú, uma técnica de assar carne, tubérculos, sob a terra, utilizada pelos indígenas brasileiros.
78) DUBÈ (du 'capim' + bè 'cortar'), o nome da foice em Natú, uma ferramenta agrícola com lâminas curvadas e normalmente usada para cortar o mato.
79) MAKAZU (ma 'milho' + kazu 'cozinhar, ferver'), o milho cozido em Kariri, colocando as espigas em panela de barro, com água temperada com sal no fogo de lenha
80) SE, o nome de pano em Kariri, a transformação de fibras em fios de algodão em tecidos para peças de vestuário, redes e tapetes.
81) TONAZU (tona 'farinha' + zu 'pó, poeira') o nome do pó de farinha em Natú, feito pela moagem de grãos crus, raízes, feijões, nozes ou sementes, ressecado ao forno em ponto de consumo.
82) DEHEBA (de-he 'braço' + ba 'tirar parte'), o nome de cavador em Natú, um instrumento de madeira com ponta laminar, utilizada para cavar buraco na terra.
83) SO (so 'curar, remédio'), o nome de remédio, mezinha, cura em Kariri, pode ser de raiz, folha, casca de árvore, que leva toda uma preparação ritualística.
84) SONSÉKA (Sonsé 'Deus' + ka 'água'), o nome de água benta em Natú, santificada por sacerdote, no batismo, benção de pessoas, lugares e objetos, ou como forma de repelir o mal.
85) IBA (i-ba 'ele é talhado'), o nome de carro em Kariri, um veículo que se locomove sobre rodas, para transporte de passageiros ou de cargas.
86) KIKI (ki-ki 'areia'), palavra Peagaxinã para areia, conjunto de partículas de rochas degradadas, um material de origem mineral finamente dividido em grânulos ou granito.
87) MEREBA (mere 'pé' + ba 'jirau'), o nome de jirau para moquem em Natú, consiste num estrado de madeira para assar carne sobre o fogo.
88) MAZÓ (ma 'milho' + zó 'assar'), o nome do milho assado em Natú, na técnica de preparo a espiga de milho verde sobre as brasas no calor da fogueira.
89) MAHÓ (ma 'milho' + hó 'beber'), o nome do vinho de milho em Peagaxinã, passando por um processo de fermentação natural, com a cauda da maça do milho destilada.
90) AÑI (a- 'prefixo genérico de humano' + ñi 'colocar, meter, plantar' = a-ñi 'plantio humano'), o nome de lavoura em Kariri, a preparação da terra para o trabalho agrícola, na plantação de culturas na roçaou no campo.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
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