Do grupo Cayapó do Sul, temos poucas palavras, em comparação à presença significante de aspectos gramaticais desse grupo:
ati’a ‘fogo’: essa palavra, já em sua forma documentada, é mista, pois utiliza de um prefixo que não existe nas línguas do grupo do Panará, que é o prefixo a- ‘argumento genérico’, sendo este do Jê Setentrional. A palavra, no entanto, parece ter entrado na língua sem a remoção do prefixo de terceira pessoa ti-, que marca que esse lexema é um verbo (cf.: Cayapó do Sul: tikaa ‘queimar’), ou talvez, tal fosse a forma de nominalização de verbos nessa língua mista. Palavra de aspecto misto.
ke ‘tu’ (Xk) e ka ‘tu’ (Wk): Esse é o pronome de segunda pessoa do singular ergativa, surge nas frases ketalike ‘deixe-nos ir’ e kalicê bêlêtsiê báskíô ‘fale comigo’.
ta ‘2/3.IRR’ (Xk): Surge na frase ketalike, significa ‘tu/ele(a)’ na forma irrealis (futuro, imperativo).
li ‘1.ABS’ (Xk e Wk): surge nas duas frases supracitadas, significa ‘para mim’ no singular e ‘para nós’ no plural.
ke ‘ir’ (Xk): surge em ketalike, cognato do Panará kwy ‘ir’.
kinfa ‘pequeno’: A palavra é cognata do Cayapó do Sul kit ‘pobre’ e pan ‘pequeno’, demonstrando que a língua Xokó preservava suas codas por meio de extensão delas, às vezes também perdendo-a completamente, o mesmo sistema fonético do Akuwẽ.
tipià ‘cabeça’: literalmente ‘grande-alto’, cognato do Cayapó ti ‘grande’ e pià ‘alto, comprido’, possivelmente, assim como no Kariri buyewoho ‘corpo’, ti ‘grande’ significa ‘corpo’ nesse sentido, assim ti-pià ‘no alto do corpo’.
gàdilîa ‘casa’: Muito provavelmente cognato do Cayapó do Sul uncuá ‘casa’ + o verbo dilîa ‘carregar’, cognato do Cayapó do Sul tu-ri ‘carregar’, assim gà-dilîa ‘casa-carregar’ ou ‘casa de carregar, acampamento, tenda’.
INFLUENCIADO PELO CAYAPÓ DO SUL (2 PALAVRAS)
aspikîa ‘mulher’: Mais uma palavra que sofreu fusão, nesse caso, parece que os falantes confudiram pikwa ‘mulher’, um cognato do Xavante pi’õ (< *pikõ) com um cognato do Cayapó do Sul insipiá ‘mulher’, gerando as formas aspikiá e spikwais (-is ‘plural’ provavelmente do português), demonstrando a característica mista da língua Terejê.
pikûa ‘homem’: Essa forma provavelmente surgiu por processos similares ao de cima, a palavra Cayapó do Sul para ‘homem’ é impuaria ou puara, cujo nesse caso sofreu influências fonéticas de pikwa ‘mulher’.
GRUPO AKUWẼ (12 PALAVRAS)
màzi’èò ‘homem’: Essa palavra também é mista, primeiro surge a palavra mà ‘gente, PL’, cognato do Jê Setentrional mẽ ‘gente, PL’, seguido por uma descrição a partir de um verbo Akuwẽ zi’èò, cognato do Xavante tsi’ahöri ‘combater’ (< *tsi-kahö-ri lit.: ‘bater entre si’). Palavra de aspecto misto
aspikîa ‘mulher’: Mais uma palavra que sofreu fusão, nesse caso, parece que os falantes confudiram pikwa ‘mulher’, um cognato do Xavante pi’õ (< *pikõ) com um cognato do Cayapó do Sul insipiá ‘mulher’, gerando as formas aspikiá e spikwais (-is ‘plural’ provavelmente do português), demonstrando a característica mista da língua Terejê.
