sábado, 4 de maio de 2024

SÉRIES DE PRONOMES DO MASAKARÁ, REALIS-IRREALIS E FINITUDE E NÃO-FINITUDE PARTE 1


O Masakará apresenta traços tipicamente vistos nas línguas Macro-Jê, que é seu ancestral, onde se há uma divisão pronominal que define os termos da oração, normalmente havendo a distinção binária entre o agente da frase e o objeto direto e indireto.


 Ao que vejo no vocabulário compilado por Martius (1867, p. 144), a maioria dos verbos e verbos adjetivais estão conjugandos da forma que Martius pediu para que os indígenas falassem, normalmente conjugados em uma série análoga àquela que chamo de acusativa na gramática do Peagaxinã que estou concluíndo. Note as seguintes palavras conjugadas na primeira pessoa:


ing-thug krüng (ing-thuk krüng) 'minha barriga come' (cf. Ma.: txiuk-grüng 'ventre, barriga')


in-tang ni-amu 'matar eu vou' (i-tam ñi-a-mu, a-mu fossilizado)



Na segunda pessoa:



ag-gre a-mu 'cantar tu vais' (a-mu é um verbo auxiliar, comum na gramática  Kamakã)


a-hhar n-amu 'lavar tu vais' (n-a-mu 'tu vais')



Na terceira pessoa:



niameng mung quamu 'beber ele(a) vai' (ñamengmung ku-a-mu, com a-mu fossilizado com o prefixo a-)


aggungtschiamu 'te chamar ele(a) vai' (ag-gung txi-a-mu)


oequiamu 'dançar ele(a) vai' (we ki-a-mu)


hnamai aü küamu 'caçar ele(a) vai' (nhamiaü kü-a-mu)



 O que noto aqui é que parecem existir classes dentro dessa série acusativa, note a distinção entre in- e ni-; a- e n-a-; ku-, ki, tschi- e kü-, é como se houvessem vários tipos de conjugações, sendo o mais interessante é que tal distinção era marcada pelo verbo auxiliar mu 'ir, andar' ao invés de ser marcada no verbo em si. No caso da terceira pessoa eu creio ser um caso de alofonia do que de real distinção, mas a diferença entre os pronomes de primeira pessoa e segunda pessoa são o suficiente para especular uma possível existência de classes pronominais.


 E nesse caso, mais uma vez, argumento que a proximidade do povo Masakará com os povos Kariri tenha influenciado tal decisão de distinção de classes pronominais, visto que tal não é um fator notável nas outras variantes Kamakã, creio que seja possível distinguir tais classes da seguinte forma:


Classe I


in- 'eu, meu, minha'

a- 'tu, teu, tua'

ku-/kü-/ki-/txi- 'ele, ela, dele, dela'


Classe II


n-i- 'eu, meu, minha'

n-a- 'tu, teu, tua'

ku-/kü-/ki-/txi- 'ele, ela, dele, dela'


Os pronomes plurais, similarmente ao Natú, provavelmente tinha pouca distinção, salvo pelo pronome kigne/kigna (kiñe/kiña) 'nós, nosso, nossa', que se distingue do pronome de primeira pessoa singular. Os pronomes possessivos já foram discutidos antes, existiam dois tipos, os pronomes posposicionais independentes (mü 'meu, minha', xö 'teu, tua') e os dependentes (in-ñung 'meu' e o hipotético *a-ñung 'teu, tua'), o Masakará parecia favorecer o uso dos dependentes, derivados do genitivo Macro-Jê *-ñũk. Argumento também que os posposicionais talvez nem existissem nessa forma, sendo na verdade prefixos, já que vemos tal com o prefixo kü- 'ele, ela, dele, dela' e nunca o vemos sendo usado como posposição, esse aspecto talvez sendo uma evolução específica do Kamakã Comum.



Série de pronomes possessivos da classe I



in-ñung 'meu, minha'

a-ñung 'teu, tua'

ku-ñung/kü-ñung/ki-ñung/txi-ñung 'dele, dela'



Pronomes possessivos da classe II



mü- 'meu, minha'

xö- 'teu, tua'

ku-/kü-/ki-/txi- 'dele, dela'



 Os pronomes da série agentiva provavelmente eram os mesmos que os possesivos da classe II, visto que o pronome de segunda pessoa (xö) corresponde ao agentivo Maxakalí xa 'tu', não fui capaz de encontrar a origem do pronome mü, porém Guérios aponta algumas similaridades com pronomes de outras línguas indígenas do Brasil (1945, p. 19). O pronome ku- tem a mesma origem que o pronome ki- de terceira pessoa do Krenák.



Série agentiva



mü 'eu'

xö 'tu'

ku/kü/ki/txi 'ele, ela'


 Com isso, concluo a análise dos pronomes Masakará, sendo a possível distinção de classes um desenvolvimento paralelo e/ou influenciado pelo desenvolvimento das declinações das línguas Kariri, visto que este povo era vizinho tanto dos Dzubukuá quanto dos Kipeá de Mirandela.




Autor da matéria: Suã Ari Llusan 



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