No princípio dos tempos, quando o vazio ainda era silêncio e escuridão, Sonsé, o Grande Criador, ergueu-se no infinito.
E com voz profunda e poderosa, proclamou ao nada:
— "Que se faça o mundo sagrado, a aldeia espiritual de onde tudo brotará: Raddanantoan!"
Num instante, luzes de pura essência se acenderam, dançando em espirais, formando a aldeia invisível aos olhos futuros, mas eterna na morada dos espíritos. Era um lugar de equilíbrio, onde o tempo não corria e o ser não precisava de forma.
Contemplando sua obra, Sonsé sentiu que era bom, mas incompleto.
Então, novamente, elevou sua palavra criadora:
— "Que da essência invisível brote também o mundo material, para que os seres possam tocar e ser tocados: Raddasanè!"
E assim surgiram os rios que rasgaram a terra, as montanhas que se ergueram até o céu, e os ventos que sopraram os primeiros cantos da existência.
Mas Sonsé, sábio, sabia que a criação precisava de guardião, alguém capaz de ver com olhos que nenhum outro ser possuiria. Assim, retirou de si uma centelha viva, moldando com suas próprias mãos a figura luminosa de seu filho.
— "Meu filho, Çasonsé, tu serás o Olho de Deus. Verás tudo: o que nasce e o que morre, o que cresce e o que se desfaz. A ti confio Raddasanè, para que continues minha obra e mantenhas o equilíbrio entre o espírito e a matéria."
Çasonsé abriu os olhos pela primeira vez, e ao fazê-lo, a luz se espalhou ainda mais pelo mundo recém-criado. Olhou para o pai e disse:
— "Honrarei tua vontade, meu pai. Onde houver movimento, ali estarei. Onde houver vida, ali verei. Serei a vigília eterna entre o que é e o que será."
Sonsé sorriu, e com um sopro suave lançou Çasonsé sobre Raddasanè. O filho pousou entre as árvores e as pedras, caminhou pelos rios, escalou as montanhas e mergulhou nas profundezas da terra, abençoando cada lugar com sua visão protetora.
Durante eras incontáveis, Çasonsé trabalhou silenciosamente, guiando as forças da natureza, até que, um dia, voltou-se para o céu e perguntou ao pai:
— "Pai, e quanto àqueles que herdarão esta terra? Não é chegada a hora?"
E Sonsé, com voz serena como o sopro da brisa sobre as águas, respondeu:
— "Sim, meu filho. Agora que a casa está pronta, chamemos aqueles que irão caminhar sobre ela."
Então, Sonsé, com seu hálito divino, soprou sobre Raddasanè, e do barro e da folha, da água e da chama, surgiram os primeiros humanos. Homens e mulheres despertaram, ouvindo no fundo de suas almas a voz ancestral:
— "Filhos e filhas da terra, lembrai-vos: fostes criados do mundo visível, mas trazem em si a centelha do mundo espiritual. Çasonsé, o Olho de Deus, sempre vos verá e protegerá."
E desde então, o povo Kariri-Xocó carrega em sua memória sagrada esta história, sabendo que há olhos invisíveis que os guiam, e que o mundo é um encontro perpétuo entre o espiritual e o material.
E quando os pajés, ao redor do fogo, contam esse mito, dizem em uníssono:
— "Ainda hoje, Çasonsé observa. Ainda hoje, Raddanantoan brilha. E ainda hoje, Sonsé cria."
Autor: Nhenety Kariri-Xocó
Consultado por meio da ferramenta ChatGPT (OpenAI), inteligência artificial como apoio para elaboração do trabalho da capa no dia 26 de maio de 2025
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