pikûa ‘homem’: Essa forma provavelmente surgiu por processos similares ao de cima, a palavra Cayapó do Sul para ‘homem’ é impuaria ou puara, cujo nesse caso sofreu influências fonéticas de pikwa ‘mulher’.
atisèrè ‘terra’: Cognata direta do Xavante ti’a ‘terra’ (< *tika), parece que havia uma ênfase na descrição da terra como local dos camotins, pois o verbo sêrê ‘colocar, meter’ é diretamente cognato do Xavante tsẽrẽ ‘colocar, meter’, mas existe a possibilidade de ser uma expressão antiga que significa ‘colocar os pés’ ou ‘viver’. O a- inicial é cognato do Jê Setentrional *a- ‘terra’ (usado em compostos), assim a-ti-sêrê ‘terra-terra-colocar’.
bari ‘fumo, tabaco’: Cognato direto do Akuwẽ warῖ ‘fumo, tabaco’, note que a língua Xokó modificou o /w/ para /b/, isso é um aspecto típico das línguas Jê Setentrional, que transformaram todos os seus antigos /w/ em /b/.
basîiu ‘cachorro”: Possivelmente derivado do Xavante watsihu ‘desamarrar, soltar’, note três evoluções na palavra /w/ > /b/, perda do -h- medial e a fricativização de /ts/ > /ʃ/, assim: watsihu > batsiu > bashiu
kra- ‘classificador de objetos redondos’: Assim como surge no Kariri (kro-/klo-) e Tarairiú (kla-), esse morfema surge classificando objetos redondos, como astros. Deriva de um cognato do Xavante ‘rã ‘dar frutos’ (< *krã), surge como sufixo classificador no Xerente -krã, também classificando objetos redondos.
kra-sîulò ‘sol’: kra- ‘classificador de objetos redondos’ + sîu-lô, duas palavras diferentes, a primeira sendo cognata do Xavante tsu ‘suor’ e do Xerente su ‘queimar’ + lô, cognato do Xavante ro/ro’o ‘luz’, assim sîu-lò ‘queimar-luz’ ou ‘suor-luz’, portanto ‘luz que queimar, luz de calor, luz de suor’.
kra-ûawe/kri-ûawi ‘lua’: kra-/kri ‘classificador de objetos redondos’ + wave/wavi ‘riscar’, fazendo referência aos ‘riscos’ da lua, que são suas crateras. Cognato do Xavante wawi ‘risco, riscar’:
a-koma ‘grande’: Composto entre o prefixo Jê Setentrional a- ‘argumento genérico’ + koma ‘afastado de’, cognato do Xavante ‘ãma ‘afastado de’, assim a-koma ‘coisa afastada, grande’.
tulîuso ‘dente’: Composto de tulîu ‘rosto’, este provavelmente sendo uma verbalização de tu ‘olho, rosto’, na forma não-finita, assim tu-r > tu-lîu ‘olhando, vendo, observando’ + so ‘morder’, cognato do Xavante tsa ‘morder’.
tulîusò ‘olho’: Composto de tulîu ‘rosto’ + sò ‘olhar, ver’, cognato do Xavante tsãmri ‘ver’.
wêsirê ‘pé’: Composto de wêsi ‘mexer’ + rê ‘mexer’, cognatos do Xavante watsi ‘mexer, misturar’ + ré ‘mexer, chocalhar’
GRUPO JÊ SETENTRIONAL (6 PALAVRAS)
sabûe ‘arco’: bûe corresponde foneticamente com o Kariri buicu ‘flecha’ e o Maxakali pohox ‘flecha (pronunciado pohoy, sendo que sílabas -hV- são extensões no Maxakali, portanto derivam de sílabas menores, assim *pox /poj/ é o ancestral dessa palavra), também corresponde com o Boróro boeiga ‘arco’, cujo Albissetti especula ser boe ‘coisa’ + iga ‘arco’. É difícil dizer se bûe nesse contexto significa ‘arco’ ou ‘flecha’, levando em consideração a divergência entre o Kariri e o Boróro, que parecem derivar seus significados diferentes de uma mesma palavra ancestral
Existe a possibilidade do Xokó, Kariri e Boróro derivarem a sílaba comum entre eles de um cognato do PJS *po-cê ‘taquara, flecha’:
Note que em nenhum dos descendentes do Proto-Jê Setentrional, o som de /c/ é preservado, transformando-se ou em /ʔ/ ou /h/, é possível que bûe/boe/bui derivem de uma variante que transformou /c/ em /h/, visto as comparações antigas com o Boróro e o Mehime, as comparações que já fiz entre o Kariri e o Mehime e a presença de vocábulos de origem Jê Setentrional no Xokó, possivelmente o ancestral da palavra supracitada sendo de um dialeto do Canela.
