Discuti no passado, quando pensava que o Terejê era uma língua paralela ao Akuwẽ, que o nome kobê ‘estrangeiro’, indica que eles não se identificavam como Akuwẽ, demonstrando que a afiliação linguística deve estar, ao menos primariamente, atrelada a outro grupo do Jê Cerratense.
O fato da palavra ser pronunciada com -b- ao invés de -w- como A-kuwẽ ‘endônimo Akuwẽ’ ou -p- como no Panará it-ppe ‘estrangeiro’ aproxima esse lexema do Jê Setentrional, que tem esse termo reconstruído como *kubẽ ‘estrangeiro’, a única língua dessa ramificação que a ainda preserva o fonema /b/, ao invés de torná-lo /p/, é o Mẽbêngôkre ou Kayapó.
Isso, como já repeti várias vezes, não invalida a presença de vocábulos de origem claramente Akuwẽ, como:
mè zikèò ‘homem’, lit.: ‘gente que luta entre si’ (esse sendo misto de Akuwẽ e Setentrional, por conta da presença de mè, que não é usado dessa forma no Akuwẽ, o que pode implicar na relação de povos durante a formação das nações Xokó, Natú e Wakonã).
zitok ‘inimigo’, cognato do Xavante tsitob’ru ‘enraivecido, inimigo’ (< *tsitobkru).
bari ‘tabaco’, cognato do Xavante warĩ ‘tabaco’.
O nome sîo ko ‘Xokó’, cognato do Xavante tsihö’wa ‘cortador, combatente’ (< *tsihə-kʷa, que evoluiu como: *tsihə-kʷa > *tse(h)ó-kó > tseó-kó > seó-kó > syó-kó > xó-kó).
O nome pea gasîi nan ‘andarilhos’, cognato do Xavante pahö ‘andar longe’ + ‘atsi ‘andar’ (< *katsi) e um sufixo pluralizador de origem desconhecida até o momento.
A relação dos povos que originaram os Terejê talvez reflita nas migrações tanto de povos Jê Setentrionais, como os Kayapó, que são visto em locais distantes de seu ponto de origem, como no sul do país (Nimuendajú, 2017), possivelmente um grupo deles migrou para o Nordeste, por meio do São Francisco. Também se tem notícias no mesmo mapa de Nimuendaju dos Akroá, presentes nas proximidades do São Francisco na margem esquerda.
O argumento que faço é que o kobê indique-nos que a identidade majoritária do povo estivesse atrelada a uma antiga população dos Jês do Norte, o conceito de fusão étnica não é descartável aqui, podendo ser exemplificado pela existência do povo Eyeri nas Antilhas, que são o resultado de uma fusão étnica entre Arawaks e Caribes por intemeio de guerras. Sabe-se que, na documentação histórica, os Kayapó são um povo guerreiro (Neme, 1969, p. 108), e o fato dos Xokó serem nomeados de ‘cortadores, combatentes’, os homens serem chamados de ‘gente que luta entre si’, o nome micéagê ‘cacique’ ser derivado de *mẽ tsihö-dzé ‘gente do instrumento de combate (Nome de uma arma ? Borduna ?)’, cognato do Xavante tsihö-dzé ‘coisa de combate’, talvez sejam pistas de uma guerra que precedeu a fusão étnica.
Autor da matéria: Ari Llusan
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