Em resumo do que conclui nos últimos meses, o Kariri é resultado de múltiplas fusões étnicas ao longo dos séculos e milênios, em algum momento no passado, os Kariri se misturaram com povos Terejê do Cerrado brasileiro e migraram rumo ao Rio Opará, da onde muitos ou desceram até sua foz pelo lado de cima, migrando subsequentemente para os Estados de Pernambuco e Ceará, enquanto outros grupos cruzaram o rio e adentraram onde hoje se encontram Alagoas, Sergipe e a Bahia, antes mesmo disso, os Kariri eram um grupo que divergiu e tornou-se um grupo independente da família Macro-Caribe, muitos dos vocábulos mais básicos do Kariri são identificados como cognatos daqueles encontrados nas línguas que hoje vivem no Escudo das Guianas.
Hoje trago mais achados dessa procedência nortenha de uma das duas parcelas que formaram os Kariri que foram registrados nos séculos 17 e 18:
*A palavra UNAE 'sonhar' não é empréstimo*
A palavra UNAE 'sonhar' não se trata de um empréstimo, aquele U- na frente da palavra não é um marcador da quinta declinação real, trata-se na verdade de uma sílaba que realmente faz parte da palavra, o cognato distante dessa palavra pode ser encontrado na língua Carib (a língua cujo a família possui o mesmo nome), também conhecida como Galibi ou Kali'na, o cognato sendo (w)onety 'sonhar', é fácil ver como a palavra mudou:
one > oné > uné > unæ
*A palavra MENNE 'ira' do Dzubukuá*
A palavra para ira do Dzubukuá é imennete 'coisa de menne', enquanto a palavra paciência é imennequiete 'coisa de não menne', menne ao que parece é completamente nativo do Kariri, vindo do Proto-Macro-Caribe, seu cognato é extremamente óbvio no Galibi, sendo mene 'ruim, enorme', é possível ver como menne se desenvolveu para 'ira', um estado acima da raiva, pois o Proto-Macro-Caribe talvez possuía *mene com os significados de 'muita raiva'.
*A palavra DZÓ 'chuva'*
A palavra para chuva DZÓ não era originalmente chuva, ao que parece, seu significado antigo era de 'derramar, jorrar, despejar', isso explica também por que o substantivo precisa do verbo TI em TIDZÓ 'chuver' para adquirir o sentido de ação, pois TI significa 'por, colocar, botar, estabelecer', assim dando o sentido de TI DZÓ 'pôr a jorrar', semelhante ao inglês pour down, essa estrutura que usa o verbo TI é herdada do Terejê, como visto em seu sinônimo Xerente titaka que também usa *TI* 'estabelecer' com *TA* 'chuva', mas DZÓ se trata de um cognato do Carib, como visto no Galibi so 'borrifar' e soka 'fazer jorrar'.
Autor da matéria: Suã Ari Llusan
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