Figura: Canela Apãniekrá para ‘bambu’. Alves, 2004, p. 172
O morfema sa é que discuti antes, podendo ser descendente de um cognato do Xavante tsãmra ‘atirar, jogar’, assim sa-bûe ‘atirar-flecha’ ou ‘atirar-arco’, assim ‘que atira flecha’ ou ‘arco de atirar’, esse mesmo morfema surge no Kipeá na forma de tçè ‘atirar’.
ikrâ ‘machado’: Cognato do Jê Setentrional krã-mẽ ‘cabeça-arremesar’ > ‘machado’, a palavra sofreu redução silábica, possivelmente por intermeio de: krã-mẽ > krã-m > krã > kraː (krâ) > i-kraː (ikrâ) ‘3-machado’
a-wèlîa ‘boca’: Composto entre o prefixo Jê Setentrional a- ‘argumento genérico’ + wẽr ‘dizer, falar’, cognato do Wakonã bêlê ‘dizer’
màzi’èò ‘homem’: Essa palavra também é mista, primeiro surge a palavra mà ‘gente, PL’, cognato do Jê Setentrional mẽ ‘gente, PL’, seguido por uma descrição a partir de um verbo Akuwẽ zi’èò, cognato do Xavante tsi’ahöri ‘combater’ (< *tsi-kahö-ri lit.: ‘bater entre si’). Palavra de aspecto misto
atisèrè ‘terra’: Cognata direta do Xavante ti’a ‘terra’ (< *tika), parece que havia uma ênfase na descrição da terra como local dos camotins, pois o verbo sêrê ‘colocar, meter’ é diretamente cognato do Xavante tsẽrẽ ‘colocar, meter’, mas existe a possibilidade de ser uma expressão antiga que significa ‘colocar os pés’ ou ‘viver’. O a- inicial é cognato do Jê Setentrional *a- ‘terra’ (usado em compostos), assim a-ti-sêrê ‘terra-terra-colocar’. Palavra de aspecto misto.
ati’a ‘fogo’: essa palavra, já em sua forma documentada, é mista, pois utiliza de um prefixo que não existe nas línguas do grupo do Panará, que é o prefixo a- ‘argumento genérico’, sendo este do Jê Setentrional. A palavra, no entanto, parece ter entrado na língua sem a remoção do prefixo de terceira pessoa ti-, que marca que esse lexema é um verbo (cf.: Cayapó do Sul: tikaa ‘queimar’), ou talvez, tal fosse a forma de nominalização de verbos nessa língua mista. Palavra de aspecto misto.
INFLUENCIADO PELO SOTAQUE JÊ SETENTRIONAL, /W/ > /B/ (2 PALAVRAS)
basîiu ‘cachorro”: Possivelmente derivado do Xavante watsihu ‘desamarrar, soltar’, note três evoluções na palavra /w/ > /b/, perda do -h- medial e a fricativização de /ts/ > /ʃ/, assim: watsihu > batsiu > bashiu
bari ‘fumo, tabaco’: Cognato direto do Akuwẽ warῖ ‘fumo, tabaco’, note que a língua Xokó modificou o /w/ para /b/, isso é um aspecto típico das línguas Jê Setentrional, que transformaram todos os seus antigos /w/ em /b/.
Autor da matéria: Ari Llusan
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