Desde o ano de 1882, parte do povo Xocó já havia buscado abrigo na Aldeia dos Kariri de Colégio, situada na Província de Alagoas, como forma de proteger-se das violências e pressões exercidas pelos colonizadores e coronéis da região. Entre os que permaneceram inicialmente na Ilha de São Pedro, no município de Porto da Folha, Província de Sergipe, estavam o cacique Inocêncio Muirá e seu primo, Manoel Muru, também conhecido como Manoel Lapada.
Movidos pelo amor à terra natal e pela resistência cultural, ambos decidiram retornar à ilha, mesmo diante das ameaças constantes dos interesses expansionistas dos coronéis locais, que contavam com o respaldo das leis e das forças imperiais. Naquele momento, cerca de cinco famílias ainda permaneciam na ilha, resistindo à ocupação e à expulsão.
Inocêncio e Manoel lideraram a resistência contra os colonizadores, lutando em defesa do território ancestral do povo Xocó. Contudo, a superioridade bélica e política dos coronéis, respaldada pela estrutura jurídica do Império, inviabilizou a permanência do grupo. A Ilha de São Pedro, antes repleta de vida, foi gradativamente esvaziada. Restaram poucos sinais da presença humana: animais domésticos abandonados — gatos, cachorros, galinhas e patos —, que vagavam pela ilha, simbolizando o lamento silencioso da diáspora forçada.
Em 1899, após anos de resistência e esgotadas as possibilidades de permanência, Inocêncio Muirá e Manoel Muru também deixaram a ilha, descendo o Rio São Francisco em busca de novos espaços de acolhimento. Manoel Muru optou por fixar residência na Aldeia Kariri de Colégio, integrando-se definitivamente à comunidade que já abrigava grande parte do povo Xocó.
Por sua vez, Inocêncio Muirá, ciente de que era uma figura marcada pelos coronéis e politicamente visado, preferiu estabelecer-se no povoado de Carrapicho, em Vila Nova, também na Província de Sergipe. Essa decisão visava manter-se a uma distância segura da cidade de Propriá, situada defronte à Aldeia de Colégio, e epicentro do poder dos coronéis responsáveis pela tomada das terras dos Xocó.
Um dos principais representantes desse poder era o coronel João Profírio, cuja influência política e econômica na região representava um obstáculo à segurança e à permanência de lideranças indígenas como Inocêncio.
Somente após a morte do coronel João Profírio, ocorrida em 1916, o contexto político e social sofreu alterações significativas, permitindo que Inocêncio Muirá pudesse finalmente retornar à Aldeia dos Kariri de Colégio, de onde seu povo nunca deveria ter sido afastado.
Lá, Inocêncio viveu seus últimos anos, restabelecendo os laços com seus parentes e com o território cultural e espiritual do povo Xocó. Faleceu em 1936, encerrando uma trajetória marcada pela resistência, pela luta em defesa do território tradicional e pela preservação da identidade de seu povo frente às adversidades impostas pelo colonialismo e pelo sistema agrário da época.
A história de Inocêncio Muirá e de Manoel Muru representa um capítulo exemplar da resistência indígena no Nordeste brasileiro, evidenciando a complexa relação entre os povos originários e as forças políticas regionais durante o período final do Império e as primeiras décadas da República.
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho da capa no dia 26 de maio de 2025.
Nenhum comentário:
Postar um comentário